(Foto: Divulgação)

Estamos assistindo a um “teatro de horror” provocado pelo descaso tanto da Prefeitura de Boa Vista quanto do Governo do Estado por não terem tomado providências sérias e montado um plano de enfrentamento ao coronavírus desde o início da pandemia. A prefeita Teresa Surita (MDB) tenta de todas as maneiras se esquivar de suas responsabilidades no atendimento básico nos postos de saúde

Enquanto isso, o governador Antonio Denarium (sem partido) parece nitidamente atônito por sua inabilidade e inexperiência em governar, piorado por um setor de saúde que vinha anacrônico desde administrações anteriores, devido à corrupção sistêmica que não permitiu nenhum secretário atuar, a não ser aqueles que também se debandaram para o lado da bandalheira, como foi o titular anterior.

Mas, independente dessa vergonhosa briga política que a Covid-19 se tornou entre Prefeitura de Boa Vista e Governo do Estado, os especialistas têm apontado que a guerra está sendo perdida no atendimento primário, ou seja, nos postos de saúde municipais. Quando se fala de atendimento básico, isso não significa apenas Prefeitura de Boa Vista, mas todos as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todos os municípios roraimenses.

Em Boa Vista a responsabilidade é muito maior por abrigar cerca de 60% da população roraimense, o que significa que a principal batalha está sendo perdida aqui, na Capital. Como não tem testes nem medicamentos, pacientes com sintomas de coronavírus que buscam atendimento nos postos de saúde são medicados apenas com remédios para essas viroses sazonais, como antitérmicos. Esses pacientes são mandados para casa mediante a assinatura de um termo em que se comprometem a ficar sob isolamento social em casa, e só retornarem oito ou nove dias depois.

É aí onde a guerra está sendo perdida. É criminoso o que está sendo feito pela Prefeitura de Boa Vista e todas as demais 14 prefeituras do interior, onde os prefeitos e prefeitas estão pegando dinheiro para o combate ao coronavírus, montam uma barraca de lona na beira da pista, simulando uma barreira sanitária, e alugam carros que só servem para passear e gastar combustíveis.

Especialistas apontam que a doenças tem três fases e, como a Prefeitura falha, muitos não conseguem chegar até o fim do tratamento e morrem em casa ou mesmo no Hospital Geral de Roraima (HGR), onde o sistema colapsou. E vai morrer mais gente no Hospital de Campanha, aclamado por todos como solução definitiva, se a Prefeitura de Boa Vista e as demais do interior não adotarem o protocolo correto no atendimento básico.

Ao que parece, a Prefeitura de Boa Vista não tem protocolo correto para atender pacientes que chegam com quadro clínico variado, pois alguns realmente sentem apenas um sintoma de uma gripe ou de uma virose. Outros sentem sintomas leves. E muitos outros, especialmente os de grupo de risco, vão evoluir para a forma mais grave, onde só é possível atender no HGR, já em estado gravíssimo.

Mas a Prefeitura não tem esse protocolo unificado, com médicos treinados para atender imediatamente nessa primeira fase da doença, que vai até o quinto e até o sétimo dia de sintomas, conforme os especialistas. Nos postos de saúde, o paciente não é acompanhado devidamente para que a doença não evolua e posteriormente provoque estragos no organismo do paciente. É por isso que os médicos das UBS não podem ficar esperando testes, que nunca estão disponíveis, para só depois medicarem o paciente. Os doentes estão sendo mandados embora para casa mediante a assinatura de um termo de responsabilidade para que fiquem em isolamento social.

É necessário que os postos de saúde mediquem todos os pacientes que chegam com os sintomas de coronavírus, seja qual for, a fim de bloquear a proliferação viral, para que a doença não evolua para a forma grave nem seja transmitido para outras pessoas, com pacientes tomando os remédios no posto de saúde, mediante um protocolo que já vem sendo adotados em outras cidades. Daí a necessidade de o médico estar treinado para fazer diagnósticos clínicos, sem ficar esperando resultados de exames, que demoram muito e aí pode ser tarde demais.

Até mesmo nos hospitais dos municípios os pacientes que avançam para a segunda fase da doença poderiam estar sendo atendidos com medicamentos para a inflamação dos pulmões. Mas não há protocolos nesses municípios nem competência muito menos interesse político em equipar esses hospitais com medicamentos que poderiam vencer a doença e evitar que pacientes fossem transferidos para o HGR em Boa Vista.

Essas prefeituras precisam ser fiscalizadas e até mesmo investigadas para saber o que estão fazendo com o dinheiro que estão recebendo, especialmente aquelas que montam barracas de lona na beira da pista para dizer que estão fazendo algo.

Deixando de agir nos postos de saúde, a Prefeitura se esquiva de suas responsabilidades, com médicos que deveriam adotar os primeiros procedimentos para medicar os pacientes, sem exames laboratoriais, já que não há testes. Mas a Prefeitura de Boa Vista limitou esse atendimento aos pacientes de Covid-19 somente a oitos postos de saúde, tornando esses locais um depositário de gente doente, potenciais transmissores de doenças e candidatos a evoluírem para as fases mais agudas, já que não são medicados devidamente dentro de um protocolo de enfrentamento à doença.

É por isso que a Prefeitura de Boa Vista está agindo de forma criminosa, mandando pacientes para casa sem receberem o atendimento adequado, sob a alegação de que é necessário esperar oito ou nove dias para fazer o teste. Já se sabe que esses testes rápidos dão “falso negativo”, o que pode ser fatal para as pessoas acometidas pelo coronavírus, pois pode ser muito tarde depois do sétimo dia de sintomas, quando a doença pode avançar para a segunda e terceira fases.

Na última fase da doença, conforme os especialistas, não adianta mais medicar mediante nenhum protocolo que deveria ser feito nos postos de saúde, pois o vírus pode avançar e deixar complicações graves, com sequelas irreparáveis ou mesmo levar à morte, seja nas Unidades de Tratamento Intensiva (UTIs) ou mesmo na fila de espera de uma UTI, ou em casa, para onde os pacientes estão sendo mandados.

A população está sendo ludibriada a acreditar que precisa apenas de mais leitos de UTI e do Hospital de Campanha. Isso é mais briga política do que uma estratégia. A guerra contra o coronavírus começa nos postos de saúde, onde o paciente não pode ser negligenciado de maneira alguma, sendo mandado embora para casa como se realmente fosse uma “gripezinha” ou uma virose qualquer por causa da mudança de clima. Torna-se necessário frisar: é criminoso o que a Prefeitura de Boa Vista e as demais prefeituras do interior vêm fazendo.

A prefeita Teresa Surita precisa ser responsabilizada por não ter adotado um plano desde início, em vez de ficar numa bolha mandando todo mundo ir para casa, sem equipar os postos de saúde e treinar os médicos dentro de um protocolo de enfrentamento imediato à doença. Muitos estão pagando com a vida por não terem recebido atendimento primário, antes de serem enviados para morrer no HGR. É por isso que estamos perdendo essa guerra, enquanto assistimos a uma fúnebre disputa política.

*Colunista

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