Mariana Cunha: "Tudo que foi conquistado nos últimos 18 anos pelos negros tem que ser respeitado". Foto: Acervo pessoal

A data foi criada para prestar uma homenagem aos afrodescendentes e ressaltar o papel do negro no meio político, social, econômico e cultural. Para a antropóloga e professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Mariana Cunha Pereira, o Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, nada mais é do que conscientizar a população sobre o racismo e o preconceito que continuam evidentes, mesmo depois de 130 anos após a abolição da escravatura.

Para Mariana, falar em conquistas para população negra no Brasil é preciso lembrar o que aconteceu no país até finais dos anos 90. Segundo ela, ocorria uma total invisibilidade da população negra, uma normalidade quanto às situações de racismo que ocorriam nas ruas, nas escolas e nos meios de comunicação.

“Mas, desde então, por força do movimento negro, se iniciou um conjunto de debates, críticas e posicionamentos em defesa do povo negro no Brasil. Do reconhecimento dos seus direitos sociais até, então, associados à tolerância e não a participação de fato na composição etnica-racial do país. Avanços no campo da educação, saúde e direitos territoriais começaram a ser respeitados diante ao que está posto na Constituição de 1988, que reconhece o Brasil como um país de identidade plural”, ressaltou.

Sobre o que pode ser melhorado ou implantado, a antropóloga disse que tudo que foi conquistado nos últimos 18 anos pelos negros, embora ainda muito pouco, tem que ser respeitado. “Como, por exemplo, as cotas raciais; as bolsas de estudos para alunos quilombolas; as políticas de saúde para a população negra que estavam sendo implementadas; a vigilância e o cuidado com a produção de linguagens artísticas que não reproduzam esteriótipos racistas, ou seja, que continuemos realizando políticas públicas que favoreçam os negros, afinal o Brasil é um país negro”, ressaltou Mariana.

A antropóloga comentou que os negros não devem ser tratados de forma discriminatória em nenhuma expressão artística (música, cinema, novelas, entre outras), e nem em espaços de atendimento público como as escolas, hospitais, posto de saúde, repartições públicas, etc. “Se você utiliza linguagens discriminatórias, você está educando as gerações seguintes a continuarem reproduzindo a discriminação racial”, frisou. Ela acredita que é possível sim fazer um país e uma educação antirracistas, respeitando e pensando no que disse Nelson Mandela ‘se uma criança pode ser ensinada a ser racista desde pequena, então a gente também pode ensiná-la a ser antirracista’.

“Não podemos desrespeitar o outro pela cor da pele, da religião que pratica ou qualquer outro tipo de manifestação que a identifique pela sua cultura de raça, negra, indígena. Esperamos o respeito ao que já foi conquistado e que consigamos cada vez mais valorizar toda a composição da população brasileira”, disse Mariana.

Quanto à expectativa para o próximo governo de Jair Bolsonaro que, aliás, já deu declarações demonstrando um preconceito racial aos negros e outras minorias, Mariana afirmou que está preocupada, mas quer acreditar que essa nova gestão também seja direcionada para essas populações, até para que as pessoas tirem esse conceito negativo que foi criado pelo próprio novo presidente. “Espero que seja um governo positivo e que ações a serem implementadas não retirem o direito de eles terem os direitos sociais”, finalizou.

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