Foto: Jaime C. Patias/Cimi

As praças estão ficando bonitas, Okay. Os brinquedos fazem a alegria de crianças e adultos, Okay. As fontes estão jorrando água em meio a luzes coloridas, Okay. Os canteiros centrais estão floridos ou bem verdinhos, Okay. Está tudo lindo dentro do vidrinho, mas isso por si só não faz de Boa Vista a Capital da Primeira Infância como vem sendo pregado.

Por traz de todo esse colorido festejado incessante pela Prefeitura existe uma realidade que fica oculta por trás dessas áreas de cores, brinquedos, luzes, flores e verde. Trata-se da realidade de uma infância que está sendo forjada na permissividade das ruas no mais absoluto abandono social, em todos os níveis de governo.

O que vem sendo feito nas escolas e creches atualmente nunca será suficiente enquanto aumenta-se o número de crianças não somente em situação de rua, como era não faz muito tempo, mas agora morando na rua ou largadas sozinhas em casa nos bairros periféricos da cidade.

É bom sempre festejar as conquistas, e a Prefeitura sabe muito bem ir além dessa festa com seus institucionais que sempre visam captar dividendos eleitorais ao seu grupo. Mas um sinal vermelho está ligado há anos e o alerta vem sendo ignorado, assim como o Governo do Estado ignorou a saúde pública, hoje entregue ao inferno.

Antes mesmo de a crise migratória ter se instalado no Estado, em especial em Boa Vista, faltavam vagas nas creches. As periferias já andavam abarrotadas de crianças cuidando de crianças enquanto pais ou mães solteiras trabalhavam ou largavam seus filhos pequenos em casa para fugir de suas responsabilidades. Eram somente crianças brasileiras antes de a Venezuela ruir.

A situação tão somente se complicou com o êxodo em massa de venezuelanos. Hoje temos não apenas crianças nas ruas como também famílias inteiras morando ao relento, em prédios abandonados, debaixo de árvores, nas calçadas e margens de rios e igarapés em meio à mata ciliar. Dali partem crianças pedindo nos semáforos, nas feiras, nos supermercados, nas praças ou em qualquer lugar onde haja concentração de gente.

Há uma legião de meninos e meninas literalmente sem pai nem mãe perambulando. A Prefeitura vem se omitindo frente a esta realidade como também desde 2013 largou várias obras de construção de creches nos bairros mais populosos ou que enfrentam drasticamente problemas advindos da crise migratória, a exemplo do bairro Caimbé. Somente agora, quando a prefeita Teresa Surita (MDB) decidiu que iria ser arainha da Primeira Infância” é que ela determinou a conclusão de algumas dessas obras.

São centenas de crianças que ficaram fora de sala de aula nesse período em que não foram abertas novas vagas na educação infantil, enquanto obras de creches foram largadas ao descaso. Ainda que as obras de todas essas creches sejam concluídas até o fim do ano ou no ano que vem, o número de vagas será insuficiente para a grande demanda que surgiu nos últimos anos, realidade inflada pela imigração.

A Prefeitura de Boa Vista vem adiando o enfrentamento desta realidade e até mesmo tentando afastar os venezuelanos das áreas onde o belo está sendo construído em nome da Primeira Infância, a exemplo de cortar a internet gratuita nas praças, ação que até tem apoio de boa parte da população que aprendeu a odiar quem está em baixo da pirâmide social, enquanto ignora os malandros lá de cima, os de gravata.

O sinal vermelho foi dado há um certo tempo e só não enxerga quem não quiser. Se essa infância vivendo nas ruas continuar sendo ignorada, como ocorre agora, todo esse espaço belo e colorido que está sendo construído será desmanchado por muito sofrimento da população em um futuro bem próximo. Nos bairros mais afastados as praças já estão nas mãos de traficantes e faccionados.

Essas crianças que ficam invisíveis aos olhos das autoridades estão se tornando alvos fáceis para o crime que está bem organizado em um Estado destroçado. Quem mora nos bairros periféricos sabe que existe uma bomba silenciosa sendo armada. Nenhuma beleza resistirá por muito tempo quando a infância está sendo forjada nas ruas, independente de nacionalidade.

*Colunista

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here