Corrupção se enraizou na saúde pública com a conivência de muitos e o corporativismo (Imagem: Divulgação)

Já era esperado que o ex-secretário estadual de Saúde, Ailton Wanderley, durante oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa, tentasse se esquivar da denúncia que ele fez sobre a corrupção sistêmica na pasta, postada em seu perfil no Facebook, ao se demitir da pasta em abril passado. Afinal, logo após a repercussão do caso, ele apagou a postagem, o que já dava esse indicativo de recuo em sustentar as graves denúncias.

O fato é que a população aguarda resultados práticos da CPI da Saúde, não só pela contundência da denúncia apresentada à época, mas porque são as pessoas assalariadas, as quais não têm condições de pagar um plano de saúde, que sofrem na pele os desmandos na saúde pública, com hospitais com estrutura precária, superlotação, falta de remédios e equipamentos, além de outras mazelas já apontadas no relatório da inspeção feita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e as recorrentes denúncias feitas pela imprensa.

A CPI é onde repousa a esperança de que algo possa mudar na saúde pública e também para que as autoridades possam responsabilizar judicialmente aqueles que se locupletaram com a desgraça da população que pena e morre nos hospitais públicos. Mas, antes disso, pelo que já vem sendo apresentado pelas oitivas e audiências realizadas pelos deputados que integram a CPI, fica o principal questionamento dos cidadãos: onde estavam os órgãos fiscalizadores por todo esse tempo que não agiram?

O desleixo das autoridades com a saúde pública, em todos os níveis, ficou explicitado na audiência pública realizada na terça-feira pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, quando a opinião pública ficou sabendo que há dois anos a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) não apresentava relatório de prestação de contas ao Legislativo. A lei diz que esse procedimento deve ser feito a cada quatro meses.

Esse descuido inexplicável com a saúde pública surpreende até quem não deveria ser surpreendido, o Ministério Público de Roraima (MPRR), cuja titular da Promotoria de Saúde Pública veio a exclamar com mais de um ano de atraso sobre o fato de a Sesau ter feito uma compra de R$30 milhões em itens hospitalares que eram desnecessários, enquanto as pessoas doentes esperam há anos na fila do Tratamento Fora de Domício (TFD),

Se o órgão que tem a obrigação de fiscalizar e a prerrogativa de investigar e propor ações ainda está na fase de se surpreender, imagine o que a CPI ainda tem por revelar diante do que foi denunciado pelo ex-secretário de Saúde, o qual tem conhecimento profundo sobre o setor não só por ter ficado à frente da pasta, até se demitir, mas também porque já foi gestor em épocas passadas, a exemplo de 1996 quando era secretário adjunto no momento em que foram denunciadas as mortes de bebês na maternidade estadual.

Infelizmente, o quadro degradante da saúde pública é esta, diante de uma sombria realidade em que denúncias não são investigadas, nem irregularidades fiscalizadas e desmandos perpetuados porque a corrupção se enraizou, graças ao corporativismo ou pela conivência mesmo. Esperamos muito da CPI da Saúde, porque já sabemos que o Governo do Estado e alguns órgãos fiscalizadores, como o MP, não têm interesse em abrir a “caixa-preta”,

*Colunista

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