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sexta-feira, março 29, 2024
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‘Uns entregam só o peixe; outros também ensinam a pescar’, por Rubens Medeiros

Como é de praxe em datas comemorativas, o governador Antonio Denarium (PP) entrou no clima da Semana Santa imitando o ex-governador Ottomar de Souza Pinto: com seu populismo seletivo. Tem caminhão do peixe na páscoa, tem brinquedo no dia da criança, e tem flor no dia da mulher.

A preço de quê, e quem ganha essas licitações, a gente sabe bem que não é por caridade cristã. Sem precisar requerer uma análise política e social mais aprofundada sobre essas ações pouco produtivas do governo do Estado, podemos tranquilamente fazer o comparativo com quem realmente entende de fazer a população prosperar, que é o caso do prefeito Arthur Henrique (MDB).

Ao mesmo tempo em que Denarium distrubui peixe na rua, com duas cassações nas costas e um largo sorriso no rosto, o prefeito da capital que leva muito a sério a aplicação dos recursos públicos, faz diferente: incentiva comundades inteiras a se desenvolverem economicamente por meio da piscicultura. O projeto Moro-Mori é um bom exemplo disto.

A iniciativa da Prefeitura de Boa Vista tem como objetivo trazer novas alternativas para a cadeia produtiva e melhorar a qualidade de vida dos povos indígenas. O atendimento é completo: desde a escavação de tanques que serão usados no desenvolvimento das comunidades indígenas, a distribuição dos alevinos, técnicas e métodos de criação, manejo, e comercialização. Aí sim é uma política pública que faz sentido e dá retorno.

As famílias atendidas pelo projeto ficam responsáveis por conduzir o trabalho que beneficiará toda a comunidade. Todas as famílias responsáveis pelo gerenciamento do projeto em cada comunidade participam de cursos voltado ao manejo da piscicultura, na parte teórica e prática, onde é abordado desde a preparação do tanque, os cuidados com a qualidade d’água e controle de doenças, como também da alimentação dos alevinos. O trabalho segue atendendo a 17 comunidades.

As Comunidades que já receberam esses tanques foram: Serra da Moça, Darôra, Vista Alegre, Campo Alegre, Ilha, Truaru da Cabeceira e o da Comunidade Morcego. É vida sendo mudada de verdade, sem precisar de assistencialismo pontual, que só aparece em datas comemorativas.

Um dos tanques do projeto Moro-Mori, da Prefeitura de Boa Vista. Foto: divulgação/PMBV

É levando a sério o dinheiro público e com uma equipe técnica que não mede esforços para fazer o projeto dar certo, que vidas inteiras têm sido mudadas por ações contundentes de Arthur.

Sem conseguir criar uma marca própria na gestão, Denarium segue na tentativa de  incorporar Ottomar em datas especiais. Sem trabalho para mostrar, sem legado algum para as futuras gerações de roraimenses, o governador que tenta a todo custo aprovar na Justiça o empréstimo de quase R$ 1 bilhão que endividará Roraima pelos próximos dez anos, que não consegue concluir sequer uma única obra das anunciadas há mais de cinco anos: HGR, Totózão, Feiras, Teatro Carlos Gomes, Casa da Cultura, Detran, IML, Parque Anauá, Secretaria de Educação, dentre tantas outras que caíram no imaginário popular.

Só dando presente de graça mesmo, para conseguir arrancar beijos e suspiros…

…dos comissionados.

 

Diocese e movimentos sociais se dizem ‘indignados’ com a condução do Governo de Roraima sobre as queimadas

A Diocese de Roraima juntamente com diversos movimentos sociais, divulgou nesta quinta-feira (28), uma nota pública de desagravo pelo modo como o Governo do Estado tem conduzido as soluções para a crise ambiental que afeta o estado. Com as queimadas, a qualidade do ar figurou entre as piores do mundo, esta semana.

“Mesmo com esse quadro ambiental, marcado por forte estiagem e seca, o governo do Estado de Roraima emitiu 55 licenças ambientais para queimadas. Conforme dados da entidade Greenpeace, a maioria dessas licenças foram emitidas no dia 9 de fevereiro para pastagem de gado. Tais medidas tiveram como consequência o aumento dos focos de incêndio em diversos municípios do Estado, por meio de fortes ventos e seca. Não houve qualquer medida mais eficaz de prevenção e controle, tendo gerado uma quantidade alarmante de fumaça, afetando diretamente a saúde dos povos ribeirinhos, indígenas, moradores da cidade e do campo, que vivem no interior de Roraima. Essas comunidades, já marginalizadas, enfrentam agora uma situação ainda mais precária, tendo seu modo de vida, cultura e saúde postos em risco iminente pela falta de água. Sem água não é possível manter as plantações, os animais, o que tornou a escassez de alimentos produzidos pelas famílias uma realidade no nosso Estado”, diz um trecho do documento.

