Essa é a situação da Escola Pastor Granjeiro, no bairro Caranã, tomada pelo mato (Foto: Divulgação)

Muito preocupante o que está ocorrendo na educação estadual. Enquanto o Estado de Roraima não atingiu parte da meta do Ideb 2019, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC), a Secretaria Estadual de Educação (Seed) tem se envolvido na campanha eleitoral.

Gestores, técnicos e servidores foram flagrados (por fotos que eles mesmo tiraram e que depois vazaram nos grupos de WhatsApp e redes sociais) participando da convenção partidária que confirmou a candidatura para a Prefeitura de Boa Vista da deputada federal Shéridan Oliveira (PSDB) e de seu vice Zé Cathedral (PSD). Detalhe: começaram a chegar por volta das 16h ao local da convenção, o que significa que eles “mataram” expediente ou foram dispensados por ordem superior, o que seria mais grave ainda.

Se o governador Antonio Denarium (sem partido) anunciou que não iria apoiar nenhum candidato à Prefeitura no primeiro turno, então significa que os gestores da Educação, cuja secretária é cunhada dele, Leila Perussolo, estariam agindo por contra própria, demonstrando falta de comando pelo governador. Ou o governador estaria sabendo e de acordo com tudo isso?

Ao usar a estrutura de uma secretaria para declarar apoio a uma candidatura na disputa municipal, tal fato merece uma pronta resposta da Justiça Eleitoral a fim de apurar uma conduta proibida, um flagrante atentado ao princípio basilar da legislação eleitoral que é a preservação de forças no pleito eleitoral.

Conforme esse princípio, a participação em campanha é um direito de todos os cidadãos, mas o agente público precisa respeitar as normas eleitorais e os princípios éticos que regem a Administração para que não haja uso da máquina pública de forma indevida. Os agentes públicos podem participar das eleições desde que fora do expediente.

Reflexos da pandemia e abandono de escolas

Que seja investigada a conduta vedada, mas o que interessa principalmente à sociedade é o uso da Educação em campanha eleitoral, enquanto os gestores deveriam estar preocupados com a situação da rede estadual de ensino, que foi afetada severamente pela pandemia, comprometendo não apenas um ano de vida escolar, mas o futuro de crianças e adolescentes, de uma geração que já vem enfrentando sérios problemas devido à falta de investimento na Educação pelos governos.

Enquanto o ensino remoto tem comprometido a formação de quem não tem acesso à internet ou não tem condições de ter um celular ou um computador em casa, o Governo do Estado não tem dado a devida atenção à estrutura física da escola, se preparando para que haja um retorno presencial sem mais transtornos além do que já foi provocado pelo coronavírus.

O que tem sido visto são escolas abandonadas, na Capital e principalmente no interior e áreas indígenas. Não precisa ir muito longe para flagrar o desrespeito com a estrutura da educação. A Escola Estadual Pastor Fernando Granjeiro, no bairro Caranã, por exemplo, está sitiada pelo matagal. Até os muros estão tomadas por matos, revelando uma situação visível de abandono.

Sem atingir meta do Ideb

Se a atual situação é de muita preocupação devido aos efeitos devastadores da pandemia sobre a educação, a realidade já não andava bem antes disso. Conforme os dados do Ideb 2019, Roraima não atingiu a meta para os anos finais (6º ao 9º ano) do ensino fundamental, junto com mais 18 estados e o Distrito Federal.

Esse quadro preocupante só revela que a gestão da Educação deveria estar preocupada em reverter os números negativos e deveria estar planejando ações para amenizar o impacto da pandemia e preparar a volta presencial, para que não faltem professores, para que a estrutura física das escolas estejam prontas para receber os alunos e para enfrentar a defasagem que fatalmente irá ficar neste ano difícil.

Mas, não. Em vez disso, o envolvimento com a politicalha. É lamentável que a Educação estadual esteja nesta condição, largada ao descaso e envolvida em campanha eleitoral.  O governador Denarium tem a obrigação de explicar o que está acontecendo naquela pasta, pois a Educação é a base para um povo instruído, que por sua vez é a base para uma sociedade menos injusta e mais preparada para o futuro.

Que ele se explique politicamente aos seus aliados sobre a questão partidária, pois esse é um problema político dele e de seu grupo, mas o mais importante e imprescindível, para o bem do Estado e de seu povo, é que ele não permita que a Secretaria de Educação esteja desviando-se de sua importante finalidade para o que jamais deveria servir: à política partidária.

*Colunista

 

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