Migração em massa continua na fronteira com o Brasil (Foto: Divulgação/Senado)

A duras penas, o roraimense está aprendendo que ações humanitárias não podem ser confundidas com o “coitadismo”. E isso vale tanto para os estrangeiros, em especial os venezuelanos que chegam em massa fugidos da miséria em seu país, quanto para os próprios brasileiros, que também enfrentam uma realidade de injustiça e exclusão.

O coitadismo coloca todos, pessoas de boa é má índole, no mesmo nível. Por causa disso, as fronteiras ficaram largas para o outro “ismo”, o banditismo, que se instalou facilmente a partir da fronteira escancarada porque a nossa índole de acolher os mais necessitados permitiu a esperteza, a marginalidade e a criminalidade.

Já vivemos uma situação muito semelhante na década de 1980, quando os nordestinos fugindo da miséria em seus estados chegaram em massa, por contra própria ou trazidos pelo governo da época, cujo governante queria montar seus currais eleitorais. O choque de realidade e de cultura foi muito semelhante, com preconceitos, insensibilidade e um forte embate cultural.

Mas hoje é difícil saber quem é roraimense nativo, os chamados Macuxi, ou os roraimados, que escolheram esse Estado como sua terra de coração. E assim foi com as demais culturas de outras regiões, com destaque aos sulistas que também marcaram forte presença na cultura local, embora em menor grau, mas também decisivo na formação de nossa forte miscigenação.

Quando a crise humanitária se instalou na Venezuela, muitos roraimenses e roraimados já conheciam esta realidade porque vivenciaram fortemente a década de 1980, quando os nordestinos chegavam apenas com a esperança de recomeçar, com seu sotaque forte, com seu jeito de ser e agir, com sua cultura e sua visão de mundo completamente diferentes de quem nasceu numa terra ampla, a perder de vista, e até então farta.

E os nordestinos ocupavam a periferia e as mais longínquas vicinais, sem escola, sem posto de saúde e sem qualquer apoio, o que provocou outra migração, a do campo para a cidade. Entre o choque de cultura e de realidade, houve mais acolhimento do que preconceito, os quais foram superados ao longo das décadas. E, por isso, a maior parte do povo roraimense achava que poderia ser assim com os venezuelanos, os acolhendo tal qual como acolheram os migrantes brasileiros naquela época, sem pensar que o “coitadismo” desta vez poderia abrir portas para o banditismo ou a esperteza.

Estamos aprendendo da pior forma com esta realidade de nova migração em massa, miscigenação, choque de cultura, esperteza, solidariedade e a criminalidade que vem junto com a pobreza e o desespero de quem perdeu tudo. Mas pobreza não é autorização para se tornar criminoso, porém é a porta de entrada para muitas mazelas que desgraçam uma sociedade rapidamentre.

É por isso que devemos ter muito cuidado com o “coitadismo”. A realidade de hoje é muito diferente da que vivenciamos na década de 1980, quando tudo era mais fácil tanto para quem já era pobre nesta terra quanto para quem chegava mais pobre ainda. Ainda assim, naquela época experimentamos o surgimento das periferias, da marginalidade, de crianças sem pai ou sem mãe, das galeras que se enfrentavam gratuitamente, dos cemitérios clandestinos e até a pistolagem herdada do garimpo.

Já fomos território sem lei, em que a polícia era o bandido acoitada por um Judiciário conivente (exemplo: caso dos irmãos Batista, cujo pai era magistrado e os filhos policiais civis, os quais mandavam e desmandavam em Roraima). Tudo na rabeira da migração em massa tanto dos mais pobres quanto dos mais ricos, que aqui encontraram terra fértil para fazer tudo, principalmente se apossar da política e formar a elite econômica e social, forjada pelo desmando e corrupção.

Como não houve imposição da elite local para cobrar leis e regras, chegamos ao Estado da forma que é, arregaçado pelo desmando que nos cobra hoje um preço muito caro na saúde, na educação e na segurança. É por isso que não podemos permitir que o “coitadismo” não nos desgrace outra vez, agora com a chegada de estrangeiros que igualmente chegam em busca de recomeço, mas entre os quais estão os espertalhões, os indolentes e criminosos.

Precisamos endurecer a cobrança, a vigilância, a segurança e o acolhimento. Já sabemos que abrir só o coração também abre as portas para todo o tipo de desgraça econômica e social. E isso não é xenofobia. Existem leis a serem cumpridas, e disso não podemos abrir mão olhando apenas pelo “coitadismo”. Ou endurecemos agora, coibindo práticas nocivas e comportamentos reprováveis, ou iremos vivenciar a volta do que fomos no passado: um Estado sem lei, em que o crime se organiza ainda mais, tentando se instalar nos poderes constituídos. Não podemos permitir mais isso,

*Colunista

 

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