Equipamento apreendido e destruído em garimpo ilegal. Foto: arquivo/Ibama

É possível tirar o ouro da terra sem precisar explodir uma montanha ou poluir um rio com mercúrio. A mineração artesanal mediante estudos de impacto, com a utilização de ferramentas de tecnologia para mapear e garimpar, é um exemplo. Talvez seja mais difícil, mais caro ou menos rentável para o dono do garimpo ou da balsa. Mas é possível e é o certo a se fazer.

É possível também extrair madeira da floresta, dentro da legalidade, pagando os impostos, e, obviamente, reflorestando. Uma compensação à natureza em busca do reequilíbrio: derruba-se uma árvore e plantam-se outras três no lugar. Tudo dentro de áreas e tempo calculados, para que nunca falte. Também deve sair mais caro, mais trabalhoso e menos rentável para o dono da madeireira. Mas continua sendo o jeito certo a se fazer.

É possível também olhar para o agronegócio como nosso maior potencial econômico, e se bem planejado, nos geraria mais riqueza e faria nosso estado prosperar em muitos outros setores. Tudo de modo programado, responsável e calculado. Sem precisar invadir, poluir ou desmatar. Sem precisar aprovar leis que, porventura, burlem o sistema legal de proteção ambiental em favor de quem só vê lucro com a destruição em larga escala.

Esse texto é para você que não é dono de garimpo, nem o grande plantador de soja, muito menos um dos 10 donos de toda a carne produzida nesse estado. É para você que acredita que o agronegócio e a mineração podem ser as maiores forças econômicas de Roraima, desde que os ditos defensores do agro entendam que políticas públicas precisam ser construídas em benefício de toda a cadeia do agronegócio: para o produtor rural, para o garimpeiro regular, para o dono da fazenda e para quem trabalha para ele. Para quem vende na feira e para quem consome. E, não menos importante, para a natureza, que é quem nos fornece tudo o que está aqui em discussão, e é quem mais tem sofrido com a exploração desenfreada, dentro de um cenário político eleitoreiro, sob os holofotes da falsa legalidade.

Efeito piracema

Quando ocorre a piracema, que é o período de reprodução dos peixes, os governos bancam um auxílio, chamado seguro-defeso, para que os pescadores não pesquem nessa época e, ao mesmo tempo, não fiquem sem ter como sobreviver. E o poder público faz isso porque entende que se pescar naquele momento, um dia não vai ter mais, vai faltar peixe. E aí sim, o problema será muito maior.

O que tem faltado aos nossos representantes políticos que dizem levianamente defender o agronegócio e a mineração em Roraima é o entendimento de utilizar-se deste mesmo princípio da piracema em defesa de toda a natureza, sabendo que a vida humana depende completamente dela para sua existência.

Se o homem não parar de usar mercúrio para garimpar ouro no rio, ele irá poluir esse rio a ponto de tornar a água inutilizável. A fauna desse rio morrerá, a mata que depende daquele leito também, e assim morrerão os animais que dependem daquela mata, e todos nós que dependemos também do rio, da mata e dos animais. E tudo isso, acredite, é em prol de alguns poucos enriquecidos pelo ouro extraído. O “dono” do garimpo. Defender isso faz algum sentido disso para você? Pois a Assembleia Legislativa está cheia desses defensores, que acompanham o chefe do Executivo, o governador Antonio Denarium (PP).

A quem interessa essa lei? 

O cidadão que empreende na ilegalidade do garimpo quer extrair sozinho, o quanto antes, o suficiente para comprar uma mansão de dois pisos no condomínio por trás do shopping, à vista e em ouro. E se for preciso poluir rio, matar indígena, derrubar floresta, balear fiscal, tocar fogo em ONG, e abrir uma rota de tráfico por dentro da mata, que assim seja. Para ele o que importa é retirar o ouro, custe o que custar e a quem custar. E esse cidadão não é o garimpeiro. Quem tem maquinário, não é o garimpeiro. Quem tem avião e retroescavadeira é que é o empreendedor do garimpo. E eles são tão poderosos que conseguem manobrar quem deveria legislar em prol do povo e proteger as nossas riquezas naturais.

Não podemos, enquanto sociedade, aceitar passivamente a sanção de uma lei que proíbe que os bens apreendidos em garimpos ilegais sejam destruídos pelas forças públicas de fiscalização e segurança. É o conto do vigário, com claros objetivos eleitorais, para que o desavisado acredite que eles se importam com o ganha-pão dos garimpeiros, quando estes não são os donos dos equipamentos. Em uma campanha incansável baseada no discurso de que toda ONG é formada por golpistas que querem roubar a Amazônia, é que tais “defensores do agro” vão tentando jogar a população contra quem zela pelo meio ambiente e pelo futuro das nossas gerações. Filtre. Tenha discernimento para distinguir entre o que é manobra política e o que é de interesse pessoal em causas duvidosas que só interessam a uma seleta minora.

Um governo sério, ao invés de incentivar o errado, ele investe em manejo sustentável e redução de danos. Em todos os exemplos que citei acima. É possível fazer o certo, incentivando o produtor com benefícios reais, com dinheiro, com isenção de impostos, com qualificação técnica, séria e profissional. É perfeitamente possível elevar o agronegócio a grandes patamares, dando as ferramentas necessárias para que ele seja desempenhado de forma correta. Dentro da lei já vigente, sem favoritismos e sem danificar aquilo que não pode ser consertado adiante: o meio ambiente.

Como tem sido de praxe, o discurso dos políticos com estreitas relações escusas com os reis do gado e do garimpo, é de que quem pensa divergente é contra o agronegócio. Não caia nessa. O que o cidadão mais atento vai perceber é que tem gente disposta a fazer o agro ser grande, do jeito certo, eficaz, que irá permitir que muito mais gente seja beneficiada diante de uma política pública consciente para o desenvolvimento agrário e econômico de Roraima.

 

 

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