taxi-lotação é um serviço alternativo no transporte urbano (Foto: Divulgação)

A forte desilusão com a política fez do boa-vistense um cidadão apático, que tem aceitado decisões dos governos de cabeça baixa, sem ao menos protestos nas redes sociais. O ano de 2020 começou com um pesado reajuste no preço da passagem do ônibus urbano e do táxi-lotação.

Não houve gritaria nem qualquer protesto por parte do contribuinte, como se essa majoração nos valores não fosse impactar em seu orçamento familiar. Nem tão pouco os representantes da sociedade sentiram-se no dever de protestar a fim de fomentar um debate.

Transporte público significa mobilidade urbana. Quanto menos pessoas andarem de ônibus ou lotação, mais carros, motos e bicicletas estarão inflando o trânsito e os espaços urbanos. Significa mais máquinas tendo prioridade em vez do cidadão, baixando a qualidade de vida das pessoas e tornando o trânsito um pandemônio.

Em vez de investir em transporte público, ainda que subsidiado para garantir qualidade e agilidade no deslocamento das pessoas, as inibindo para não comprar moto e carro, a Prefeitura de Boa Vista canibalizou o sistema ao criar a figura no táxi-lotação sob uma forte pressão em período eleitoral.

O lotação foi criado com critérios políticos, com as concessões entregues para pessoas que não precisam trabalhar como taxistas ou que fizeram de seus alvarás uma fórmula de ganhar dinheiro alugando seus táxis para terceiros, os chamados “copilotos”, que nada mais são do que motoristas de aluguel escravizados pelo desemprego.

Esses copilotos pagam pelo aluguel do alvará e pagam pela gasolina e a manutenção dos carros, o que baixa seus lucros, os obrigando a disputar passageiros na base da esperteza e irregularidades, recusando rotas para bairros distantes, cobrando o dobro para sair da rota e dirigindo em alta velocidade em um trânsito já caótico. E isso é uma atentado à mobilidade urbana e aos direitos dos passageiros.

Por sua vez, as empresas de ônibus perdem essa concorrência canibal, têm seus custos elevados e ficam sem poder investir em manutenção adequada e compra de veículos novos. Resultado: transporte coletivo deficiente que joga as pessoas nas mãos de lotação, aplicativos ou na compra financiada de veículos, principalmente moto.

Aí está o “xis” da questão. Não investindo em transporte urbano, a Prefeitura pratica um atentado à mobilidade, contribui para o caos no trânsito, compromete a qualidade de vida do cidadão e empurra a conta para o contribuinte pagar, a exemplo do reajuste das tarifas no início do ano. E todos ficaram calados, como se estivesse tudo certinho. Não está. Boa Vista caminha para o pior cenário de inferno no trânsito.

*Colunista

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