Imagens de incêndios tornaram-se corriqueiras em Roraima (Foto: Divulgação/Ibama)

Em alguns dias, o inverno roraimense irá se estabelecer para finalmente as chuvas acabarem com a seca que assola o Estado de Roraima e debelarem por completo as queimadas que destruíram boa parte da vegetação e da fauna roraimenses. Esse é o ciclo do fogo ao qual estamos acostumados a cada verão. O que não muda é a incompetência dos governantes para lidar com essa questão.

Não bastou a lição das grandes secas históricas nos últimos 40 anos, em 1972, 1985 e 1998, seguidas da tragédia dos incêndios, queimadas que saem do controle e prejuízos econômicos, principalmente para os pequenos e médios produtores, além de famílias agricultoras que, sem saber como recomeçar, venderam suas propriedades para grandes produtores a preços vis. Porém, a cada troca de governo todo o trabalho anterior de prevenção e controle de queimadas tem que recomeçar do zero, deixando os órgãos desmobilizados e apáticos, sem saber o que fazer para enfrentar a seca e o fogo.

A situação neste ano complicou ainda mais porque o governo estadual entrou perdido, sem saber que rumo tomar, não bastasse o desmonte de estrutura que havia sido montada desde a grande seca de 1998. De lá para cá, na medida em que novos governos entraram, mais desmobilizado o trabalho ficou. Pior: o governo Bolsonaro assumiu com propostas antiambientais, desmobilizando a estrutura mínima que já havia no Instituto Brasileiro dos Recursos Renováveis e do Meio Ambiente (Ibama). A crise é tão séria que se prolonga no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

As prefeituras do interior, por sua vez, além de não terem recursos nem estrutura para encarar os problemas, são tomadas por políticos incompetentes ou sem vontade de trabalhar. Aí, as consequências catastróficas ampliam-se, sem quaisquer perspectivas de que esse quadro mude em um futuro muito próximo. De outro modo, com a chegada do inverno, as chuvas passarão a ser o novo tormento e tragédia para as populações, em especial os pequenos produtores rurais nesses mais longínquos torrões roraimenses.

A questão da seca e do fogo é muito mais séria do que se imagina, embora as autoridades façam cara de paisagem para o problema. A seca atinge de morte os pequenos cursos de águas que ajudam a alimentar a nossa bacia hidrográfica, já gravemente ameaçada pelos garimpos clandestinos. O fogo destrói as matas e outras vegetações que mantém vivos os lagos e igarapés. O Rio Branco, por sua vez, está dando sinais sérios, com diminuindo de sua largura, formação de imensos bancos de areia que aumentam a cada ano, complicando a navegação e prejudicando a pesca.

O alerta vem sendo dado há tempos, mas as autoridades não querem ouvir. E o que chama a atenção é que o Governo do Estado está nas mãos de grandes produtores, os quais são atingidos também pelas severas variações climáticas, o fogo e o garimpo predatório que se estabeleceram nos principais rios de nossa bacia hidrográfica. Parece que eles acham que o dinheiro pode resolver tudo. Mas a natureza vem dando seguidos recados de que todo castigo para quem não a ouve é pouco. Se atitudes e ações não forem tomadas, então esperemos e vejamos o que nos reserva o futuro bem próximo…

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

jesseroraima@hotmail.com

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