Prefeita Teresa Surita explica plano para reabrir comércio (Foto: Divulgação/PMBV)
Enquanto manda todos ficarem em casa, Prefeitura compra terreno sem licitação para instalar usina de energia solar; na foto, placas instaladas na comunidade Darôra (Foto: Jackson Souza)

A entrevista coletiva com a imprensa convocada pela prefeita Teresa Surita (MDB), na terça-feira, para falar de um suposto plano para reabrir o comércio foi apenas uma engabelação política. É muito conveniente para a prefeita manter todo mundo em pânico e com tudo fechado.

Na verdade, o comércio está fechado apenas de fachada, porque a realidade é outra. É só ir aos principais centros comerciais para ver que as lojas estão funcionando com as portas baixadas pela metade. As feiras funcionam com a enganação de funcionários nos portões que não estão nem aí para cobrar uso de máscara e que sequer têm álcool em quantidade suficiente para passar nas mãos de todos que passam por lá.

Os bares atendem às escondidas na periferia, sem que haja exigência de uso de máscaras e higienização das mãos. Não há como ter controle quando se está às ocultas. Neste fim de semana, um  policial militar matou um cliente do bar depois de uma confusão generalizada – ou seja, o estabelecimento funcionava durante a madrugada.

Os venezuelanos estão perambulando tranquilamente pela cidade. Nos comércios da Avenida das Guianas, no 13 de Setembro, o segundo bairro com maior número de pessoas contaminadas pelo coronavírus, os estrangeiros estão aglomerados a qualquer hora do dia ou da noite, numa feira ao ar livre.

Seria mais prudente liberar o comércio mediante os protocolos que já funcionam para os estabelecimentos  com autorização para abrir as postas, pois assim os donos desses empreendimentos seriam os responsáveis por cobrar o uso de máscara e higienização das mãos dos clientes. Funcionando na clandestinidade não tem como exigir nem cobrar nada, a exemplo dos bares e venda de churrasquinho por toda a cidade.

Mas não há interesse da prefeita sob a alegação de um pico da doença que ninguém consegue prever nem a estruturação do Hospital de Campanha, dos postos de saúde e dos hospitais. A população não está colaborando com o isolamento social e boa parte do comércio funciona ao arrepio dos decretos de quarentena. As praças estão sempre cheias de gente fazendo caminhada ou praticando esportes coletivos.

Não se trata de um “liberou geral” nem de ignorar ou subestimar a gravidade da doença, mas da tentativa de organizar o que já está funcionando de forma clandestina ou a olhos vistos, como a aglomeração nos centros comerciais, feiras, bares, supermercados e locais de prática de esportes. O isolamento vertical seria mais prudente, conforme vêm afirmando alguns especialistas, bem como estabelecer distanciamento social, usos de equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores e clientes, limpeza dos locais e equipamentos e controle de lotação dos ambientes fechados.

Mas a prefeita prefere manter a fachada, mesmo sabendo que a Prefeitura não tem condições de fiscalizar nem cobrar nada, até porque Teresa se isolou na sua bolha e não aceita descer do palanque eleitoral nem do seu pedestal político para entendimentos com os demais poderes. Enquanto manda fechar tudo, contraditoriamente a prefeita mantém as obras municipais, em especial aquelas que vão servir de bibelô eleitoral quando ela deixar o cargo.

Ao mesmo tempo em que manda a população ficar trancada em casa, os processos sem licitação, que não têm nada a ver com a pandemia, não param. A Prefeitura acaba de comprar um terreno sem licitação, ao longo do trecho norte da BR-174, pelo valor de R$2,8 milhões, destinado a instalar uma usina de energia solar.

Aliás, os vereadores poderiam sair de seus casulos para investigar esses contratos de compras de placas de energia solar instaladas em prédios municipais. Até na comunidade indígena Darôra foi instalada uma usina de energia solar que nunca funcionou. Mas tudo fica oculto enquanto se mete medo na população.

É por isso que a prefeita quer tudo como está, num isolamento social que não é respeitado por boa parte do comércio, muito menos por uma parcela considerável da população. Afinal, enquanto ela faz birra política com o Governo do Estado, desviando o foco das atenções, os processos sem licitação seguem numa velocidade impressionante ao mesmo tempo em que as obras municipais caminham a passos acelerados para que sejam inauguradas quando começar a campanha eleitoral.

*Colunista

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