Aeronave apreendida durante operação em área de garimpo. Foto: Exército Brasileiro/divulgação

Uma reportagem da agência internacional de notícias Associated Press mostra que aeronaves – que não têm autorização nem planos de voo, e que muitas vezes nem têm número de registo, porque este foi apagado ou alterado, que voam a baixa altitude para não serem detectadas – formam a espinha dorsal da extração ilegal de ouro em terras indígenas na Amazônia brasileira. O texto, em inglês, é assinado pelos repórteres Sam Cowie e David Biller.

Representantes federais, estaduais e peritos ambientais afirmam que sem essa estrutura, que está muito bem montada, estas operações entrariam em colapso mas a verdade é que pouco tem sido feito, segundo a reportagem.

Falta vontade política

Robert Muggah, diretor da equipe de investigação e Inovação do Instituto Igarapé, explica que se continua a assistir “a esta frustrante falta de vontade política” de se envolverem naquele que é “um problema devastador que contribui para o desmatamento significativo na maior floresta tropical do mundo”. Ele salientou ainda que muita dessa “expansão na extração ilegal de ouro acontece em territórios indígenas e em áreas protegidas”.

Combate ao crime

As Forças de Segurança intensificaram esforços para identificar e apreender aviões em Roraima mas é difícil encontrar o fio à meada. “A localização dos seus proprietários é dificultada pelo facto de estas estarem, normalmente, registadas em nome de familiares, trabalhadores ou cônjuges que se recusam a falar”, diz a agência.

Ainda assim, fontes policiais não identificadas disseram à AP terem descoberto os verdadeiros proprietários da maioria das aeronaves apreendidas. Geralmente, são pessoas que lavam dinheiro investindo em hotéis, restaurantes, ginásios e postos de abastecimento em Boa Vista.

Garimpo 

Em setembro foram encerradas mais de cinquenta pistas clandestinas e três portos fluviais dentro da reserva Yanomami. Os agentes queimam tudo o que encontram. Mas para o presidente brasileiro o importante não é acabar com esta atividade é perceber a quantidade de ouro que está a ser extraída, como o próprio dizia em vídeo publicado na internet, em abril do ano passado.

“A legislação proposta por Jair Bolsonaro, que tornaria legal a exploração mineira em reservas e as falhas graves na fiscalização, sobretudo durante a pandemia de Covid-19, levaram milhares de mineiros a partir para a reserva de Yanomami em busca deste metal precioso, exacerbando um problema que existe há anos e que tem vindo a agravar-se”, diz outro trecho.

Riscos

A investigação da agência diz ainda que dezenas de pilotos chegaram à Boa Vista vindos de outros estados durante a pandemia. Procuravam trabalho e estavam prontos a tudo numa altura em que a situação econômica no Brasil não era, de todo, a melhor. Com o preço do ouro a subir, exponencialmente, este tráfico é aliciante para muitos mesmo com todos os riscos.

O custo médio para chegar a Yanomami por avião são 10 gramas de ouro, que depois são vendidas por mais de 500 dólares no mercado ilegal.

Mas os riscos são, de fato, grandes. No ano passado, um piloto despenhou-se na selva e sobreviveu sozinho durante cinco semanas. Outro desapareceu quando viajava entre duas regiões do território Yanomami, na fronteira com a Venezuela, conhecidas pela mineração ilegal. Os meios de comunicação locais têm documentado numerosas perdas e desaparecimentos de pilotos.

Nos últimos anos surgiram centenas de minas de ouro ilegais. Grupos ambientais e de defesa dos direitos indígenas estimam que cerca de 20.000 garimpeiros estão presentes na reserva, que tem, aproximadamente, a mesma dimensão que Portugal. Números que diferem, largamente, dos oficiais.

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