Enquanto o governador Antonio Denarium tocava tambor, dançava zumba e passeava no Parque Anauá, neste fim de semana, uma grave crise estava instalada no Município de Rorainópolis, Sul do Estado, onde uma ação fiscalizatória do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) terminou com a morte de um morador daquela localidade, suspeito de estar praticando derrubada ilegal de madeira.

Os fiscais do Ibama, por meio de uma nota oficial, alegam que eles foram recebidos a tiros e teriam revidado. Mas os moradores e amigos da vítima argumentam que o tiro foi na nuca, ou seja, pelas costas, o que casou uma onda de revolta em frente ao hotel onde os fiscais estavam hospedados. Foi necessário um forte policiamento para garantir a segurança dos servidores, diante da ira dos moradores.

O fato é que a extração de madeira na região tornou-se um sério problema na região há tempos, sem que as autoridades tenham se preocupado com aquela situação.  Os conflitos entre madeireiras e agricultores só se intensificaram, especialmente por causa da ação ilegal que provoca não apenas desmatamento e destruição das vicinais devido à ação de caminhões pesados, mas sérios conflitos agrários, pois as áreas mais ricas em beleza, produtividade e biodiversidade estão sendo griladas para extração de madeira, expulsando pequenos agricultores e aqueles que pensam na exploração sustentável ou no turismo.

Ao assumir o atual mandato, esse governo tomou uma clara posição em favor de madeireiros,  fazendo imediata gestão ao presidente Jair Bolsonaro para perdoar multas e dar mais liberdade a essa atividade, sem discutir a questão com os envolvidos, que sofrem a ação das atividades ilegais, e da população daquela localidade, bem como dos órgãos ambientais.

Como  Bolsonaro não definiu uma política ambiental para o seu governo, agindo apenas com discursos ideologicamente contrários ao sistema ambiental em vigor, abriu-se uma grande fissura entre exploradores dos recursos naturais, ambientalistas, população envolvida e o corpo institucional que fiscaliza e faz cumprir as rigorosas leis ambientais em vigor, este dividido entre esquerda e direita, quem defende o rigor da lei e os que apoiam o discurso do atual governo, que até agora só falou em abrandar a legislação, mas sem nenhum política efetiva.

Agora, com essa crise provocada pela morte de um morador de Rorainópolis durante uma ação do Ibama,  esse fosso que existia só aumentou, exigindo uma posição imediata não apenas do Governo Federal para que  defina a política que ele quer adotar para o meio ambiente, mas também uma postura dos governos locais a fim de apontar soluções para que não privilegie apenas madeireiras, especialmente aquelas que agem à margem da lei, mas beneficie também  todos os demais envolvidos, como trabalhadores, comunidade, pequenos produtores e outros.

É certo que a morte do morador precisa ser esclarecida para que eventuais falhas na ação do Ibama sejam responsabilizadas.  Mas o importante frisar é que foi necessário acontecer uma tragédia para chamar a atenção das autoridades, que se mostraram inertes até aqui, inclusive o Governo do Estado, que já havia tomado uma postura pró-madeireiras sem conhecer a realidade daquela região.

Embora o Governo do Estado tenha fingido que essa crise no Sul do Estado não é com ele, o problema exige rápida atuação das autoridades para que essa problema não se avolume enquanto o Governo Federal não tem uma política ambiental definida.  Já sabemos que Roraima não é prioridade para Bolsonaro, apesar da votação expressiva que ele recebeu, então por isso mesmo são as lideranças políticas e os governos locais que devem buscar soluções imediatas para evitar  algo pior do que já aconteceu.

*Colunista

 

 

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