Família lamenta que o balé ainda seja visto como uma dança que deva ser praticada somente por meninas. Foto: Jader Souza - SupCom ALERR

O preconceito passa longe da família Marques Saturnino. Sérgio e Rosane têm três filhos: uma menina, Valeska de 13 anos; e dois meninos: Vinícius, 9, e Vithor, 15, alunos de balé do programa Abrindo Caminhos. A família mora há um ano em Boa Vista.

O pai, engenheiro agrônomo, destacou que lamenta que o balé ainda seja visto como uma dança que deva ser praticada somente por meninas, e os meninos que dançam são taxados de gays. “Meus filhos são muito homens, até pelo fato de terem escolhido fazer balé, demonstrando que essa dança também é coisa de homem. Eu e Rosane os admiramos e temos muito orgulho deles”, ressaltou Sérgio.

Ele disse também que a decisão do futuro dos filhos depende deles mesmos. “Nós, enquanto pais, apoiamos o desenvolvimento do filho e o que ele busca para a vida dele. Pelo menos na nossa casa funciona assim. Vinicius ainda é uma criança e o Vithor um adolescente. De repente seja uma fase, que mais para frente queiram fazer outra atividade, escolher outra profissão. Mas, independente disso, estaremos aqui, sempre, para dar o incentivo”, afirmou Sérgio.

Quanto à questão do preconceito ao homem que dança balé, Sérgio disse que tem que acabar, porque entende que as pessoas vivem em um mundo onde se pode escolher a profissão que querem seguir. “Se meus filhos optaram pelo balé acreditando que é importante pra eles, iremos apoiá-los. Imagina eu impor uma profissão para eles e futuramente não se sintam realizados ou até mesmo frustrados. Isso não será legal”, frisou.

A mãe dos meninos, Rosane, disse que, quando era bem jovem, quis fazer aulas de balé, mas devido às condições não foi possível. “Era meu sonho, mas que ficou lá em Mato Grosso, então me sinto realizada porque meus três filhos fazem aulas de balé. Se mais para frente eles decidirem por outra atividade, estarei apoiando eles também”, frisou.

Rosane contou que queria inscrever Vithor e Vinícius no balé do Abrindo Caminhos, mas eles foram resistentes até o primeiro dia de aula, devido ao preconceito e diziam que era atividade para meninas. “Eles chegaram da aula maravilhados e disseram que queriam fazer balé”, lembrou.

Vithor, antes do balé, praticava voleibol e jiu-jítsu. Passou a ter interesse pelo balé após assistir apresentações da irmã, mas tinha receio, mas decidiu fazer balé. “Dentro de casa nunca tive problemas, pelo contrário. Mas na escola, sofri preconceito dos colegas, mas acostumei e as brincadeiras até acabaram. Hoje eles encaram com naturalidade”, comentou o jovem.

O irmão Vinicius, apesar da pouca idade, demonstra maturidade suficiente para entender e ignorar as críticas que ele e o irmão Vithor ouviram por conta da paixão pelo balé. “No início era chato, mas hoje nem me importo mais com isso”, disse o garoto.

A paixão pelo balé foi crescendo e a cada dia eles buscam se aperfeiçoar mais para o sonho que tanto querem realizar. No programa Abrindo Caminhos da Assembleia Legislativa de Roraima, por exemplo, existem meninos bailarinos focados, dedicados, disciplinados, que sonham com uma chance de integrarem uma grande escola de dança. É o caso do Vinícius que foi aprovado recentemente para a Escola de Dança Bolshoi no Brasil, onde estudará por oito anos, a partir de 2019.

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