Qual o verdadeiro interesse do presidente Bolsonaro (PSL) por Roraima? Até ser eleito, só haviam comentários bem ornados de que o novo governo, eleito sob a bandeira da ética, da moralização da política e de um novo país, teria o nosso Estado como um laboratório para consertar o Brasil, já que somos o mais pobre e o menor do país populacionalmente, onde tudo é relativamente novo e de fácil conserto.

Durante a campanha eleitoral, não faltaram paqueras e discursos eloquentes sobre Roraima e suas riquezas, com a sensação de que poderíamos ter, finalmente, um presidente consciente da existência e da importância desse Estado no extremo Norte brasileiro. Eleito, Passaram-se seis meses e já recebemos por aqui várias visitas de ministros e até uma comissão parlamentar encabeçada pelo filho de Bolsonaro. Mas…

Não era bem assim. Fatos passados poderiam servir de pista. O ministro astronauta Marcos Pontes já conhecia Roraima e prometeu que iria implantar aqui um Estado-modelo para o mundo. Não só ele desapareceu, como até hoje, mesmo sendo ministro,e nunca mais pisou os pés de volta. O mesmo parece estar acontecendo com o Bolsonaro, que não fala mais em Roraima e sequer se esforça para assumir a responsabilidade do Governo Federal na interiorização de migrantes venezuelanos que chegam em massa pela fronteira.

As falas empolgadas sobre Roraima começaram a mirrar depois que, coincidentemente, o primo dos filhos do presidente, Léo Índio, foi nomeado assessor do senador Chico Rodrigues (DEM), indicado vice-líder do governo. Até antes de o governo Bolsonaro começar a desandar, havia quem achasse que Índio seria uma ponte para ajudar o Estado a finalmente sair do buraco. Puro engodo.

Conforme matéria divulgada pelo jornal Estado de São Paulo, na edição de ontem, Léo Índio tem usado seu cargo bem remunerado, no gabinete do senador roraimense, para atuar como “espião” do governo Bolsonaro para caçar “infiltrados e comunista” país afora. Com passe-livre na Presidência, ele estaria montando um dossiê de caça às bruxas aos moldes antigos da ditadura.

A notícia surge em meio ao vendaval de críticas ao governo que se elegeu pregando a meritocracia, com o fim de indicações políticas e nepotismo, e o sepultamento da “velha política”, mas que usou o fisiologismo na liberação de bilhões de reais em verbas para que deputados aprovassem a reforma da Previdência, mostrou intenção de indicar o filho do presidente para embaixador nos Estados Unidos, cujo mérito é ter fritado hambúrguer no frio norte-americano, e a indicação de um primo num gabinete do senador roraimense para servir com espião.

O que chama a atenção é um político aceitar isso com naturalidade, com uma subserviência de quem sequer mostra força para negociar nada em favor da população de Roraima. Mas não é de se estranhar esse silêncio, pois Chico Rodrigues viveu eternamente em mandados eletivos, sem que os eleitores saibam o que ele realmente fez desde 1989, quando eleito vereador por Boa Vista. Logo em seguida, em 1991, foi eleito deputado federal, cargo que ele ocupou por duas décadas, até sair em 2011 para ser vice-governador.

Como vice, obviamente que nada fez, como é de praxe em tal cargo. Depois de reeleito, chegou a assumir o governo de Roraima até dezembro de 2014, cujo maior feito foi ter anunciado que iria ser embaixador do programa policial “Ronda no Bairro”, país afora, algo que nunca ocorreu. Aliás, esse programa nem existe mais em Roraima, muito menos no Amazonas, onde foi criado. Ao reaparecer como candidato ao Senado nas eleições passadas, Chico Rodrigues acabou surpreendentemente eleito com uma histórica votação, jamais esperada inclusive por ele mesmo.

Como sempre esteve vivendo de mandatos eletivos, passando despercebido e sem grandes feitos (a não ser fazendo barulho como adepto da teoria da conspiração da internacionalização da Amazônia e defensor do garimpo), o que o povo espera é que Chico Rodrigues finalmente retribua com um mandato de senador à altura do que o Estado de Roraima precisa, merece e espera dele. Não queremos que ele encerre sua carreira política como um parlamentar bem votado que emprestou seu mandato para servir de quartel-general de um “espião caça-comunista”.

Ainda dá tempo para refazer tudo.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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