O Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), vinculado ao Ministério da Saúde, planeja uma operação de aproximação com os índios isolados yanomami que vivem em Roraima. Um sobrevoo com helicóptero sobre a terra indígena yanomami está previsto para ocorrer em abril por membros do conselho.

O presidente do Condisi, Júnior Hekurari Yanomami, disse que o objetivo é verificar possíveis casos de contaminação por malária e a proximidade de garimpeiros e madeireiros desses grupos isolados. “A ideia é sobrevoar, ver quais as situações desses isolados, se estão no mesmo local que já identificamos ou não”, disse Júnior. “Sabemos que eles estão próximos de uma região endêmica de malária, além de estarem próximos a garimpos”, comentou.

A ideia não agrada líder yanomami Davi Kopenawa. “Sou contra isso. Podem espalhar doenças. E se descerem na terra indígena? Não pode. Eu mesmo sou yanomami e nunca estive com os isolados, porque respeito o espaço deles e trabalho para defender a escolha e a vida deles”, disse Kopenawa. O líder yanomami perdeu a mãe por contaminação de sarampo, após contato feito por não índios.

Segundo o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Júnior Hekurari Yanomami há registros de que haveria cerca de 80 índios isolados vivendo na região. Eles estariam próximos de comunidades da terra indígena yanomami que já viveram surtos de malária. “No ano passado, uma comunidade yanomami da região teve 200 casos de malária”, disse Júnior. Uma equipe de médicos e técnicos foi enviada para dar tratamento aos indígenas.

Júnior afirmou que as ações não incluirão contato direto com os isolados. “O que queremos, com o sobrevoo, é captar imagens para verificar se há algum risco, se estão se mudando de lugar, se estão próximos de invasores ou precisando de socorro”, disse.

No dia 22 de janeiro, o assunto foi debatido em Boa Vista, com integrantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), que, a rigor, precisa dar anuência a esse tipo de operação.

Sobrevoos sobre locais habitados por povos isolados são práticas evitadas, porque podem gerar estresse e levar os índios a abandonarem suas casas. Por regra, a localização dessas malocas deve ser mantida em sigilo, como forma de preservar a escolha do próprio indígena, que pretende viver isolado. Para garantir esse isolamento, a Funai monta bases distantes, delimitando e fiscalizando áreas que não podem ser acessada.

Questionada sobre o assunto, a Funai não se manifestou a respeito até o fechamento desse texto.

Na semana passada, Davi Kopenawa fez um apelo à ONU, para que a entidade proteja as comunidades indígenas isoladas, sob ameaça de etnocídio por garimpeiros que exploram ilegalmente riquezas naturais no território dos yanomami em Roraima.

Segundo ele, os índios da etnia moxihatetea estão cercados sob mira de espingardas pelos garimpeiros. “Os índios agora estão cercados. Por isso estou falando para defender os moxihatetea. Mas eu não conheço as suas casas, assim como vocês também não conhecem. Eu só as vi do céu, do avião. Nunca os visitei a pé. Nunca nos falamos. É por isso que estou muito preocupado. Talvez em breve estarão exterminados. É o que eu acho. Os garimpeiros sem dúvida vão matá-los com suas espingardas e suas doenças, a sua malária, a sua pneumonia… Os indígenas não têm vacinas de proteção, vão todos desaparecer”, denunciou ele em discurso na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.

No mês passado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que comanda a Funai, nomeou o pastor e ex-missionário evangélico Ricardo Lopes Dias para o cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. Sua nomeação foi criticada por organizações socioambientais e lideranças indígenas, que viram na escolha o avanço do governo contra a política de não contato da Funai, em vigor desde os anos 1980.

Dias trabalhou durante anos para um grupo missionário que tentava estabelecer uma igreja cristã em toda comunidade indígena do Brasil. Ele já afirmou que “não tem qualquer interesse” em usar o cargo para evangelizar os índios.

Reportagem publicada pelo jornal O Globo mostrou que a organização não-governamental norte-americana Ethnos360 Aviation pediu doações e prometeu usar um helicóptero para evangelizar índios isolados no Oeste do Brasil. No início deste ano, o helicóptero comprado com o dinheiro das doações pedidas pela organização norte-americana foi apresentado pela Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB).

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