Centro de Zoonoses deverá retomar serviço da carrocinha para cães (Foto: Divulgação)
Publicação no Diário Oficial confirma contratação de empresa licitada pela Prefeitura

No fim de mandato, a prefeita Teresa Surita (MDB) concluiu a licitação que indica a retomada do odiado serviço da “carrocinha” para recolhimento de cães e gatos nas ruas de Boa Vista. Odiado principalmente pelas entidades que lidam com o resgate de animais abandonados, inclusive essas organizações denunciaram a Prefeitura de Boa Vista, no ano passado, por maus-tratos desses animais.

Um contrato foi assinado pela Prefeitura, no dia 03 de junho, com uma empresa para aquisição de carros adaptados para transporte animais de pequeno porte, no valor de R$307,8 mil, veículos estes destinado à Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses (UVCZ). Significa o fim do discurso do “Iti Malia”, adotado no ano passado por Teresa, quando foi lançado o programa União pelos Animais, voltado à identificação com chip e o controle de natalidade de cães e gatos

A carrocinha também é odiada pela população, ainda que ela mesma seja responsável por abandonar os animais ou deixá-los à solta em via pública. Porém, a prefeita fez o juramento do “Iti Malia”, ao lançar o programa União pelos Animais, em fevereiro de 2019, destinado a cuidar dos animais abandonados, em situação de rua, e daqueles animais domésticos para que fossem bem tratados por seus donos.

Mas o programa municipal falhou por vários motivos: por falta de recursos destinados no orçamento municipal; pela ineficácia e inépcia das autoridades municipais, perdidas sem saber como dialogar com a sociedade; proposta da prefeita que jogava a maior responsabilidade para as clínicas veterinárias na castração e vacinação dos animais; e desinteresse municipal em dar prioridade ao controle de natalidade da população de animai vadios nas ruas da cidade.

Descaso com animais de rua é antigo

A incompetência  e desinteresse vem de longe. A Prefeitura de Boa Vista foi  obrigada pela Justiça a cumprir uma série de exigências na Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses (UVCZ), conforme sentença publicada no dia 23 de janeiro de 2019 no Diário Oficial de Justiça do Estado. A decisão foi  tomada depois que foram sacrificados 443 animais no período de 2015 a 2018, sem qualquer tipo de controle ou estatística.

A denúncia chegou ao conhecimento da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público de Roraima (MPRR) ainda em 2012, quando passou a investigar o extermínio dos cachorros. O procedimento para a morte dos animais ocorria sem o conhecimento do Conselho Regional de Medicina Veterinária. Os animais eram mortos sem anestesia e, na “filha da morte”, ficavam sem água e não passavam por exames para comprovar se estavam doentes ou não.

Com a decisão judicial, a Prefeitura foi obrigada a publicar, no Diário Oficial do Município e no mural da UVCZ, as estatísticas mensais sobre animais que dão  entrada, dos doados, esterilizados e eutanasiados. Ainda tem que descrever o estado clínico do animal e apresentar comprovação técnica da necessidade do sacrifício de cães e gatos para garantir o menor sofrimento ao animal.

O  MP apontou que o Centro de Zoonoses não fazia controle de entrada nem elaboração de laudos, prontuários e pareceres, muito menos existia  profissionais qualificados para realizar o procedimento. Todos os cães eram misturados, sem saber quais estavam sadios ou não. Tudo isso consta no Procedimento de Ação Civil Pública que foi transformado em Inquérito Civil Público, depois que o Município de Boa Vista se negou a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que adotasse as medidas para solucionar os problemas.

Campanha ‘Iti Malia’ foi para reverter imagem 

Teresa Surita lança programa União pelos Animais, chamado por ela de ‘Iti Malia’ (Foto: Jackson Souza/PMBV)

Na tentativa de reverter a imagem negativa que ficou a partir do extermínio de 443 animais no Centro de Zoonoses, que foi amplamente divulgada nas redes sociais no ano p assado, a prefeita Teresa Surita  usou sua conta no Twitter para lançar a proposta de uma campanha que ela chamou de “Iti Malia”, mas não houve muita repercussão. Ela lançou o projeto União Pelos Animais que visava identificar e fazer o controle de natalidade de cães e gatos, em fevereiro do ano passado.

Porém, mais uma vez sua tentativa de limpar a imagem de exterminadora de cães não surtiu efeito. A maioria das clínicas veterinárias particular não se mostrou interessada em participar, uma vez que essas empresas já faziam uma parceria com entidades filantrópicas que recolhem e cuidam de cães e gatos que estão na rua.

O programa já nasceu fadado ao fracasso, pois não havia destinação de recursos previstos no Planejamento Orçamentário para a realização dessa ação, o que significava que as clínicas veterinárias que aderissem ao programa “Iti Malia” poderiam arcar com um ônus muito alto, sem perspectiva de que receberiam por esse trabalho.

E assim falhou a tática do “Iti Malia”, e agora a odiada “carrocinha” será ressuscitada, no fim do mandato, o que deverá ligar o alerta para abrir os olhos das entidades que lidam com animais abandonados e o próprio Ministério Público, para que fiscalizem a reimplantação do serviço de recolhimento de animais, a fim de que não seja reimplantado a nova matança de cães e gatos.

*Colunista

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