A capacidade de adaptação dos países às mudanças causadas pelo aquecimento global pode acabar. As mudanças podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050 caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam drasticamente reduzido nessa década. A afirmação é do relatório da Chatam House. A empresa é uma think tank britânica de pesquisa sobre o desenvolvimento internacional.

Think tank são instituições que se dedicam a produzir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos. O alerta está na Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas. O documento foi desenvolvido para subsidiar tomadas de decisões dos chefes de Governo e ministros antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). O evento está marcado para ocorrer de 31 de outubro a 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia.

De acordo com o pesquisador sênior do Programa de Meio Ambiente e Sociedade da Chatham House, Daniel Quiggin, as metas estabelecidas por muitos países para neutralizar as emissões de carbono são uma esperança, embora, conforme ele, não passem de promessas.

“Muitos países não têm políticas, regulamentações, legislação, incentivos e mecanismos de mercado proporcionais para realmente cumprir essas metas. Além disso, os NDCs [da sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada] revisados globalmente ainda não fornecem uma boa chance de evitar o aquecimento em 2ºC. Portanto, devemos lembrar que muitos cientistas do clima estão preocupados que, além dos 2ºC, uma mudança climática descontrolada possa ser iniciada”, alerta.

As metas nacionais foram determinadas a partir do Acordo de Paris, tratado negociado durante a COP21, em 2015, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. O acordo rege a redução de emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020, para tentar manter o aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século, num contexto de desenvolvimento sustentável.

Metas não garantem a neutralidade do carbono

“O balanço zero líquido das emissões depende de tecnologias de emissão negativa, que atualmente não são comprovadas empiricamente em escala comercial. Em resumo, as metas que os países buscam estão se movendo na direção certa. No entanto, ainda não conseguem evitar a devastadora mudança climática. E as políticas de apoio às metas existentes são insuficientes para atingir essas metas”, disse Quiggin.

Ondas de calor

A avaliação, lançada essa semana em Londres, aponta que a falta de medidas concretas por parte dos governos pode levar a temperaturas extremas a partir da década de 2030. Essa mudança causaria 10 milhões de mortes ao ar livre. Ondas de calor anuais podem afetar 70% da população mundial e 700 milhões de pessoas estarão expostas a secas severas e prolongadas todos os anos.

O documento também alerta para a redução de 30% na produção agrícola até 2050. No mesmo período 400 milhões de pessoas não poderão mais trabalhar ao ar livre por causa do aquecimento global. Para 2040, há uma expectativa de perda de rendimento de pelo menos 10% nos quatro principais países produtores de milho: Estados Unidos, China, Brasil e Argentina.

Na virada do próximo século, um aumento de 1 metro no nível do mar pode aumentar a probabilidade das grandes inundações em cerca de 40 vezes para Xangai, 200 vezes para Nova York e mil vezes para Calcutá.

Esforços globais dão menos de 5% de chance de manter o aquecimento abaixo de 2°C

“Sem ações radicais em todos os setores provavelmente resultarão em milhões de mortes adicionais na próxima década. Temperaturas extremas, quedas dramáticas nos rendimentos agrícolas e secas severas prolongadas serão realidade nesse futuro. Ainda há uma janela de oportunidade real para uma ambição muito maior de todos os governos para evitar os impactos mais catastróficos”.

De acordo com a avaliação da Chatham House, o ritmo atual dos esforços de descarbonização podem segurar o aquecimento até 2100 em 2,7°C, mas a chance de a temperatura média do planeta subir 3,5°C é de 10%. Conforme o pesquisador, as restrições de mobilidade ocorridas por causa da pandemia da covid-19 contribuíram apenas momentaneamente para a redução das emissões.

“Nós consideramos isso, mas dado que as emissões se recuperaram muito rapidamente, e agora estão subindo novamente, o breve alívio oferecido pelos bloqueios nas emissões foi insuficiente para mudar nossa avaliação do ritmo e gravidade das mudanças climáticas”, explica.

A Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas é o primeiro de uma série de relatórios de pesquisa aprofundados que a Chatham House vai lançar até a COP26, analisando as consequências do aquecimento do planeta e indicando as ações que precisam ser tomadas para evitar o desastre climático. O trabalho é feito por cientistas e analistas políticos no Reino Unido e na China.

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