Liberação de licenças

O Greenpeace Brasil teve acesso aos dados de licenças para queimadas em Roraima, publicadas no Diário Oficial, e constatou que, no dia 9 de fevereiro, foram publicadas 55 licenças para uso de fogo, sendo a maioria em área de pastagem, das quais apenas duas foram revogadas, segundo dados referentes até o dia 22 de fevereiro. Dos 10 municípios com o maior número de queimadas no mês de fevereiro, todos estão em Roraima.

Para Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, o governo estadual de Roraima é um dos responsáveis por esse aumento dos focos de calor na região: “Ao contrário de outras regiões do bioma, que tem um intenso período de chuvas entre dezembro e maio, Roraima está no período de seca, justamente por ser o estado localizado mais ao norte do país. Esse período, que já apresenta uma grande diminuição das chuvas, segue ainda mais intensificado esse ano pelo fenômeno El Niño, que ainda deixa seus efeitos na região. Por isso, é inaceitável que o governo estadual tenha concedido licenças para queimadas nessa situação, elevando os focos de calor na região, colocando em risco o meio ambiente e a saúde da população”.

Na ocasião, o governo afirmou que havia suspendido as licenças emitidas pela Femarh.

Orientações polêmicas

Após a qualidade do ar em Roraima ser considerada “péssima”, ficando entre as piores do mundo nesta semana, o governo de Roraima gerou polêmica ao sugerir que a população ligue centrais de ar-condicionados e ficasse em casa. O assunto foi alvo de críticas por parte da população nas redes sociais e gerou a manifestação pública do deputado Duda Ramos (MDB).

“É angustiante constatar que o governo não apenas fracassa em resolver essa questão, mas também concede licenças para queimadas”, reclamou o parlamentar.

Desagravo

A nota emitida pela Diocese e pelos movimentos sociais roraimenses ainda destaca as reiteradas manifestações pró-garimpo por parte do Governo do Estado, e que agora, segundo a carta, imputa a culpa pelo fogo aos povos indígenas. 

“Diante desse quadro, o governo do Estado de Roraima tem tido como resposta criminalizar os povos indígenas pelas queimadas, efetuando prisões de tuxauas, alegando que os mesmos são os responsáveis por esse quadro. Repudiamos tal ato de injustiça do Estado. Além disso, a contaminação dos nossos rios com mercúrio – sendo os mais contaminados Uraricoera, Couto Magalhaes, Mucajai, os quais despejam no rio Branco, princial rio de Roraima -, resultado da mineração ilegal, é uma problemática que exige ação imediata. O garimpo ilegal, que assola nosso Estado, foi fortemente apoiado pelo atual governo, emitindo dois projetos de lei de apoio a essa atividade criminosa. As consequências desta contaminação são desastrosas, afetando diretamente a saúde dos povos que dependem desses rios para sua subsistência, além de causar danos irreparáveis ao ecossistema aquático”, conclui.

Leia a nota, na íntegra, clicando aqui

Vocalista do Yahoo relembra histórias de shows em Boa Vista e celebra nova apresentação na capital; ‘expectativa muito grande’

Considerada por muitos a banda de rock mais romântica do Brasil, o Yahoo celebra 35 anos da maneira que mais gosta: nos palcos. A banda tem um encontro marcado com o público de Boa Vista, capital de Roraima, neste sábado (30), na casa de rock Porão do Alemão.

A banda visita Roraima pela terceira vez. Em entrevista ao Roraima 1, o vocalista Zé Henrique relembrou histórias das duas vezes anteriores em que realizaram shows na capital, incluindo um atraso de mais de três horas para uma das apresentações.

“A primeira teve uma história meio esquisita. Chegamos no voo de uma da manhã, mas o contratante tinha anunciado o show pras 22h. Quando a gente chegou, a galera estava revoltada e eu tive que explicar que a organização do show deu o horário errado, mas o show foi muito bacana, foi muito legal”, conta Zé Henrique.

“A segunda vez foi alguns anos atrás nós tocamos num encontro de motos, né? Num lugar maravilhoso e tinha pista assim, as motos fazia exibição, uma festa linda, maravilhosa, tocamos no primeiro dia e os Titãs tocaram no outro dia. Foi muito legal. E eu, inclusive, achei Boa Vista, uma cidade superarrumada, assim, achei muito legal.

O vocalista afirmou ainda que está ansioso pela nova apresentação na capital e que prevê que o show será muito bom.

