Militares do Exército já realizam operações para combater garimpo ilegal em Roraima - Foto: Exército Brasileiro

Depois de 25 anos enxugando gelo, a atual ação de combate ao garimpo em Roraima acumula três meses de aparente sucesso. Nesse período, o Exército já registrou 1.900 garimpeiros que deixaram a Terra Ianomâmi, apreendeu 750 quilos de ouro, junto com diversos veículos, motores, armas e víveres, provocando a redução visível na mineração ilegal.

Agindo nas cidades da região, a Polícia Federal apreendeu aeronaves e prendeu vários empresários ligados a atividades ilegais da cadeia de produção do ouro ilícito, como Pedro Emiliano Garcia, condenado por genocídio no “Massacre de Haximu”, em 1993, hoje dono de aviões que voam clandestinamente para a área indígena.

Também participam da operação conjunta o Ministério Público Federal e a Justiça Federal -que emitiu 77 mandados judiciais, entre os quais 29 de prisão-, o Ibama, a Polícia Militar de Roraima e a Anatel (agência federal reguladora das telecomunicações).

Desde que o tráfico de ouro ilegal se intensificou, a partir de 2008, as ações do poder público na área ianomâmi foram sempre pontuais e rápidas. Os garimpeiros aprenderam a escapar delas, mantendo-se em esconderijos bem abastecidos dentro da floresta. Com isso, o número de invasores e as áreas de degradação ambiental não pararam de crescer em dez anos.

A novidade da atual operação foi a decisão do comando da Primeira Brigada de Infantaria de Selva do Exército, em Boa Vista, de implantar em agosto bases permanentes de vigilância às margens dos dois principais rios (Uraricoera e Mucajaí) que são a rota normal de entrada e saída do garimpo na área.

Terra indígena alvo da operação. Google Maps.

O comandante militar da Brigada, general Gustavo Henrique Dutra, só anunciou a implantação das bases permanentes depois que a operação já havia começado. Com isso, a fuga dos garimpeiros para esconderijos dentro da selva não seria um problema para o sucesso da ação.

“Talvez eles pensem que nós vamos ficar pouco tempo aqui. Mas, como teremos presença por prazo mais longo, eles vão começar a sair e descer para Boa Vista”, disse Dutra à Folha em agosto.

Com isso, por mais preparados que pudessem estar em agosto, os esconderijos dos criminosos não tinham estocados alimentos para três meses ou mais. Depois de algumas semanas, barcos do garimpo começaram a descer o rio em direção à capital, Boa Vista. Ao chegar à base do Exército, eles são revistados: armas, ouro e equipamento de garimpo são apreendidos. Depois de identificadas, as pessoas são liberadas.

Ao registrar os trabalhadores ilegais, a operação serviu para afastar também a hipótese de que a imigração venezuelana estivesse por trás do aumento do garimpo -em três meses, o aumento dos garimpos na área ianomâmi se explicaria pela presença de trabalhadores venezuelanos. Desde o início da operação, só foram encontrados 35 venezuelanos, em meio a quase 2.000 brasileiros.

A mineração ilegal na área indígena ianomâmi teve seu auge no fim dos anos 1980, durante o governo José Sarney (1985-1990), quando estimados 40 mil garimpeiros correspondiam ao dobro da população indígena.

Logo após a posse, o governo Fernando Collor iniciou uma grande operação de retirada dos invasores e o garimpo desapareceu ou se tornou quase invisível.

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