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O fechamento da fronteira com a Venezuela era um desejo da população roraimense como medida mais austera a fim de evitar o avanço do coronavírus. Porém, diante da realidade em que a área fronteiriça encontra-se, a decisão não passa de uma firula. Na verdade, tornou-se um arranjo político para amenizar o débito que o governo Jair Bolsonaro tem com Roraima e uma forma de dar um crédito ao grupo político do governador Antonio Denarium, que baixa a cabeça para a imobilidade da política do Governo Federal com relação ao nosso Estado, em especial a imigração.

O grande arranjo político foi manter as portas abertas para o tráfego de mercadorias, satisfazendo o interesse dos amigos empresários do governador, que estão faturando alto com a exportação de alimentos para a Venezuela. Porém, não são apenas mercadorias que irão passar. Fechar a fronteira para o tráfego de pessoas não significa que os venezuelanos deixarão de entrar para Roraima, pois os caminhos clandestinos não só continuarão em atividade como aumentará o trânsito de clandestinos, da mesma forma como ocorreu na época em que o presidente venezuelano Nicolás Maduro fechou a fronteira, em dezembro de 2016.

Se fechassem a fronteira e montassem uma rigorosa fiscalização nas entradas clandestinas, até que poderia haver realmente uma contenção. Mas não é isso o que vai acontecer. Quando a fronteira for fechada, imediatamente irá aumentar o tráfego clandestino de pessoas nas rotas por onde passam produtos ilegais. E o fluxo desordenado de imigrantes só irá aumentar, desta vez sem o mínimo controle epidemiológico e migratório. Os riscos não só de coronavírus como de outras doenças continuarão mais altos ainda. Tudo não passa de um grande teatro político.

Os políticos que foram até o presidente pedir o fechamento da fronteira, desde que com os caminhos abertos para os empresários, são os mesmos que colocam o rabinho entre as pernas quando se fala de cobrar do Governo Federal que ele cumpra com suas obrigações com a imigração desordenada. Até porque um deles, assim que assumiu, contratou um parente de Bolsonaro em seu gabinete, ganhando um alto salário para ser “caçador de comunista”. O outro joga para torcida, ora pede fronteira aberta, ora quer a fronteira fechada, de acordo com suas conveniências políticas. O outro não está nem aí para o assunto.

O fato é que a crise migratória pela qual passamos em Roraima, em grande parte, é consequência do que foi feito pelos aliados do então presidente Michel Temer (MDB), que de tudo fizeram para inviabilizar o Estado, dentro da política do “quanto pior, melhor”, como também tentaram usar o êxodo em massa de venezuelanos para conseguir recursos federais para engordar seus esquemas. É verdade que o governo de Suely Campos estava envolto em corrupção e incompetência, mas também houve dedo de adversários que de tudo fizeram para travar o governo dela.

A pressão foi tanta que Suely Campos teve que aceitar a intervenção federal e sair pela porta dos fundos, em um humilhante fim de seu governo e, quem sabe, de seu grupo na política roraimense. Antes disso, havia uma grande movimentação para também faturar em cima da migração desordenada, quando a prefeita Teresa Surita (MDB) chegou a anunciar um “aluguel social” para os venezuelanos, ação esta que foi descartada devido à grande pressão popular. A reação negativa da população foi tão forte que Teresa chegou a negar que tenha sugerido tal absurda proposta.

Em Brasília, surgiu inclusive um movimento político pelos aliados do MDB para tentar mexer na legislação a fim de tornar os imigrantes refugiados em eleitores já nas eleições seguintes, o que não emplacou devido à reação negativa da opinião pública. Mas o start já havia sido dado para que os venezuelanos deixassem seu país e atravessassem a fronteira para conseguir os benefícios anunciados pelo grupo político de Teresa e de Michel Temer. Muitos estrangeiros conseguiram imediatamente ser incluídos no Bolsa Família pela Prefeitura de Boa Vista e encontraram facilidades para serem abrigados por meio da Operação Acolhida.

Embora o país tenha colocado outro grupo político no poder, nada mudou nas ações sobre a crise migratória em Roraima. O presidente Jair Bolsonaro, que recebeu uma expressiva votação no Estado como esperança de transformação, vem dando seguidas provas de que está satisfeito com o que aí está e faz pouco caso sobre tudo que diz respeito ao Estado. Nem diante da iminência dessa nova doença provocar uma crise sem precedentes em Roraima o fez agir rápido para fechar a fronteira. Chegou a dizer que as fronteiras não seriam fechadas.

A população espera que as autoridades sanitárias locais consigam evitar o pior, tomando as ações necessárias com relação ao coronavírus. Porém, faz-se urgente que a bancada federal de Roraima tome iniciativas mais duras para que o Governo Federal mude sua política de acolhimento aos imigrantes. Que ao menos a política de interiorização funcione e que a forma de acolhimento sofra um ajuste para evitar o colapso dos abrigos já existentes. Sugestões de mudanças não faltam e com certeza o Governo Federal tem conhecimento. Se o pior não ocorrer com essa nova doença, é provável que a situação do Estado fique insustentável em curto espaço de tempo, se algo não for feito imediatamente com relação ao êxodo em massa de venezuelanos.

*Colunista

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