Postagem em que o deputado federal Nicoletti tenta dizer que operação da PF teria sido obra dele (Imagem: Reprodução)

A campanha eleitoral deste ano tem servido para revelar algumas nuances da face dos políticos que estão batendo à nossa porta, ainda que de forma virtual, para pedir voto. Um dos casos mais emblemático está sendo o do deputado federal Nicoletti (PSL), um calouro que se elegeu como “não político”, mas que foi tocado pela “mosca azul” da política partidária.

Eleito pela onda bolsonarista, tornou-se uma surpresa para a maior parte da população roraimense, pois sequer era conhecido por sua profissão, um policial federal rodoviário restrito ao seu meio. Mas o sentimento das pessoas por “não políticos” e a repulsa pela corrupção acabou por beneficiá-lo.

Ainda que um calouro, sem ações efetivas para o Estado, nem antes nem depois de eleito, Nicoletti não tardou para se revelar. Está pensando em ser prefeito, deslumbrado depois de ser contaminado pela “mosca azul”. Sua primeira estratégia para aparecer foi pedir o impeachment do governador Antonio Denarium (ex-PSL e atualmente sem partido), o qual também foi eleito na mesma onda do “não político”.

Nicoletti achava que, se misturando no limbo dessa política, iria favorecer o florescimento de seu nome como o “novo político” que o guindaria a patamares mais altos, como a Prefeitura de Boa Vista. Ficou iludido com a repercussão, pois seu nome acabou por aparecer na mídia, ainda que não totalmente favorável.

Antes disso, seu comportamento já chamava atenção. Um de seus primeiros posicionamentos antes mesmo de assumir na Câmara Federal foi defender a reabertura do garimpo e, em uma audiência na Assembleia Legislativa para discutir a questão energética, no início do ano, falou grosso para a plateia, dizendo que, como policial rodoviário, poderia dar voz de prisão aos índios Waimiri-Atroari que o impedissem de passar no bloqueio montado na BR-174, no Jundiá, perto da divisa com o Amazonas, no Sul de Roraima.

Só jogo de cena, tanto na questão da mineração, assunto este explorado por muitos políticos antigos, especialmente o ex-senador Romero Jucá (MDB), um representante raiz das grandes mineradoras, conforme já foi exposto nesta coluna (leia aqui e aqui); quanto na questão da corrente no Jundiá, que é usada pelo verborreia política para atiçar a opinião pública a seu favor.

Sobre a defesa do garimpo, Nicoletti se calou porque sabe que ele não tem nenhuma proposta e também sabe que o buraco é mais em cima. O mesmo na questão da corrente em Jundiá, onde encenações várias foram feitas, a mais recente delas com a performance da motosserra, efeito plástico para outro político testar seu nome como pré-candidato a prefeito.

Sua fala de dar voz de prisão a índio serviu apenas para revelar sua arrogância pessoal e sua postura política equivocada, ainda oculta até aquele momento, pois coragem ele não tem de fazer isso por vários motivos, entre eles a legalidade que o seu cargo político exige e o impõe.

Já inebriado pela politicalha, por ver seu nome sendo alvo de polêmica, como todo político profissional deseja, Nicoletti foi mais longe, pois acha que estar em evidência o habilita para se profissionalizar político de carteirinha. Ele pisou no território escorregadio do truque de dizer que fez sem nunca ter feito nada: tentou ser o pai da operação Virion, da Polícia Federal.

Mas o deputado foi desmentindo logo em seguida pela própria PF e por um agente da instituição federal, o que Nicoletti achou inaceitável, pois como deputado federal agora ele não se sente mais um “normal”, mas sim um parlamentar federal que só aceita ser contestado por alguém com “alta patente”.

Foi assim que um calouro “não político” terminou contaminado pelos meandros da política. E agora se acha um digno representante para chegar à Prefeitura de Boa Vista, ainda que seu maior feito até agora tenha sido  pedir o impeachment do governador (que foi negado), por ter ameaçado prender índio no Jundiá (o que jamais vai ocorrer) e por ter dito que a operação da Polícia Federal teria sido obra dele, tentando parecer que está atuando contra a corrupção, fato que também foi negado pela própria PF.

Mais um que vai passar pela política roraimense desta vez não por se esconder por trás de um mandato, mas por tentar ser o que não é. E isso é muito perigoso, pois a velha política se alimenta disso, de quem tenta se passar por aquilo que não é ou nunca fez. O ex-senador Jucá é exímio em fazer isso, por isso hoje amarga uma derrota nas urnas depois que o povo se cansou de seus sofismas.

*Colunista

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