Quando  Antonio Denarium ainda era apenas candidato postulante ao cargo de governador, abraçado pelos grandes empresários que sempre estiveram à sombra ou no cerne dos governos anteriores, ele e seus parceiros empresariais já sabiam que a saúde púbica era um dos grandes problemas do Estado, especialmente porque o setor  definhou severamente na administração anterior, quando os venezuelanos começaram a chegar em massa no Estado.

Ao assumir o governo  um mês antes, como interventor nomeado pelo então presidente Michel Temer (MDB), ele deveria ter começado a pôr a casa em ordem, agindo com austeridade para limpar a casa e desratizar a saúde pública, como ele havia prometido em sua campanha eleitoral.  Mas não foi isso o que ocorreu. Denarium seguiu com os remendos, passou a mão na cabeça dos esquemas e seguiu fazendo arranjos que serviam aos antigos devoradores dos cofres públicos.

A consequência dessa atitude pusilânime está sendo sentida hoje, com o avanço do coronavírus, em que o Estado não consegue fazer frente às urgentes demandas e padece de coisas básicas, como falta de estrutura da principal unidade de saúde, o Hospital Geral de Roraima (HGR), que se tornou hoje a porta de contaminação da nova doença pelos profissionais de saúde, estes que vêm sendo ignorados em suas reiteradas manifestações públicas e greves desde o início da atual gestão.

Antes da pandemia, o sistema já vinha dando alertas de estar colapsando devido à corrupção (conforme denunciaram dois ex-secretários de Saúde assim que deixaram o cargo) e a falta de uma gestão comprometida e competente.  E o governador ficava em infinitas viagens para fora do Estado a fim de vender uma imagem de desenvolvimento por meio do agronegócio, convidando empresários a virem para Roraima, apesar de ser  alertado de que era necessário investir antes nos pequenos, aqueles que realmente colocam comida na mesa da população e gera emprego e renda.

Denarium ignorou os seguidos alertas e esqueceu-se do que prometeu ainda em campanha, criando um Estado virtual no Facebook, onde tudo estava funcionando perfeito e onde as sorridentes selfies eram a cara de seu governo que ele criou em sua fértil  imaginação. Sua ausência administrativa permitiu o surgimento de um governo paralelo, a partir da Casa Civil, enquanto a Saúde seguiu em desgraça e o sistema prisional, outro foco de grande problema, permaneceu sob as mãos de interventores federais.

O coronavírus foi somente mais um agravante e, diante do quadro que estamos assistindo, pode colapsar o sistema, com profissionais sendo infectados e a maioria trabalhando sem condições e sem equipamentos de proteção individual (EPIs).  O governo não consegue sequer fazer sua parte dentro da parceria com Exército e Prefeitura para instalar e fazer funcionar o hospital de campanha que foi transferido do Município de Pacaraima para Boa Vista.

Enquanto o governador fantasiava nas redes sociais um Estado mantido pelo agronegócio, com empresários de fora, e não agia para combater a corrupção, moralizar a administração pública e fortalecer o Estado,  o buraco permaneceu e, agora, diante da pandemia, não há mais tempo para consertar a casa. Só resta a esse governo seguir com remendos e colar os gargalos com cuspe.  E resta ao povo fazer sua parte diante do coronavírus e rogar a Deus para que Boa Vista não se torne uma Manaus. Porque pouco se pode esperar de um governo paquiderme, lento para agir e lerdo para tomar decisões.

*Colunista

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