Deputado Dhiego Coelho (PTC). Foto: Alfredo Maia.

A que ponto vale a blindagem da Assembleia Legislativa de Roraima ao governador Antonio Denarium? Pelo que temos acompanhado, parece que tem valido até calar quem foi legitimamente eleito pelo povo para falar em nome de muitos. Hoje foi dia de presenciar um grave atentado à democracia, além de um desrespeito a um pilar do parlamento estadual: o direito à denúncia.

O deputado Dhiego Coelho, de oposição, escancarou uma manobra covarde adotada por parlamentares da bancada governista, a fim de reduzir os impactos de denúncias feitas contra o governo do Estado e contra o governador, durante as sessões. Segundo ele, a postura tem sido adotada há algum tempo. Ainda que não pretendam discursar, deputados aliados se inscrevem como oradores só para tomar tempo de tribuna dos parlamentares de oposição.

No grande expediente, pelo tempo regimental, os deputados precisam repartir 1h entre si para utilizar a tribuna. Seis estavam inscritos nesta quinta-feira, e cada um teria 12 minutos. O regimento determina que as inscrições de oradores sejam feitas até às 8h50 do dia da sessão. O primeiro a inscrever-se foi Dhiego, portanto, o primeiro a falar. O deputado fez denúncias contra o governo sobre a má condução da máquina pública e sobre a suposta utilização da estrutura de comunicação do Executivo para disseminar notícias falsas contra adversários políticos.

Contundente, munido de provas, bem argumentado e embasado na defesa do fim do estado de calamidade pública, aprovado por seus pares, esta semana, o deputado que recorre judicialmente desta decisão, foi alertado sobre seu tempo de fala algumas vezes pelo presidente daquela Casa, Soldado Sampaio, até que foi forçado a interromper seu discurso por extrapolar o tempo previsto. Na sequência, o deputado Nilton do Sindpol falou por poucos minutos e depois, os outros quatro inscritos retiraram seus nomes, encerrando então o tempo de uso da tribuna.

Para Jorge Everton que estava remoto, a justificativa foi a conexão de internet. Já o deputado Chico Mozart disse que os demais não falariam atendendo a um pedido do deputado Coronel Chagas, que teria uma viagem marcada. Com o pedido de redistribuição de tempo negado, Dhiego Coelho ouviu do presidente daquele Poder que aquilo era legítimo no que chamou de “jogo da democracia”, como se esta fosse canastra, para se debater em cassino.

A submissão política do Legislativo para com o Executivo tem sido alvo de críticas por parte do deputado Dhiego Coelho e dos pouquíssimos de oposição que ali estão. A cobrança por uma mudança de postura junto ao presidente Sampaio, só teve como resultado a promessa de que inscrições feitas após o tempo-limite de 8h50 não seriam mais aceitas.

As denúncias

Na terça-feira, a deputada Tayla Perez, também governista, convidou Dhiego Coelho para conhecer o trabalho de excelência da gestão Denarium na saúde pública. Detalhou até inúmeros relatos emocionados de pacientes que recebem o atendimento na marcação de cirurgias eletivas da Sesau. O que talvez ela não esperasse é que ele aceitasse o convite no mesmo dia.

O parlamentar foi à tarde ao Hospital de Retaguarda, específico para atender casos de covid-19, e constatou que no local só havia dois pacientes internados, sem covid, aguardando transferência para outras unidades. Em compensação, toda uma estrutura hospitalar está montada, com uma diretora recebendo seus rendimentos com verba pública que ultrapassam os R$72 mil, segundo o parlamentar. No local, Dhiego se deparou com uma tentativa de impedimento de fiscalização, como se esta precisasse de algum aviso prévio. Sem dar ouvidos à servidora, detendo inclusive a prerrogativa necessária para uma voz de prisão por impedimento de suas funções, o parlamentar deu continuidade a vistoria.

A servidora se disse fisicamente agredida em vídeos que circularam nas redes sociais, e o deputado acusa o secretário de comunicação do Estado, Weber Negreiros, de se utilizar da estrutura de comunicação governamental para ordenar a disseminação de notícias falsas contra ele, dizendo que a agressão contra a diretora da unidade era verdadeira. A agressão não foi confirmada e o parlamentar enviou vídeos à imprensa onde comprova a falta de necessidade de manutenção da estrutura.

Veja o que disse a Secretaria de Comunicação do governo do Estado. 

Desvirtuando a serventia do Legislativo

Cercear o direito de um deputado de fazer denúncias ou críticas ao governo não reduzirá a má impressão que o eleitor roraimense tem tido da postura reprovável de integrantes daquele Poder, ou da obviedade dos maus resultados da gestão, que podem ser acompanhados a olho nu pelos roraimenses, todos os dias, na utilização dos serviços e da aparelhagem pública.

Sem liberdade, utilizando-se de manobras para burlar o direito à fala, esquivando-se da realidade a qual o povo está submetido, e encontrando justificativas risíveis para sustentar a teoria de que o governo precisa manter o estado de calamidade pública, detendo assim o poder de compras emergenciais sem licitação, aquele parlamento não tem atuado alinhado ao pensamento do povo, e isto deve sair caro nessas eleições. Literalmente.

Confiantes na máxima de que “a união faz a força”, para a campanha de 2022, aquele parlamento esquece-se da última surra que tomou, em 2020, quando a esmagadora maioria dos integrantes daquela Casa apoiou o candidato que perdeu a prefeitura de Boa Vista por 86% a 14% dos votos válidos. Segue viva na memória do eleitor a lembrança dos parlamentares abraçados à Jalser e Ottaci, aplaudindo quaisquer falas, ainda que desconexas, no que, para eles, era “a melhor alternativa para Boa Vista”.

Esse é o ano do seu abraço, governador.

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