Além da falta de transparência, vereadores se esquivam de fiscalizar Prefeitura de Boa Vista

Enquanto a Assembleia Legislativa faz caminhar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, inclusive com sua primeira diligência ontem, na Câmara Municipal de Boa Vista uma manobra governista enterrou a CPI do Lixo, assunto este que perturba o bom humor da prefeita Teresa Surita (MDB).

O motivo de não querer tocar no assunto é que são quase 20 anos contratando e recontratando a mesma empresa paulista para fazer coleta de lixo urbano e de áreas indígenas, a Sanepav, a qual já recebeu cerca de R$400 milhões da Prefeitura de Boa Vista durante os cinco mandatos da prefeita. É muita grana!

Embora Teresa faça pouco caso de sua base aliada na Câmara, ignorando pedidos políticos e indicações de vereadores, basta que ela estale os dedos para conseguir apoio para seus interesses, a exemplo da manobra para não instalar a CPI, quando quatro vereadores retiraram suas assinaturas do requerimento. O caso foi parar na Justiça, mas a submissão do grupo governista falou mais alto outra vez.

Enquanto os vereadores se esquivam da obrigação de fiscalização a aplicação de milionários recursos pelo Executivo municipal, a Câmara faz de tudo para mobilizar todas as suas forças para um movimento sobre imigração. Porém, essa mesma base aliada da prefeita recusou todas as emendas ao Orçamento propostas com a rubrica “imigração”, demonstrando que não há interesse realmente em encarar o problema da forma correta.

Os próprios vereadores sabem que desde o início de seus mandatos vêm discutindo sobre o êxodo dos venezuelanos sem que nenhuma ação concreta tenha sido proposta. Só o que existiu de concreto foi a escandalosa promessa feita pela prefeita Teresa de pagar aluguel solidário para os estrangeiros, o que provocou uma corrida de venezuelanos para Boa Vista.

Hoje Teresa tenta negar seu ato irresponsável e chegou até a não atender a uma determinação judicial para a Prefeitura a fornecer alimento para as crianças estrangeiras que vivem nos abrigos. A decisão da Câmara de fazer uma mobilização para chamar a atenção sobre a imigração acaba por disfarçar a imobilidade da prefeitura sobre o assunto.

De outro lado, ao se aproximar do fim de mandato, adotar a imigração como principal bandeira revela uma jogada política para mostrar trabalho para a população, que aprendeu a culpar a imigração por tudo de ruim que ocorre não só em Boa Vista, como no Estado. É por isso que os vereadores decidiram apostar tudo em um movimento que não vai resolver nada, a não ser barulho como se algo grandioso estivesse sendo realizado.

Enquanto isso, a prefeita segue com seus contratos milionários sem qualquer fiscalização por quem deveria ter a obrigação de acompanhar a aplicação dos recursos públicos. O contrato para coleta de lixo é apenas um deles, inclusive sob fortes suspeitas de irregularidades apontadas por um dossiê que já é de conhecimento de alguns vereadores.

O contrato para construção da nova orla, onde ficava a área conhecida como Beiral, também foi questionado na Justiça sob suspeita de irregularidade na licitação. É sempre assim: todos os contratos milionários assinados pela Prefeitura de Boa Vista são cercados de suspeita por serem realizados sem transparência.

O projeto de mobilidade urbana, que consumiu quase R$60 milhões oriundos de empréstimo junto à Caixa Econômica Federal, é outro que segue sem que a população saiba como as obras foram realizados e valor gasto com cada uma delas. Assim também como ninguém sabe como são feitas as obras de reforma e ampliação das praças públicas e do Complexo Ayrton Senna, onde existe até a reforma da reforma.

Como não se pode esperar mais nada dos vereadores, a prefeita segue faceira em suas ações sem dar satisfação de seus gastos milionários com recursos públicos direcionados a empresas de outros estados. Ela faz o que bem entende com sua base aliada e dribla todas as formas a transparência de seus atos.

*Colunista

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