“Estamos com uma expectativa muito grande, de voltar à Boa Vista. Primeiro que a gente foi super bem recebido, segundo que a cidade é muito bonita e terceiro que a gente está com uma com a sensação de que vamos fazer um show sensacional. Dessa vez, mais do que nunca”.

Show

A banda traz sucessos ao palco como “Mordida de Amor”, “Anjo”, “Caminhos de Sol” e “Hey Jude”, todos temas de novelas da TV Globo, o melhor e mais energético pop rock nacional e mundial dos anos 80 e 90 em um show de duas horas de duração.

Com os fundadores Zé Henrique (voz e baixo), Marcelão (bateria) e os virtuosos Rodrigo Novaes (guitarra e vocal) e Léo Mendes (teclados, violão e vocal), o palco sempre será a casa da banda.

O Yahoo irá lançar no primeiro semestre de 2024 o primeiro álbum autoral após dez anos, incluindo a canção “Entre o Espinho e a Flor”, parceria inédita da banda com o hitmaker Paulo Massadas.

SERVIÇO

Show da banda Yahoo

Local: Porão do Alemão

Data: 30/03/24

Endereço: Av. Ville Roy, 2.670, Caçari, Boa Vista (RR)

Abertura da casa: 20h

Show de abertura: Banda Garden

Classificação: 18 anos

Governo prorroga uso da Força Nacional em RR para auxílio à crise migratória

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, prorrogou nesta quinta-feira (28), por mais 90 dias, a permanência da Força Nacional de Segurança Pública em Boa Vista e Pacaraima, em virtude da migração venezuelana. O Estado é a porta de entrada dos estrangeiros que fogem da crise no País governado pelo ditador Nicolás Maduro.

Conforme a portaria, a Força Nacional visa apoiar as forças de segurança pública locais nas atividades e nos serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da proteção das pessoas e do patrimônio, “em caráter episódico e planejado”.

A equipe está no Estado desde agosto de 2018, quando um grupo de 60 agentes chegou para reforçar e fiscalizar a segurança em Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela.

Rios e igarapés secam na Terra Indígena Yanomami

Com clima tradicionalmente úmido, a Terra Indígena Yanomami (TIY) não costuma enfrentar períodos de seca. Mesmo nos dois meses em que há um período de menos chuvas, as precipitações ficam em torno de 200 milímetros – o que, para padrões da capital roraimense, já é considerada estação chuvosa. Mas as mudanças climáticas e os incêndios florestais vêm mudando essa história.

“Não tem uma gota de água”, narra a enfermeira Clara Opoxina no dia 5 março. Em vídeo, ela está diante de uma passagem improvisada, feita com galhos de árvores, tentando atravessar por cima do que antes era um igarapé em Wathou, região das Serras. As outras fontes de água ainda existentes ficam mais distantes ou estão impróprias por causa da poluição do garimpo ilegal, conta a profissional da saúde que também fala Yanomami. “O rio Mucajaí está inviável para consumo. Está completamente amarelo ainda do garimpo.”

A enfermeira trabalha há 12 anos na TIY e é indígena, descendente do povo Puri. Ela revela que a falta de água compromete os atendimentos das equipes médicas. “Tem que caminhar duas horas, aí assim, não dá, né, a gente faz um serviço ali de saúde, tem que caminhar duas horas pra pegar água, pra cozinhar, pra beber, e até pra tomar banho ali, tava muito ruim, porque são muitos Yanomami e mais a gente”, contou Clara. Para continuar o atendimento, ela teve de pedir para mudar sua base para uma região mais próxima de igarapés com água potável.

Segundo o geólogo Fábio Wankler, professor doutor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), o fenômeno El Niño estendeu a área da estação seca para dentro do oeste do território dos Yanomami. “O mês mais seco da região, considerando a série histórica, é em torno de 200 milímetros. Os meses secos de Boa Vista variam de 100 a menos de 50 milímetros”, comparou. Para ele, o El Niño está afetando a água superficial, ou seja, os rios de dentro da floresta, uma área que normalmente não sofreria esse efeito ou não seria tão acentuada.Os rios mais afetados pela seca são o Apiaú, Catrimani e Demini, de acordo com a Hutukara Associação Yanomami (HAY).

“Uma situação muito difícil na Terra Yanomami como toda, e principalmente os nossos rios, como rios principais que a gente consome, rios grandes e rios pequenos”, contou à Amazônia Real, Dário Kopenawa, vice-presidente da HAY e filho do xamã do povo Yanomami, Davi Kopenawa. “Impactou bastante os nossos alimentos e também para se alimentar através de águas. E os rios estão muito, muito secos, uma dificuldade muito grande, está bastante difícil o que nós estamos enfrentando hoje. É uma situação muito vulnerável.”

