Bairro 13 de Setembro é a porta de entrada e saída para países vizinhos e o Amazonas (Foto: PMBV)

 

O plano de enfrentamento ao coronavírus, anunciado pelo governador Antonio Denarium, é uma decisão necessária e importante, porém precisa ser revisto em alguns pontos. Embora ele não cite o nome, o local destinado para acolher possíveis vítimas, em caso de superlotação das unidades de saúde, é a Escola 13 de Setembro, localizada no bairro do mesmo nome. Pela desorganização da Secretaria Estadual de Educação, aquela unidade escolar não foi reaberta este ano, depois de concluída a demorada reforma que iniciou no governo passado. Não procede a informação de que ela permaneceu fechada para que fosse utilizada no plano de contingência.

Apesar de ser um fato grave, o de manter uma escola fechada em um bairro seriamente atingido pelos reflexos da imigração venezuelana, nesse momento não é o que está em discussão. O principal fator a ser observado é que essa escola está localizada em um bairro que enfrenta calamidade devido à falta de água potável. Grande parte do 13 de Setembro enfrenta falta d’água diariamente há pelo menos seis meses. Esse assunto já foi tratado nesta coluna por duas vezes (veja aqui e mais aqui) e precisa ser repetido quantas vezes forem necessárias.

Devido à instalação de abrigos pela Operação Acolhida e pelo aumento populacional em virtude da chegada constante de estrangeiros (venezuelanos e haitianos), houve um severo aumento na demanda do serviço de abastecimento de água que fez o sistema entrar em colapso. A água não consegue subir para as caixas d’água durante o dia. Somente na madrugada chega às torneiras e abastece os reservatórios, obrigando a população a trocar a noite pelo dia para fazer seus deveres domésticos, tomar banho e acumular água em baldes.

Ou seja, o Governo do Estado vai instalar uma unidade de internação de possíveis doentes de coronavírus em um bairro onde as pessoas não conseguem lavar as mãos diariamente conforme as recomendações da Organização Mundia da Saúde (OMS) e onde há um trânsito intenso de estrangeiros que chegam a todo momento da Venezuela e Guiana. Ou o governador desconhece essa realidade ou está sendo mal orientado em relação a isso.

Empurrar uma unidade de acolhimento de possíveis contaminados pelo coronavírus para o bairro 13 de Setembro é de uma gravidade sem precedentes, considerando a crítica falta de água potável, a fragilidade epidemiológica, pelo fato de no bairro estar a Rodoviária Internacional de Boa Vista, os abrigos de venezuelanos e o trânsito intenso de pessoas que saem e chegam da Venezuela, Guiana e Amazonas.

Esse seria o último bairro a ser escolhido para montar uma unidade de internação ou isolamento de pessoas contaminadas pelo coronavírus. É necessário que as autoridades não só revejam essa decisão, como também os órgãos de fiscalização tomem imediatas ações para resolver o problema de água naquele bairro. Os moradores do 13 correm sérios riscos de contaminação pela doença muito mais do que em qualquer localidade da Capital.

O 13 de Setembro é o local de referência de todos os estrangeiros que chegam ao Estado, seja de forma legal ou ilegal, pois é ali que estão os abrigos, a rodoviária, o ponto de acolhimento de venezuelanos e a sede da Polícia Federal, para onde todos os estrangeiros se dirigem para se legalizar no país. É inadmissível que o Governo do Estado desconheça essa realidade diante do que foi planejado para o enfrentamento ao coronavírus.

Se o governador tiver o mínimo de bom senso, chamará sua equipe para questionar por que não foi informado sobre isso e ainda adotará medidas urgentes e específicas para a população do bairro 13 de Setembro, uma vez que as pessoas estão vivendo sem água e em contato direito com estrangeiros que chegam e saem do Estado. Se não tomar essa decisão, ele será responsabilizado futuramente pelo que ocorrer naquele bairro.

Embora boa parte dos empresários estejam tomando algumas ações com relação ao atendimento pelos seus funcionários, como uso de máscaras, o trânsito de gente no comércio naquele bairro é constate e intenso, propício para a proliferação dessa nova e grave doença. É por isso que o bairro 13 de Setembro deve ser tratado com mais responsabilidade pelas autoridades neste momento crítico. Governador, saia de seu gabinete e vá conhecer de perto os problemas das famílias daquele bairro! E urgente: repense seu plano de enfrentamento ao coronavírus.

*Colunista

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