Fabiano ao lado de professores e colegas de curso após apresentar o TCC. Foto; Arquivo pessoal/Luís Müller Posca

Dez! Essa foi a nota que o acadêmico Fabiano Ferreira Lucena, de 34 anos, recebeu ao apresentar o trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), na última terça-feira, 2 de julho.

A nota máxima representa não apenas a aprovação, mas uma conquista pessoal para o estudante que tem encefalopatia crônica, uma paralisia cerebral que adquiriu logo ao nascer. O estudante tem um ritmo diferente de aprendizagem e dificuldades na fala.

“Nunca desistam dos sonhos de vocês”, declarou O ACADêmico fabiano Lucena.

Com o tema “Inclusão no Ensino Superior: Um estudo sobre o processo de inclusão no Curso de Artes Visuais da UFRR”, Fabiano contou na monografia sua própria história. O trabalho orientado pelo professor Luís Müller Posca foi dividido em dois elementos, sendo um memorial escrito e um videodocumentário.

No vídeo etnográfico de aproximadamente 25 minutos, o estudante traz relatos do corpo docente e de colegas de turma sobre o tema inclusão e a convivência com um aluno portador de necessidades especiais. Recortes sobre a participação dele na universidade também são mostrados. Tudo sob a narrativa de Fabiano.

“Esse trabalho eu comecei a fazer no laboratório de programação visual. Tinha que fazer um trabalho visual, eu dei a ideia que eu ia fazer o documentário da minha vida. Nesse vídeo eu fui atrás de professores para entrevistar. Em cima desse vídeo, o professor disse que eu podia fazer nessa mesma linha o meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]”, contou o acadêmico sobre o processo de elaboração do trabalho.

Mas até chegar no ‘dez’, a trajetória de Fabiano pela instituição de ensino não foi tão fácil. Logo na prova do vestibular, o estudante, que veio de escola pública, conta que ouviu de uma fiscal de sala que a UFRR não estava pronta para receber um aluno com necessidades especiais. Ao iniciar as aulas, outra barreira: não havia profissionais para acompanhá-lo.

“Quando eu entrei, em 2015.2, eu senti um impacto tão grande, porque eu vi que os professores não estavam preparados para receber um aluno com necessidades especiais. Eu tinha que falar com os professores. Quando eu me inscrevi, a minha ficha estava com a informação, mas não foi repassado”, contou.

Na porta da sala que ganhou na UFRR para estudar ao seu tempo. Foto: Roraima 1

Persistente, Fabiano ingressou com uma medida judicial e conseguiu para que a instituição direcionasse uma monitora para acompanhá-lo no período acadêmico. Agora, ele é o único estudante da turma a se formar no tempo previsto da grade, segundo informou o professor Luís Müller.

O professor também conta que o trabalho de Fabiano foi direcionado na vontade do estudante de contar sua história. Diante à experiência com inclusão ainda na Educação Básica, orientador e aluno montaram cronograma, focaram nas etapas e junto à monitora iniciaram os trabalhos.

“Quando eu entrei no curso, o Fabiano estava no 5º semestre e eu trabalhei com ele nas disciplinas de estágio. Logo eu e Fabiano tivemos uma empatia pelo outro, e ele me convidou para ser orientador dele. A minha tarefa foi direcionar as leituras. Tivemos uma organização focando nos dois momentos [texto e vídeo], criamos cronograma e Fabiano se organizou para entrevistar os colegas”, relatou Müller.

Próximos passos
Apaixonado pela licenciatura, Fabiano está decidido a seguir a carreira de docente, algo que ele conta ser uma vontade quando ainda estava no ensino médio, e iniciar no mestrado. “Quero ser um bom professor, tentando levar uma aula diferente para os adolescentes, as crianças. Aonde eu for, eu vou levar uma aula totalmente diferente”, disse.

Fabiano fez videocumentário para contar trajetória acadêmica na UFRR. Foto: Roraima 1

O trabalho de Fabiano deve ser publicado nos próximos dias no Congresso Nacional da Federação de Artes Educadores do Brasil (ConFAEB) que, neste ano, será na cidade de Manaus (AM).

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