A seca excepcional na região deve ser atribuída, principalmente, às mudanças climáticas causadas por atividades humanas, como o desmatamento e o uso de combustíveis fósseis, explica Wankler. Desde 2010, houve um aumento da temperatura média em Roraima, resultando em maior evapotranspiração e déficit hídrico durante a estação seca. O El Niño de 2023 exacerbou a situação, reduzindo a frequência e intensidade das chuvas e afetando a reposição de água nos aquíferos.

“A redução da frequência e intensidade das chuvas interfere na infiltração da água no solo e consequentemente, na reposição da água subterrânea dos aquíferos que mantêm os rios durante as fases de estiagem. Com o rebaixamento do nível freático, os rios secam, comprometendo a biodiversidade e o modo de vida tradicional dos povos originários”, explica o professor da UFRR.

Ramón Alves, meteorologista da Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), analisa que as chuvas devem iniciar em abril começando pelo sul de Roraima e gradativamente vão subir “para o setor nordeste de Roraima”. A previsão para o mês que vem é de 100 a 150 milímetros, no acumulado mensal. A TIY fica localizada ao norte do Estado.

Queimadas vieram de fora

A Hutukara entregou à Amazônia Real um mapa alarmante, elaborado com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), evidenciando a origem do fogo que atingiu as comunidades, outra ação humana que interfere na vida dos povos indígenas. O documento, de 12 de março, revela uma preocupante concentração de pontos vermelhos, indicativos de focos de queimadas, nas divisas entre os projetos de assentamento dos municípios de Amajari, Alto Alegre, Mucajaí e Iracema.

Mapa de focos de calor dispobilizado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY).

Dário Kopenawa relatou à reportagem que o fogo que já devastou parte de sua terra tem origem nas fazendas próximas. “Estamos sofrendo hoje por causa de fogo chegado das fazendas, uma situação muito perigosa. Apiaú, região do Xexena, Ajarani pegou muito fogo e esse fogo chegou na Missão Catrimani e afetou bastante a comunidade e as casas foram queimadas”, alertou.

Reinaldo Imbrozio, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e professor da UFRR, corroborou as observações de Dário, atribuindo a origem dos incêndios às propriedades rurais circunvizinhas. Ele destacou um padrão de desmatamento em Roraima, patrocinado pelos assentamentos humanos a oeste do Lavrado.

“Quero lembrar mais uma vez que boa parte desses focos que você se referiu aí tanto no Lavrado como nas reservas florestais, a imensa maioria não foram dos indígenas, foi fogo adentrando nas áreas indígenas”, enfatiza para Amazônia Real de frente para o seu computador, com um monitoramento da Nasa aberto, na sede do Inpa em Boa Vista.

Imbrozio explicou que, devido à combinação de fatores climáticos adversos, como a falta de chuvas, vegetação seca e ventos fortes, o fogo se propaga rapidamente, dificultando os esforços de contenção das chamas. O professor da UFRR explica que o caminho do fogo na vegetação de Roraima percorre em linha “entre 500 metros a 1,5 quilômetro por dia”, e por isso, “não tem condição de apagar essas linhas gigantescas”.

“Por mais que Ibama e comunidades indígenas estejam apagando, não tem mais jeito, porque esse fogo agora está linear. Não tem ser humano, ou quantidade de pessoas que apague esse fogo. É uma situação similar, não igual, similar à de 1997, 1998”, lembrou Reinaldo.

A reportagem questionou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária sobre o fogo que saiu dos assentamentos. O órgão disse em nota que “o respeito ao meio ambiente e o cumprimento da legislação ambiental são deveres dos beneficiários da reforma agrária, que constam em cláusulas resolutivas nos documentos expedidos pelo Incra. A comprovação da prática de crime ambiental poderá resultar na retomada da parcela.”

Roraima permanece com focos de calor acima da média. Conforme registros do Inpe, foram contabilizados 1.312 focos, até o dia 24 de março, superando a média mensal de 599. O Estado já acumula 3.973 focos neste ano, comparado à média histórica para o mesmo período, que é de 2.055. Fevereiro registrou números recordes desde 1998, quando iniciou o acompanhamento, com 2.057 focos, consolidando-se como o Estado mais afetado pelos incêndios.

Junior Hekurari, presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), expressou preocupação com a situação, destacando que a seca extrema e a escassez de água estão levando as comunidades a uma situação de desamparo. Ele ressaltou que a falta de medidas efetivas para conter os incêndios e proteger os recursos hídricos está colocando em risco a sobrevivência dos Yanomami.

