Foto: Arquivo Pessoal/ONU Brasil

Já era noite quando o abraço do reencontro finalmente aconteceu. Entre lágrimas, mãe e filhas correram para que estivessem juntas novamente. Na parede da casa nova, os cartazes improvisados com folhas de caderno estampavam os dizeres de “bem-vindas minhas princesas”, em espanhol. No sofá, os cochichos entre as quatro demonstravam que o tempo de separação não diminuiu em nada o afeto e a cumplicidade.

Assim foi o reencontro entre a venezuelana Yerika e as três filhas, Evelin, de 13 anos, Camila, de 10 anos e Josemiht, de 8 anos, após quatro anos de separação.

“Foi uma emoção tão grande, não sei nem explicar. Foi tanto tempo longe! É muito gratificante ter minhas filhas aqui do meu lado. Meu plano para o futuro é dar muito amor a elas. Estou muito emocionada e feliz”, relata a mãe.

Yerika deixou a Venezuela e veio para o Brasil, em busca de oportunidades com as três filhas. Ela chegou ao Brasil em Roraima, mas a oportunidade de trabalho surgiu a 5 mil quilômetros de distância, em Pinhalzinho, no Oeste de Santa Catarina. As meninas ficaram no Estado de Roraima, sob cuidados de um responsável, que procurou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o parceiro AVSI Brasil. As meninas foram encaminhadas para um abrigo do governo de Roraima destinado a crianças desacompanhadas.

Após quatro anos de separação, o encontro entre mãe e filhas foi possível graças ao trabalho da OIM e à estratégia de interiorização do governo federal.

O oficial de Proteção à Criança e ao Adolescente do UNICEF em Roraima, Tomás Tancredi, explica que o direito à convivência familiar e comunitária é prioridade.

“O trabalho envolve busca ativa das famílias, avaliação psicossocial para identificar as possibilidades de reunificação junto à rede de proteção, apoio psicossocial continuado para estas crianças e, em alguns casos, apoio financeiro para a sustentabilidade da reunificação. A articulação com as redes de proteção e demais organizações que atuam na resposta humanitária, como a Organização Internacional para as Migrações (OIM), é fundamental para garantir a adaptação destas crianças em uma nova realidade”, explica.

O abrigo onde Evelin, Camila e Josemiht ficaram tem a estrutura de uma residência, similar ao ambiente de uma casa familiar, com atividades educacionais e apoio psicossocial. A gerente do abrigo da Secretaria de Estado de Trabalho e Bem-Estar Social, Luciana Oliveira da Silva, explica que a unidade tem parceria com organizações para buscar as famílias das crianças.

“Apesar de estarem em um ambiente em que estão sendo cuidadas, não é o lar delas. Elas sentem falta, perguntam e ficam ansiosas para o reencontro”, relata.

Após o abrigamento no local, o UNICEF entrou em contato com a OIM para localizar a mãe e dar entrada do processo na estratégia de interiorização do governo federal, para que as irmãs pudessem viajar para junto de Yerika.

A análise documental foi o passo inicial na viagem, assim como o acompanhamento médico no Núcleo de Saúde da Operação Acolhida, resposta humanitária ao fluxo venezuelano, para verificação vacinal e testagem de covid-19. Era dezembro de 2021 e os dias foram contados com ansiedade pelas meninas e pela mãe.

De acordo com o assistente de Proteção da OIM Luís Minchola, o reencontro representa o apoio dos atores que buscam a melhor solução em situações de crianças e adolescentes desacompanhadas dentro de um contexto migratório.

“Todos estão envolvidos em levar oportunidades nos locais de destino: acesso às escolas, aos serviços de saúde e que tenham o convívio familiar garantido dentro de todos os preceitos de proteção à infância”, explica.

No dia 26 de dezembro, a equipe da OIM buscou Evelin, Camila e Josemiht no abrigo estadual e as levou para o Aeroporto Internacional de Boa Vista. Além da revisão documental pré-embarque, a OIM comprou as passagens aéreas e garantiu a presença de uma funcionária para acompanhar todo o trajeto, até que elas estivessem seguras com a mãe.

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