Platô da Serra do Tepequém é o símbolo do turismo: abandono por parte dos governos (Foto: Jessé Souza)

O feriado de 7 de Setembro deste ano foi definitivo para mostrar a força da Serra do Tepequém como o principal ponto turístico de Roraima e o único realmente consolidado não pelas ações do poder público, mas pelo esforço da comunidade local e dos empreendedores da iniciativa privada que decidiram investir lá, apesar de todos os fortes obstáculos.

Infelizmente, o ponto negativo deste surpreendente episódio é que a chegada em massa de milhares de pessoas a Tepequém foi em meio a uma pandemia, sem que as pessoas se precavessem e com as autoridades desprevenidas, como sempre, além de uma invasão que era impossível de ser prevista e contida, devido às atuais condições, sem as estruturas mínimas adequadas para organizar o fluxo de pessoas e a exploração do turismo.

Até aqui, restam só promessas. A principal autoridade que poderia ser interessada em estruturar aquela região, localizada no Município do Amajari, Norte do Estado, seria a então governadora Suely Campos, que além de dona de fazenda na localidade é conhecedora da realidade daquele torrão. Mas o que ela fez? Apenas promessas e obras de reforma de pontes de madeira. E só.

A manutenção da estrada, a RR-203, que dá acesso não só a Tepequém como às principais regiões produtoras e fazendas do Amajari foi iniciada, para logo em seguida ser abandonada completamente, em uma debandada não só naquela obra, mas em todas as ações daquele governo, logo que o mentor do grupo, o marido dela, ex-governador Neudo Campos, foi para a prisão.

O resto da história já sabemos, que culminou no sofrível fim de um dos piores governos de todos os tempos, com Suely deixando o cargo por meio de uma intervenção federal. E ficou para trás a promessa que o governo dela fez para a comunidade do Tepequém: a construção de um portal e de um mirante na cachoeira mais famosa, a do Paiva, que iria alavancar definitivamente o turismo naquela localidade.

De lá para cá, apenas promessas seguiram-se. O atual governador, Antonio Denarium (sem partido), que está pegando as mesmas trilhas de sua antecessora, prometeu reformar a estrada, a RR-203 (ninguém sabe exatamente se um novo asfalto ou só recuperação), mas foi uma ação visivelmente politiqueira, já que ele foi lá no auge das articulações para lançar candidaturas municipais. Todos esperam que a promessa vire realidade.

Já no auge da campanha eleitoral deste ano, na semana passada, o deputado federal Hiran Gonçalves (PP), ressuscitou a promessa de Suely Campos e anunciou que o tal do portal e do mirante serão construídos, durante vídeo gravado ao lado do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro. Mas isso não é para ser levado muito a sério, pois a esposa do parlamentar é candidata à Prefeitura de Boa Vista. Ou seja, mais uma promessa eleitoral.

E assim a Serra do Tepequém vem sendo tratada, entre descaso e esquecimento, entre politicagem e engabelações. A iluminação pública é precária, o reparo das estradas de acesso às cachoeiras é feito com dinheiro de bingo realizado pela comunidade, a definição fundiária é um enredo bizarro de suspense, ações ambientais e de incentivo ao desenvolvimento do turismo inexistem.

A Serra do Tepequém já mostrou sua potencialidade natural e a vocação inquestionável para o turismo, mas os políticos e governantes desprezam tudo, pois eles sabem que a gestão do turismo dá forças e autonomia para a comunidade e empreendedores, sem que o dinheiro circule necessariamente pelas mãos deles.

Se desse para montar esquemas por meio do turismo, que verdadeiramente gera emprego e renda, os políticos já haviam tomado providências, ainda que por meio de ações paliativas, algo que sequer existe. Até aqui, o único que realmente fez pelo Tepequém foi o então governador Ottomar Pinto, já falecido, que teve peito e iniciativa para mandar asfaltar uma estrada até a Vila do Paiva, a qual só era vencida a pé ou por meio do lombo do gado.

Os demais políticos só engabelaram por meio do gogó. Eles sabem que o turismo em Tepequém é irreversível. A invasão do 7 de Setembro já deu o último recado. Mas os políticos não querem o desenvolvimento do turismo. Eles querem a pata do boi e a soja (que enriquecem somente uns poucos), além das promessas (que garantem os votos dos incautos).

Os políticos sabem também que somente o asfalto já seria uma grande ajuda, por isso eles retardam o quanto for necessário. Definitivamente, o turismo dá ojeriza em político cretino.

*Colunista

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here