“A seca está demais, não tem mais rio, não tem mais água, muita queimação [incêndios]. Eu não sei o que os Yanomami vão fazer nessa situação”, respondeu à Amazônia Real por telefone. Ele estava esta semana em Surucucu, TIY. O presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY) e da associação Urihi acompanhava no dia 19 de março a entrega de medicamentos para malária feita por Weibe Tapeba, secretário da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena).

Haron Xaud, doutor em sensoriamento e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) informou ao Instituto Socioambiental (ISA) que, à medida que as áreas são repetidamente afetadas por incêndios, elas se degradam e podem afetar até as nascentes de água de Roraima.

“As serras de Roraima, principalmente as de cobertura vegetal florestal, têm muitas nascentes de água que dependem da vegetação estar saudável e conservada. Se você tem uma intensa mudança degenerativa na vegetação, para uma mesma quantidade de chuva que caia, você vai ter mudanças na capacidade de captação, infiltração, velocidade de passagem da água pelas bacias hidrográficas afetadas”, disse Xaud ao ISA.

Em Boa Vista, o Rio Braco continua baixando. Na segunda-feira (25) a régua de medição da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima registra – 0,38 centímetros. Conforme o acompanhamento do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o pior nível já registrado foi de -56,5 centímetros, em janeiro de 2016.

Fumaça ameaça a saúde 

Roraima tem registrado níveis alarmantes de poluição atmosférica, sendo classificada como ‘péssima’ para a saúde. Nesta segunda-feira (25), o monitoramento da plataforma Selva, da Universidade Estadual do Amazonas, apresentava variações entre 50 e 250 de material particulado (PM 2.5). A plataforma Purple Air definiu a qualidade de dois municípios de Roraima, sendo a capital Boa Vista e Amajari, como piores que São Paulo e Vietnã – e remete ao drama vivenciado no fim do ano passado pela população do Amazonas.

Uma densa fumaça encobre desde o fim de semana a capital e outros municípios. Da orla de Boa Vista não era possível ver neste fim de semana a Ponte dos Macuxi. O Conselho Indígena de Roraima divulgou fotos da fumaça tóxica encobrindo o Sol nas comunidades.A prefeitura da capital recomendou usar máscaras e pediu que a população evite atividades ao ar livre. Os anúncios foram feitos durante uma coletiva. Outras medidas devem ser adotadas ainda nesta segunda-feira pelo prefeito que convocou reunião emergencial com secretários.

“As primeiras recomendações já foram adotadas nas escolas e nos projetos sociais nesta segunda-feira, para que se evite atividades ao ar livre. Até na hora das refeições, as crianças vão permanecer dentro das salas de aula para evitar ao máximo o contato com a fumaça. Também idosos do Projeto Cabelos de Prata foram orientados para permanecer em casa. Outras medidas definidas pelo comitê serão anunciadas ainda hoje”, diz trecho do comunicado enviado à imprensa.

Em fevereiro, área queimada aumentou 410%

A área queimada em todo o país em fevereiro foi de 950 mil hectares —um aumento de 410% em relação ao mesmo mês no ano passado, segundo levantamento do Monitor do Fogo, coordenado pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Aumento se deve, principalmente, a avanço das queimadas em Roraima. Mais da metade (54%) de toda a área queimada no Brasil neste ano aconteceu no estado.

Qualidade do ar em Boa Vista ficou “perigosa” ontem, a pior classificação possível para o Mapa da Qualidade do Ar em Tempo Real. Hoje, a situação já era um pouco melhor, embora ainda esteja na classificação “não saudável”.

A cidade está coberta por nuvem de fumaça desde o fim de semana, devido a queimadas no estado e também em países vizinhos, como Guiana, Suriname e Venezuela.

A primeira chuva do mês de março em Boa Vista foi registrada na manhã desta quinta-feira (28), causando alívio para os habitantes..

Pesquisador do Ipam explicou que a maior parte das áreas afetadas por queimadas em Roraima são de lavrado, tipo de vegetação campestre. “O aumento das queimadas no estado de Roraima está diretamente relacionado ao período de seca que ocorre entre os meses de dezembro e abril, que foi agravado pelo fenômeno do El Niño”, explicou Felipe Martenexen. “As condições climáticas e a própria natureza da vegetação favorecem a propagação do fogo”.

Quase 2 milhões de hectares foram queimados em 2024, segundo o Monitor do Fogo. Depois de Roraima, os estados com mais áreas queimadas são Pará (475 mil hectares) e Amazonas (136 mil hectares).