Romero Jucá age como se fosse o próprio candidato à Prefeitura de Boa Vista (Imagem: Reprodução)

Ao não conseguir se reeleger por 426 votos, nas eleições passadas, o ex-senador Romero Jucá (MDB) tem apostado tudo nas eleições municipais de Boa Vista como sobrevivência política e a manutenção de seu poder político e o império econômico montado desde sua chegada a Roraima, em 1998.

A prefeita Teresa Surita (MDB), com quem ele era casado quando aportou em terras Macuxi, no tempo de Território Federal, sabe que tem cacife para ter vida própria na política, mas ela não consegue se livrar das amarras de seu mentor e mestre, uma vez que Jucá sempre fez parte dos acordos que vão além da política partidária.

Teresa acompanhou o início da construção desse império de perto,  logo depois que Jucá chegou às presidências da Fundação Projeto Rondon, em 1985, e da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1986. Foi a partir da Funai que Jucá fez acordos com as mineradoras, madeireiros e grileiros, o que possibilitou ele ser nomeado governador biônico do Território Federal de Roraima.

Foi no órgão indigenista que Jucá acumulou 18 processos nas costas por corrupção, formação de quadrilha e peculato. Mas isso não impediu que os militares e as grandes mineradoras, madeireiras e todos os tipos de grileiros emplacassem Jucá como governador de Roraima, no governo de José Sarney.

Naquela época, Jucá ficou conhecido como “Leite Ninho”, pois se dizia nas rodas políticas que puseram sobre sua mesa, no Palácio do Governo, uma lata dessa marca de leite em pó, cheia de ouro, como pagamento de seus serviços. Ele também era chamado de “o homem dos 35 garimpos”, que seria o número de empresas mineradoras controladas indiretamente por ele, através de testas de ferro.

Essa sua relação com a mineração persistiu até os dias atuais, inclusive, durante os três mandatos como senador, por seguidos anos ele foi acusado de defender um projeto de lei que regulamentava mineração em terras indígenas  a fim de beneficiar a empresa de mineração da filha, em Roraima.

Desde que chegou, seu grande projeto é o que autoriza a mineração em terras indígenas, o qual ele sempre tentou aprovar durante todos os anos de mandato. A mineração para grandes empresas é a sua missão que ele nunca conseguiu.

Apesar de todo o seu poderio e influência, Jucá nunca conseguiu eleger-se  governador, nem na primeira disputa no recém-criado Estado de Roraima, em 1990, quando perdeu a eleição para o brigadeiro da Aeronáutico, Ottomar de Sousa Pinto. E, atualmente, sua grande aposta é Teresa à frente.

Desde que chegaram, Jucá tinha planos de estabelecer-se na política junto com a então esposa, Teresa. Ele fixou-se na politica brasileira, defendendo  interesses familiares ou dos grupos políticos que se revezam no poder, enquanto Teresa estabelecia-se em Boa Vista, executando os grandes planos de Jucá.

Foi assim que Jucá passou a ser influente em todos os governos, independente da ideologia partidária.  Tão influente que os 18 processos nas costas, sob acusação de diversas irregularidades à frente da Funai, nunca deram em nada.

Atualmente, são 12 processos contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), boa parte referente à Operação Lava Jato, contra a qual ele apareceu tramando na gravação vazada em 2016. Até agora, nada de novo.

 

Poderio econômico em jogo

 

Não se trata apenas de um poderia político que Jucá tenta manter nas eleições deste ano. Está em jogo o império que ele continuou construindo mesmo depois de não conseguir se eleger governador de Roraima, em 1990, durante três décadas seguintes, boa parte delas como senador.

Conforme a revista Época, foi montado um verdadeiro império econômico com a ajuda de pelo menos dez empresas ligadas diretamente a parentes e supostos “laranjas’ do  então parlamentar.

Gráfico da Revista Época mostra empresas ligadas a Romero Jucá

É neste cenário que Jucá aposta tudo na eleição do candidato à Prefeitura de Boa Vista, que pede votos com a foto dele colado na imagem da prefeita. Teresa e Jucá sabem que precisam investir tudo para manter o império que os dois construíram desde que chegaram ao Estado.

Além desse império, têm as grandes empresas de São Paulo que ganham milhões nas obras e serviços prestados à Prefeitura de Boa Vista. Uma delas, a Sanepav, já faturou quase meio bilhão (isso mesmo: R$500 milhões!) nos seguidos mandatos de Teresa.

É tudo isso que está em jogo nas eleições municipais deste ano. E quem mais tem a perder é Jucá, que luta para voltar ao poder e sentiu que não pode conseguir mais governar Roraima como ele sempre quis.

*Colunista

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