Jessé Souza*

O relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão que reúne os arapongas oficiais, documento este que serviu para o Governo Federal decretar intervenção em Roraima no final do ano passado, com a nomeação do então governador eleito, Antonio Denarium, foi bem claro: o que pesou muito na decisão foi o fato de o sistema prisional roraimense em colapso se transformasse em novo palco de massacre de presidiários, divididos entre facções criminosas.

A intervenção não teve como preocupação principal o servidor público passando necessidade devido ao salário atrasado. Nem a imigração desordenada. Nem a criminalidade galopante no Estado. Tudo isso está no relatório da Abin, porém, o Governo Federal estava preocupado mesmo era com a possibilidade de um novo confronto entre facções nos presídios, que poderia deflagrar novos conflitos generalizados em outros estados, cujas penitenciárias também estão dominadas pelo crime organizado.

Naquele momento, um novo capítulo nessa guerra entre facções iria complicar também a situação do crime no Rio de Janeiro, que estava com a Segurança Pública sob intervenção federal. E o então presidente Michel Temer não iria queria terminar seu pífio governo em meio a presídios conflagrados pelo crime organizado, sem ele pode dizer que sua administração agiu para pacificar o Rio de Janeiro, com a ajuda do Exército, o que ele considerava um grande feito de sua administração.

Mas não havia outra forma de solucionar a grave crise em Roraima, especialmente o atraso dos salários dos servidores roraimenses, senão pela intervenção. Então, o plano veio bem a calhar para a estratégia de segurar os presídios roraimenses, uma vez que a intervenção apenas nos presídios e na Segurança Pública, com servidores em protesto, não iria funcionar. E assim foi decidida a intervenção em Roraima.

Só para refrescar a memória, a intervenção foi seguida de duas operações da Polícia Federal, quando o roraimense torceu para fosse o início do saneamento imediato do Estado, com a garantia do bem-estar do funcionalismo, que é base da economia local, e a desratização do Estado. Porém, o que ocorreu até aqui foi o salário em dia do servidor, mas não percebemos mais a continuidade da desinfecção do governo.

Um forte exemplo é a situação da saúde pública, cujo então secretário da pasta, Ailton Wanderley, deixou o cargo atirando para todos os lados, fazendo graves denúncias de corrupção no setor. No entanto, pelo que percebemos, o tempo está passando e o assunto está caindo no esquecimento. Ninguém fala mais sobre a gravidade do que foi levado à tona.

Assim como chegamos a acreditar que a intervenção federal seria o início de uma grande mudança, é necessário voltar à cobrança para que esse governo cumpra sua promessa de mudança e moralização. Já estamos pagando um preço muito caro pelo fato de o governo passado não ter agido para sanear os cofres públicos. Ou a indignação só ocorre quando o salário atrasa?

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefat.com.br

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