Há algo de muito estranho nessa questão da chegada em massa de venezuelanos que tem sufocado Roraima, em especial o município fronteiriço Pacaraima, ao Norte de Estado, e Boa Vista. Embora a Capital abrigue a maior parte da população roraimense e tem recebido a maior parcela dos estrangeiros, a prefeita Teresa Surita (MDB) se nega a discutir com as demais autoridades o enfrentamento a este problema.

A prefeita, que se gaba de sua popularidade nacional e internacional por suas ações em favor da infância, também não mostra qualquer vontade de ser uma embaixadora informal para levantar esta bandeira para o mundo. Afinal, Boa Vista já havia zerado o número de crianças em situação de rua e tinha tudo para ser modelo na educação infantil, mas a imigração trouxe outra realidade, desta vez sombria, com o ressurgimento de crianças pedindo nos semáforos, feiras-livres, comércio e estacionamento.

Ou será que essa fama que Teresa transborda em suas redes sociais e institucionais seria apenas uma criação de sua eficiente máquina de propaganda? Ou a prefeita teria interesses inconfessáveis, como chegou a fazer no passado recente, quando prometeu pagar aluguel para os venezuelanos que chegassem a Boa Vista? Ou Teresa quer empurrar o problema com a barriga para deixar as consequências para o próximo prefeito ou prefeita, como está acostumada a fazer?

O fato é que a prefeita determinou que seu submisso grupo na Câmara de Vereadores derrubasse qualquer emenda à Lei de Diretrizes Orçamentária para 2020 que tratasse de imigração. Ela também se esquiva solenemente de qualquer contato com uma comissão de parlamentares que busca discutir a interiorização dos estrangeiros para outros estados. É preocupante a omissão de uma política que diz abertamente que quer disputar o Governo do Estado nas próximas eleições, sabendo que este tema é o principal problema de Roraima.

A preocupação se redobra porque o desenrolar dos fatos indica que o governo Jair Bolsonaro (PSL) mostra-se perdido e claramente desinteressado com a situação de Roraima. Na verdade, o presidente revela-se um beócio a produzir uma máquina de factóides que desviam a atenção para as principais questões do país, enquanto ele tenta emplacar o filho como embaixador nos Estados Unidos e pratica um desmonte na educação, na saúde e no meio ambiente.

Só para ter clareza de que o roraimense não pode esperar muito da boa vontade desse governo: na semana passada, enquanto o mundo celebrava os 50 anos da ida do homem à Lua, como um marco do desenvolvimento da humanidade, o governo Bolsonaro completava 200 dias sob mais uma verborreia do presidente ofendendo os nordestinos, atacando a multa de 40% do FGTS para demitidos sem justa causa, tentando negar queimadas na Amazônia e desdenhando da fome no Brasil.

Diante de uma mente política apequenada, dá para concluir que Roraima é apenas o que sempre foi para os mandatários do país: um lugar desimportante e esquecido. É por isso que os políticos locais precisam seguir na proposta de esforço conjunto para toda as questões, a exemplo da imigração. Mas, pelo visto, a prefeita Teresa Surita acha que seu mundo é outro, aquele construído em suas redes sociais e suas propagandas institucionais, onde a questão dos venezuelanos parece não existir para ela. Que interesse haverá por trás disso? Essa é a pergunta que não vai calar…

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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