Prefeita Teresa Surita aconselha como proceder na chuva, no Twitter, enquanto população registra suas tragédias nos bairros
Em março deste ano, Teresa Surita autoriza início de obras no valor de R$42 milhões, ao lado de seu mentor e mestre, o ex-senador Romero Jucá (Foto: Divulgação/PMBV)

A prefeita Teresa Surita (MDB) tem, sim, asfaltado e recapeado ruas e avenidas de Boa Vista. Porém, a prioridade máxima são as áreas centrais, bairros nobres e algumas avenidas principais dos bairros periféricos. Ao se deslocar do Centro em direção aos bairros da zona oeste, é possível perceber que essas vias arteriais receberam asfalto.

Mas é só dobrar nas ruas paralelas para logo perceber ruas em terra batida ou com asfalto na buraqueira, além de muita lama neste período de inverno e poeira durante o verão. Recursos chegaram para asfaltar e drenar toda a cidade (sim, da zona oeste à zona leste, pobres e ricos), mas há uma óbvia concentração de obras nas áreas centrais, numa visível maquiagem.

Numa rápida pesquisa, é possível afirmar que somente a Prefeitura de Boa Vista, nos 20 anos de administração de Teresa, recebeu cerca de R$260 milhões para obras de infraestrutura. Assim que voltou à Prefeitura, em janeiro de 2013, a prefeita e o então governador Anchieta Júnior (já falecido) assinaram convênio com o Ministério dos Transporte que destinou R$50 milhões para obras conjuntas de recapeamento de ruas e avenidas.

Naquela época, essas mesmas avenidas, que estão sendo recapeadas hoje novamente pela Prefeitura, receberam nova camada asfáltica ainda que estivessem em boas condições, deixando os bairros periféricos na lama, poeira e buraqueira. O asfalto está sendo retirado para que essas avenidas recebam novo recapeamento.

Em março deste ano, Teresa Surita, ao lado do seu mentor e mestre, o ex-senador Romero Jucá (MDB), que faz as vezes de prefeito ad hoc, assinou ordem de serviço para início das obras de asfaltamento e drenagem de ruas da Capital, cujo valor foi de R$42 milhões. Ou seja, nesses dois mandatos seguidos, Teresa consumiu R$92 milhões (!) de recursos destinados a drenagem e asfalto, sem que a população da periferia sentisse a diferença.

A consequência dessa priorização das áreas centrais pôde ser sentida nesses dois últimos dias de chuva que caíram sobre a cidade. Bairros antigos, onde já havia obras de drenagem, alagaram. Nas redes sociais, moradores relataram que em uma década morando nessas localidades, suas casas nunca haviam sido invadidas pelas águas da chuva.

O que se pode observar disso é que as obras de drenagem foram realizadas no estilo “meia-boca”, subdimensionadas para dar vazão a uma chuva mais forte. Sempre foi assim. Aquela área da Feira dos Buritis, no bairro do mesmo nome, as obras de drenagem tiveram que ser refeitas, em anos anteriores, porque a tubulação não dava vazão às águas, submetendo os moradores, lojistas e comerciantes daquele setor a seguidas inundações, mesmo tendo obras de drenagem.

A alegação da prefeita e de seus asseclas é que a água escoa muito rápido. Mas ela não tem coragem de ir a estas residências invadidas pela água para falar isso pessoalmente àquelas famílias. Nem tem coragem de ao menos observar de longe e ver com os próprios olhos. O sofrimento dessas famílias é grande, pois as imagens gravadas durante a chuva mostram todos os seus móveis e eletrodomésticos tomados pela água.

A prefeita nunca explica onde torrou os R$92  milhões que a Prefeitura recebeu em 2013 e 2020. Nem para onde foi a montanha de R$260 milhões de seus 20 anos de mandato. Com esse dinheiro, era para Boa Vista ser uma cidade modelo, com tudo asfaltado e bem drenado. Mas temos uma cidade meia-boca, bonitinha, floridinha e asfaltadinha no Centro, e outra alagada, esburacada, feia e sem flores na periferia.

Só resta aos moradores dos bairros centrais seguir o conselho dado por Teresa na sua bolha virtual, o Twitter: fechar as janelas, desconectar aparelhos da tomada e evitar sair de carro na hora da chuva; e aos que moram na periferia, o conselho da prefeita é torcer para não chover mais. Simples assim.

*Colunista

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