O condutor de veículo que anda na linha não tem com o que se preocupar com multas de trânsito, certo? Para quem mora em Boa Vista, a resposta é: errado. O boa-vistense tem muito a se preocupar, pois a política do “arrocha na multa”, adotada pela prefeita Teresa Surita (MDB), obriga os agentes de trânsito a multarem a qualquer custo, sob pena de serem mal avaliados e, por consequência, correrem o risco de demissão a bem do serviço público.
A obrigação de multar como critério de avaliação de produtividade já existia para os agentes municipais de trânsito regulada por uma portaria, mas agora essa política do multar a qualquer custo foi oficializada pela prefeita. Ela já não estava satisfeita com a indústria da multa que vinha funcionando desde quando mandou instalar os pontos de monitoramento eletrônicos, os chamados “pardais”. A ânsia foi tanta que as empresas contratadas começaram a multar antes mesmo de serem credenciadas pelo Conselho Regional de Agronomia e Engenharia (Crea); e antes também de uma campanha educativa e de orientação aos condutores.
Agora a política do “arrocha na multa” foi tornada oficial por meio de um decreto que determina a avaliação dos agentes de trânsito pela quantidade de multas aplicadas. Quanto mais “arrocha na multa” o agente for, mais bonzão na avaliação ele ficará, inclusive os que alcançarem a nota 10 (ou seja, os que aplicarem acima de 200 multas por mês) não só terão prioridade nas progressões funcionais e cursos, como também receberão certificado de honra ao mérito.
Isso mesmo: o agente que se tornar um “arrocha na multa” da Teresa terá medalha no peito, enquanto aqueles que aplicarem menos de 76 multas por mês receberão notas de zero a 4 na avaliação, e então serão tachados de “fracotes”, mandados para a direção a fim de que recebam um “puxão de orelha” e enviados para reciclagem como se lixo administrativo fossem. E se continuarem com nota baixa por três meses seguidos, responderão por procedimentos administrativos que podem resultar na demissão sumária.
É óbvio que ninguém vai querer receber “puxão de orelha” até ser demitido. O bom senso indica que o agente busque ser um “arrocha na multa” da Teresa, bem avaliado, com medalha no peito e aplausos da prefeita que acompanha tudo pelo Twitter. Ainda que os condutores, temerosos em levar multa, cercarem-se de todos os cuidados possíveis, mesmo assim os agentes terão que encontrar qualquer infração para aplicarem multas a fim de alcançarem a produtividade mensal, como se fossem um “carimbador maluco” de Raul Seixas.
A prefeita Teresa está construindo uma guerrilha por enquanto silenciosa, que se tornará barulhenta a partir de quando, de um lado, estiverem os condutores sobressaltados em levar multas e, de outro, agentes municipais atormentados pela obrigação de alcançarem a produtividade mensal de um “arrocha na multa” compulsivo, tal qual um carimbador maluco que ficará tendo pesadelo de tanto pensar em como vai enquadrar o motorista no expediente do dia seguinte.
Anotem: isso não vai terminar bem. Os agentes de trânsito já sabem disso, pois é impossível trabalhar de forma tranquila só pensando em multar pelo menos 200 condutores por mês, se quiserem coraçãozinho da Teresa ou, caso contrário, um rótulo na testa de um fracassado sujeito a demissão. Por enquanto, o fato vem sendo tratado como meme nas redes sociais… por enquanto… até a bomba estourar.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br
