Eleições deste ano terão forte reflexo do que aconteceu durante pandemia (Imagem: Divulgação/Google)

As eleições municipais deste ano terão dois grandes significados. O primeiro deles é saber o que os políticos que disputam os cargos que estão mais perto do povo (vereador e prefeito) aprenderam com os sérios problemas causados pela pandemia do coronavírus. A duras penas, os prefeitos insistem em não querer aceitar que erraram feio ao não investir no atendimento primário, relegando os postos de saúde a unidades sem importância.

O outro grande ponto deste pleito é a briga pela hegemonia política do grupo político liderado pelo ex-senador Romero Jucá (MDB), o grande mentor e mestre da prefeita Teresa Surita (MDB). Jucá foi o grande perdedor das últimas eleições, quando não conseguiu reeleger-se senador, enquanto Teresa foi a grande vencedora das eleições municipais anteriores.

Em outras eleições, Teresa corria livre com sua estratégia de vitimismo político, sempre apelando para esta tática quando é criticada, além do grande investimento de recurso público em publicidade e mídia, que criava uma realidade superdimensionada e favorável para a sua imagem.

Agora teremos uma campanha em meio a uma pandemia, que se seguiu com um inverno forte que expôs a fragilidade do sistema de drenagem e pavimentação, concentrados na área central da cidade, e por uma queda sensível do poder da mídia tradicional e a definitiva ascensão das redes sociais, a nova protagonista na política, uma vez que a maior parte da campanha eleitoral será pela internet.

Os sinais desse novo cenário já podem ser sentidos. Jucá não é mais o todo poderoso político em Brasília, Teresa não é mais absoluta rainha da mídia tradicional e a campanha eleitoral terá um território livre na internet, onde as pessoas comuns também terão papel fundamental em sua atuação nas redes sociais, no que pese as fake news que começaram a ser combatidas.

Nas últimas eleições municipais, Teresa Surita escanteou aliados, esnobou apoios políticos, inclusive dentro da Câmara de Vereadores e na Assembleia Legislativa, e tentou ao máximo descolar de sua imagem do então senador Romero Jucá. Conseguirá ela manter essa hegemonia apoiando o candidato que ela indicou? Conseguirá ela descolar-se de Jucá, cuja sobrevivência agora depende da manutenção da hegemonia política de Teresa?

Os primeiros golpes dos novos tempos já começaram a ser sentidos pelo grupo Teresa/Jucá. Pela primeira vez, os dois estão experimentando a mão pesada do território livre que representam as redes sociais, quando passaram a ser constantemente monitorados pela opinião pública e por seus críticos políticos, pois antes o grupo era cercado de um poder absoluto que não só tinha veículos de comunicação nas mãos como comprava espaço para calar seus críticos.

Outra tática sempre foi usar a Justiça como instrumento de censura, processando quem ousasse  criticá-los, provocando uma autocensura naqueles que não têm condições de enfrentar um longo processo judicial ou por temerem algum outro tipo de represália. Há gente que responde a uma fila de processos até hoje. Mas os tempos estão mudando, e membros da Justiça já estão cientes desse uso político do processo judicial para silenciar críticos.

A campanha eleitoral acontecerá também dentro do chamado novo normal, com uma população que ainda está sendo severamente castigada pela Covid-19, principalmente pelas falhas graves no atendimento básico. Muitas famílias foram penalizadas com a morte de entes queridos, feridas que não são saradas facilmente e que irão cobrar severamente investimento prioritário em saúde pública.

Enfim, a disputa eleitoral se dará dentro de um novo contexto jamais visto em outros tempos. O espaço para enganações estará cada vez mais estreito. Está havendo uma forte transição na vida das pessoas e isso será refletido na política. Ninguém poderá se sentir mais hegemônico só por palavras e mídia. As cobranças serão maiores e o monitoramento mais constante. Tudo o que o grupo de Jucá nunca foi acostumado a viver antes.

Teremos um “novo normal” também na política…

*Colunista

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