Crianças venezuelanas pedem dinheiro no semáforo do cruzamento das avenidas Santos Dumont e Ville Roy

O deputado federal Antonio Nicoletti (PSL), candidato à Prefeitura de Boa Vista, usa uma tática reprovável para angariar votos dos eleitores explorando um sentimento desprezível que repousa em boa parte das pessoas: o ódio aos estrangeiros, comportamento conhecido pelo nome de xenofobia.

A chegada em massa dos venezuelanos provocou uma repulsa em boa parte da população roraimense, cuja boa parte das pessoas culpa os estrangeiros pela superlotação em hospital, maternidade e postos de saúde, além da ocupação do espaço urbano e a saturação do mercado de trabalho.

A mendicância, a marginalidade e a crescente onda da bandidagem engrossada por maus elementos estrangeiros, que se aliam a bandidos brasileiros, são o  principal motivo do descontentamento dos brasileiros. Mas isso não é motivo para colocar todos os venezuelanos no mesmo saco do desprezo.

Quando Nicoletti vai para a sua rede social, dizer que na sua suposta administração que permeia sua mente não haverá prioridade para os venezuelanos, ele vai mais além do que explorar o descontentamento da população com o quadro criado pelo imigração desordenada.

O candidato a prefeito também joga irresponsavelmente os brasileiros descontentes e enraivecidos contra todos os estrangeiros, principalmente neste momento de extremismo a que chegou o Brasil, os quais também são detentores de direitos garantidos por acordos internacionais e pela lei brasileira de imigração.

O Estado de Roraima precisa de uma política que dê garantias ao desenvolvimento de nossa sociedade como um todo, incluindo essa grande parcela de estrangeiros que nunca mais irá embora ou daqueles que terão uma dupla nacionalidade em idas e vindas. Boa parte dos venezuelanos irá viver para o resto de suas vidas aqui, então são necessárias políticas públicas que visualizem tal realidade.

Quem já provou que queria fazer da chegada em massa de venezuelanos um oportunismo político foi a prefeita Teresa Surita (MDB), a qual teve de recuar depois de anunciar um aluguel social para os venezuelanos e chamou para si uma imagem negativa. Ela se negou a pagar alimentação para as crianças venezuelanas que viviam em abrigo, o que levou o Juizado da Infância a obrigar a Prefeitura a cumprir sua parte.

Teresa determinou que os vereadores da Capital barrassem qualquer proposta ao Orçamento Municipal destinada a políticas sociais que atendessem aos venezuelanos, o que termina por fomentar problemas sociais sérios, a exemplo de crianças pedintes nos semáforos da cidade. Isso não pode ser um comportamento de gestores que pensam no futuro da Capital.

O candidato Nicoletti não tem qualquer proposta que pense nesse futuro inevitável. Os venezuelanos passaram a fazer parte de um novo problema que precisa ser equacionado, queira ou não  uma boa parcela da sociedade, uma vez que o cerne desta questão é a falta de política verdadeira para o Estado, que já não estava sequer preparado para atender às demandas que existiam antes da chegada em massa de venezuelanos.

Nicoletti mostra que não quer saber de nada disso e que não tem o menor perfil para conduzir essa nova realidade que se apresenta. Pior: incentiva o comportamento reprovável da xenofobia, que não leva o Estado a lugar nenhum, a não ser alimentar uma ferida aberta na convivência entre brasileiros e venezuelanos.

É por isso que esse comportamento do candidato deve ser repudiado e combatido. Boa Vista e o Estado de Roraima como um todo precisam de inteligência e competência para seguir esse caminho que o país vizinho nos colocou, encarando os desafios e corrigindo os erros que certamente ocorrem diante de  um cenário completamente novo. Nicoletti comprova que não tem a menor noção sobre esse quadro, o que é lamentável.

*Colunista

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