No Twitter, Teresa pratica o vitimismo e Romero Jucá alimenta briga política com o governo, enquanto povo sofre nos postos de saúde (Imagens: Reprodução)

Enquanto o Ministério Público de Contas (MPC) fazia inspeções nos postos de saúde, revelando uma vergonhosa desorganização, e enquanto as autoridades participavam de uma audiência pública organizada pela Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) para discutir a situação da saúde pública, a prefeita Teresa Surita (MDB) praticava seu esporte predileto na rede social Twitter: o vitimismo político.

Até parece um ato de adolescentes que, em depressão, se pune fazendo cortes no braço. Mas trata-se apenas de uma semelhança, pois esse vitimismo é uma tática que ela aprendeu a usar desde quando entrou para a política, no final da década de 1980, possivelmente ensinado pelo seu mentor e mestre, o ex-senador Romero Jucá (MDB), que na época era seu marido e chegou ao Estado como governador biônico indicado por José Sarney, ex-presidente que ainda reinava absoluto como coronel no Nordeste.

Teresa, como primeira-dama, era coordenadora da Ação Social do Governo de Roraima e decidiu sair para concorrer a deputada federal. Como ainda era considerada forasteira e tentava se adaptar à vida local, uma cidade distante de tudo o que ela gostava (praia, shopping, academia e aulas de mergulho no mar), Teresa era considerada forasteira e logo despertou atritos com as lideranças políticas locais.

Às vésperas do dia da votação, quando ela disputava uma das vagas de deputada federal por Roraima, em 1990, uma grande panfletagem foi lançada nas ruas e casas de Boa Vista. Os panfletos eram os veículos pelos quais se faziam as “fake news” da época, ou seja, as notícias falsas que não podiam sair nos jornais, e todo tipo de jogo baixo. Neste panfleto específico, havia o desenho semelhante a uma charge que trazia o rosto de uma mulher no corpo de um burro, chamado de “burrinha tapioca”.

Esse panfleto foi um grande escândalo da época, pois o desenho seria não só um ataque atribuído contra Teresa, mas uma afronta à imagem da mulher na política. Os adversários da época atribuíram a autoria do panfleto ao próprio grupo de Jucá para tornar Teresa uma vítima. O grupo de Jucá dizia que aquilo era um ataque grosseiro e ultrajante da oposição às mulheres e às famílias de bem, uma vez que Teresa e Jucá faziam esse papel de eterno casal apaixonado que dava certo até na política.

Quem assistiu do lado de fora o tal episódio “burrinha tapioca” nunca soube se o panfleto foi obra de uma oposição sórdida ou de uma jogada de mestre do próprio Jucá, especialista em terrorismo político. Mas o fato é que a recém-chegada Teresa Jucá saiu-se de vítima e foi eleita deputada federal pela primeira vez com 22% dos votos válidos, pelo PDS, em 1990. Desde lá, Teresa usa a tática do vitimismo para se sair quando ela sabe que não está bem perante a opinião pública.

Hoje ela até mudou de nome, Teresa Surita, foi eleita outra vez deputada federal, em 2010, como a mais votada do país proporcionalmente, e aproveitou essa popularidade para voltar para a Prefeitura de Boa Vista em 2012 e se reeleger em seguida, até os dias de hoje, totalizando 20 anos como prefeita. E o vitimismo sempre a acompanha como uma tática até então infalível.

Só que, desta vez, estamos na Era da instantaneidade com as redes sociais, em que o cidadão pode se informar por várias fontes por meio da internet. As fake news são usadas contra e a favor de políticos, mas a verdade não demora logo a aparecer. E a pandemia do coronavírus veio não apenas  ameaçar a saúde e a vida das pessoas, mas também para desmascarar políticos que nada fizeram pela saúde pública ao longo de suas carreiras políticas.

Teresa sabe que não pode continuar na bolha do Twitter apostando apenas na sua popularidade das últimas eleições e suas obras de fachada, por isso põe em prática a tática do vitimismo, como se estivesse sendo perseguida por todos, vítima de uma trama política e complô maligno. Mas a verdade é que ela está sendo cobrada a sair dessa bolha e assumir sua responsabilidade no atendimento básico de saúde, onde a guerra contra a coronavírus deveria ser vencida.

Mas nem a prefeita, com 20 anos à frente da cidade, nem Romero Jucá, com três mandatos seguidos como senador, quase nada fizeram pela saúde básica, transformando essas unidades de saúde em algo sem importância e sem estrutura para a população. E hoje a população paga com a vida essa desestrutura na Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Enquanto Teresa segue com sua estratégia de vitimismo no Twitter, Romero Jucá também usa a tática de fazer do coronavírus uma briga política com o Governo do Estado para desviar a atenção. Só que, desta vez, ele não tem mais mandato e perdeu o seu status de todo poderoso em Brasília. Sem imunidade parlamentar, agora ele tem que se preocupar em se defender dos 12 inquéritos que ele responde no Supremo Tribunal Federal (STF), a maior parte oriunda da Operação Lava Jato.

A propósito, enquanto Teresa se faz de vítima, Romero Jucá se torna réu em mais um processo da Lava Jato. A denúncia foi aceita em 18 de maio pelo Ministério Público Federal, que o acusa de corrupção e lavagem de dinheiro no caso da Transpetro, em que as empreiteiras pagavam propinas ao MDB, responsável pela nomeação e manutenção do presidente daquela estatal.

Como podemos constatar, o cidadão não pode se deixar influenciar por essa guerrilha política que tem o coronavírus como cavalo de batalha. Todos têm que ser cobrados, tanto o Governo do Estado quanto órgãos fiscalizadores, os legislativos (Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa) e também a Prefeitura de Boa Vista, que foge de suas responsabilidades no atendimento básico, tendo uma prefeita fazendo vitimismo para se livrar de suas culpas. O momento é de cobrança e principalmente de ação. Chega de politicagem nesse momento em que a vida das pessoas está em risco.

*Colunista

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