Quem conhece a trajetória da hoje prefeita Teresa Surita (MDB) desde que ela chegou aqui, apenas como esposa de político, no final da década de 1980, sabe como foi difícil para ela se adaptar à realidade local, a de um Estado que era praticamente um deserto no meio de um imenso lavrado, com uma população fortemente indígena que se fundia culturalmente com uma leva de migrantes nordestinos que estavam chegando, os quais foram ocupando inicialmente a periferia.

Seus críticos daquela época, no extinto jornal O Diário, que depois passou a se chamar Diário de Roraima, onde comecei a trabalhar na imprensa diária, em 1991, diziam que ela levava para suas andanças na periferia uma garrafa de álcool para desinfetar as mãos. Obviamente deveria ser um ato de higienização, já que ela teria que apertar as mãos de muita gente, e ela não era acostumada a se misturar com o povo.

Esse ato rendeu-lhe críticas ácidas no início de sua trajetória, o que lhe fez repensar seu ato simples de higienizar as mãos ao manter contato com o povo, ato este que é inclusive recomendado pela Organização Mundial de Saúde para evitar doenças. Mas o que ela nunca conseguiu superar, durante toda sua trajetória política, foi não conseguir gostar de servidor público, em especial os concursados, sob os quais ela jamais conseguiu colocar o cabresto da forma que ela faz com os comissionados.

Os comissionados já comeram muito o pão que o diabo amassou nas mãos de Teresa. Tiveram que se submeter a jornadas desumanas, a realizar serviços que não eram sua obrigação e, a cada período eleitoral, tinham que bandeirar e panfletar nas rotatórias e esquinas, além de fazer plateia em eventos oficiais. Não se submeter a isso era demissão certa. Os concursados que nunca alugaram sua dignidade jamais se prestaram a fazer esse papel, o que sempre irritou a política que superou a garrafa de álcool. Hoje abraça todo mundo e coloca criança no colo para tirar foto.

No fim de mais um mandato como prefeita, depois de 20 anos no comando da cidade, Teresa não esconde que tem pretensões de voar alto nas eleições para o Governo do Estado. Ela sabe que servidor público é um patrimônio importante para o Município e o Estado que vivem da economia do contracheque, além de um peso eleitoral importante, por isso hoje tenta se limpar com essa categoria como última tentativa de superar seu passado de perseguição. A aprovação de Planos de Cargos e Salários é a sinalização de uma trégua e um aceno para que ela saia com a imagem limpa.

Esse é a origem do “surto político” que tem acometido a prefeita. Ela tem pressa em realizar concurso público até mesmo sem haver previsão orçamentária. Quer sair com uma imagem positiva frente ao grande número de concurseiros que surgem aos montes diante da enorme quantidade de jovens que se formam nas universidades públicas e faculdades particulares anualmente.

Como Teresa não terá mais pretensão de ser prefeita, ela não está interessada em saber se esses novos concursos públicos irão inviabilizar ou não a próxima administração com uma folha de pagamento insustentável. Interessa a ela seus planos políticos futuros em sair como a “prefs mais amada” de todos os tempos. De quebra, se inviabilizar a próxima gestão com uma folha de pagamento paquidérmica, Teresa ainda poderá surfar na onda do “quanto pior, melhor”, como fez com a gestão de Iradilson Sampaio.

Cego a tudo isso está a maioria dos vereadores, que não apenas ficam de bico calado como também estão ajudando a comprometer o Município diante da possibilidade de autorizar mais empréstimos, como foi feito em 2014, quando a Câmara deu autorização para Teresa pegar R$65 milhões destinados para obras de um suposto Plano de Mobilidade Urbana que nunca foi apresentado à população. Nem mesmo os pretensos pré-candidatos ao cargo de prefeito (ou prefeita) falam algo para alertar sobre o que está acontecendo, sobre o que pode sufocar a vida do próximo gestor e da população que será arrochada com uma futura crise.

Teresa Surita não está preocupada se os governantes em todos os níveis de governo estão sendo pressionados a fazer enxugamento da máquina, demissões, reforma administrativa e tungar benefícios para frear o monstro da crise que nos ronda. A prefeita quer sair “de boa”, surfando na onda da “prefs” que fez concursos públicos e que valorizou o servidor público.

Tudo isso no fim de mandato, depois de estar no poder desde 1993, época em que ela teve que abolir a garrafa de álcool, mas não deixou de odiar servidor público, tratado desde lá na chibata e no açoite. Hoje ela quer sair curtida com o coraçãozinho do servidor e de concurseiros. Nem que para isso todos tenhamos que pagar a conta no futuro.

E ninguém diz nada…

*Colunista

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