Terra Indígena em Roraima. Foto: Rogério Assis/ISA

A invasão de garimpeiros às terras indígenas do povo Yanomami, ao Norte de Roraima, não é exatamente uma novidade, mas esse grave problema aumentou de forma alarmante desde o início do governo Bolsonaro (PSL), que antes mesmo de se eleger mantinha o discurso em favor da abertura dos garimpos e contra a demarcação de novas terras indígenas. Encorajados pela posição do novo governo, as invasões se fortaleceram.

Atualmente, são cerca de 20 mil garimpeiros em várias regiões da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, um fato preocupante que atinge em cheio uma das populações mais desprotegidas por terem pouco contato com a sociedade envolvente. E que ninguém pense que se trata apenas de uma preocupação dos índios e seus aliados. O problema diz respeito a toda população de Roraima, pois nessas áreas devastadas estão os principais mananciais que fornecem água potável do Estado.

Nova denúncia sobre a invasão garimpeira foi feita pelas lideranças indígenas, acompanhadas de Davi Kopenawa, em Brasília, que pediram providências a autoridades do governo Bolsonaro em audiências nos dias 14 e 15, nos ministérios da Justiça e da Defesa, além da Fundação Nacional do Índio (Funai). Os relatos são estarrecedores.

Enquanto os índios sofrem o impacto imediato, com a destruição dos rios por meio do desmatamento, assoreamento e poluição por meio de mercúrio e óleo diesel dos motores, os reflexos dessa ação criminosa e predatória representam um grave problema futuro para toda população do Estado, já que esses rios agredidos por garimpeiros são afluentes do principal manancial de Roraima, o Rio Branco, que abastece a Capital e outros municípios.

As comunidades ribeirinhas desses rios em regiões mais próximas das terras indígenas começaram a sentir os efeitos, como água barrenta que afugenta os peixes, principal base alimentar dessas populações, bem como praias tomadas por uma lama espessa que prejudica os balneários públicos, único ponto de lazer de alguns desses locais.

Em Boa Vista, as águas com turbidez elevada e praias tomadas pela lama passaram a ser vistas em todos os balneários públicos (Cauamé, Curupira, Polar e Caçari), inclusive na Praia Grande, um dos pontos turísticos da cidade. O mesmo ocorre em Mucajaí e Caracaraí, outras duas cidades que têm o Rio Branco como principal ponto de lazer e atividade econômica, principalmente a pesca.

Se a garimpagem ilegal não for contida de forma urgente, teremos outras graves consequências em um futuro bem próximo: migração em massa de índios Yanomami para as cidades, como já ocorre em Mucajaí, principalmente, e secas cada vez mais severas que irão baixar ainda mais o nível das águas do Rio Branco, o que significará drásticos problemas de abastecimento de água potável para Boa Vista e outras cidades.

Sem contar com a dizimação de populações indígenas junto com seus saberes tradicionais, aumento de gastos com assistência à saúde desses povos e destruição de um dos maiores patrimônios biogenéticos, junto com o desmatamento e a escavação do leito dos rios no meio das florestas nativas. Apesar disso tudo, o Governo Federal fecha os olhos para esta realidade e, para piorar, parlamentares roraimenses adotam o discurso de abertura de garimpo como forma de esconder a falta do que fazer em Brasília.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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