General Mourão é o presidente do Conselho da amazônia legal criado em 2020. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quarta-feira que a operação militar na Amazônia que custou ao menos R$ 6 milhões é “normal” e que o fato de ocorrer durante a visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao Brasil foi “coincidência”.

“Isso é normal dentro do Exército, é feita anualmente em todos os comandos militares de área. A regra básica é a seguinte: treinamento difícil, combate fácil. O Exército tem que estar pronto para qualquer situação, se ele não treinar… É que nem time de futebol: se não treina, perde o jogo” afirmou no Palácio do Planalto.

Entre 8 e 22 de setembro, o Exército brasileiro gastou R$ 6 milhões somente em combustível, horas de voo e transporte para simular uma guerra entre dois países na Amazônia, numa operação militar inédita. Os militares decidiram criar um campo de guerra em que um suposto país “Vermelho” invadiu um país “Azul”, sendo necessário expulsar os invasores.

Apesar de dizer que se trata de algo “normal”, o vice-presidente afirmou na manhã de hoje que a operação foi “inédita, em termos de combate convencional”, uma vez que, segundo Mourão, os treinamentos militares mais comuns na Amazônia são os de Garantia da Lei e da Ordem, vigilância de fronteira e estratégia da resistência.

Questionado sobre a operação ocorrer em um momento de animosidade com a Venezuela, o vice-presidente disse que o Brasil não tem problema com o “país Venezuela”, apesar de não concordar com o atual governo de Nicolás Maduro, por considerá-lo uma ditadura.

— O governo brasileiro não tem nenhuma tensão em relação à Venezuela. Nós, simplesmente, não concordamos com o atual governo que tá lá, o governo Maduro, por considerar que é uma ditadura, não respeita os direitos humanos do povo venezuelano, mas nós não temos problemas com o país Venezuela — disse.

Mourão disse, ainda, que as ameaças existentes no mundo hoje são “difusas” e podem “ocorrer da noite para o dia”. Por isso, acrescenta, seria necessário “estar pronto para o que der e vier”. Segundo o vice-presidente, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.

O Itamaraty, por sua vez,  afirmou, em resposta aos questionamentos do GLOBO, que a iniciativa da visita de Pompeo a Roraima partiu do secretário de Estado americano. O local escolhido foi Boa Vista por “tratar-se do local onde estão as instalações da Operação Acolhida, para a qual os Estados Unidos já contribuíram com US$ 64 milhões”, segundo o Itamaraty. Não há “qualquer relação” entre a visita e a simulação de guerra na Amazônia feita pelo Exército brasileiro, conforme resposta do órgão na noite desta quarta-feira.

No Congresso, deputados petistas criticaram a ação e a chamaram de “escandalosa” e “teatro”. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o gasto de pelo menos R$ 6 milhões é um desperdício de dinheiro público. Em suas redes sociais, a deputada criticou a simulação afirmando que Bolsonaro faz “papel vergonhoso de capacho dos EUA”.

“Gasto de R$ 6 mi para simular guerra contra Venezuela é escandaloso! Exército podia ajudar em obras, combater queimadas, mas Bolsonaro desperdiça dinheiro público e faz papel vergonhoso de capacho dos EUA. Quer envolver o país numa guerra insana contra um país em dificuldades?”, escreveu a petista nas redes.

José Guimarães (PT-CE), também em suas redes sociais, disse que o governo nega ter dinheiro para os auxílio emergencial, “mas mas sobra pra fazer teatro”. “Não há caixa para conter incêndios na Amazônia e no Pantanal, mas não falta para uma simulação sem fundamento”, completou.

Já a deputada e líder do PCdoB na Câmara, Perpétua Almeida (AC), ponderou que as Forças Armadas têm resistido a posições mais belicosas em relação à Venezuela dentro da estrutura governamental atualmente, inclusive desautorizando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ela relembrou que, no ano passado, quando o titular do Itamaraty demonstrou ser favorável ao Brasil apoiar uma intervenção militar dos EUA no país vizinho, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, afirmou que Ernesto Araújo não falava pelo Exército brasileiro.

— Penso que a operação das Forças Armadas na Amazônia, por mais que tenha algumas singularidades, não difere de operações anteriores que chamaram a atenção para a soberania brasileira sobre a Amazônia — disse ela ao GLOBO.

Entretanto a deputada —  que já presidiu a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara em 2012 e foi secretária de Produtos de Defesa  do Ministério da Defesa — criticou a visita de Mike Pompeo a Roraima no período.

— Quanto à visita do secretário de Estado americano a Roraima, foi uma ação de intromissão na nossa soberania, consentida pelo governo Bolsonaro e acolhida pelo seu ministro Ernesto Araujo — completou.

O vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional no Senado, Marcos do Val (Podemos-ES), afirmou não ver nada de anormal na simulação realizada. Ele disse que o Brasil mantém um ótimo relacionamento com os países vizinhos e não há nenhum recado sendo mandado à Venezuela.

— As Forças Armadas estão e sempre estarão em treinamentos simulados. Trabalhei com treinamento para forças especiais de segurança ao redor do mundo e isso é totalmente normal — disse ele.

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