Família venezuelana busca comida no lixo ( Foto: JUAN BARRETO / AFP)

 

Longe dos discursos da briga ideológica da esquerda e da direita ou da ultradireita, a questão da Venezuela não será uma equação de fácil solução e ainda vai custar mais dor e morte àquela população submetida a miséria absoluta. E mais famílias irão fugir, muitas delas pela fronteira norte do Brasil, fixando-se especialmente em Roraima, onde as cenas de venezuelanos catando comida nas lixeiras de residências e comércio tornaram-se rotina.

A pressão interna naquele país, comandada pela oposição ao lado de militares dissidentes, está longe de surtir o efeito desejado por aqueles países que apoiam a derrubada de Nicolás Maduro do comando da Venezuela. Embora o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sempre cogite enviar militares, com apoio de aliados que defendem uma intervenção armada, isso resultaria em mais sofrimento para o já fragilizado povo venezuelano.

Maduro está cercado por todos os lados, porém tem apoio da União Soviética e da China, para quem o ditador venezuelano empenhou boa parte da maior reserva petrolífera do mundo desde que o então presidente Hugo Chávez, já falecido, começou a implantar o governo bolivariano com apoio de Cuba, que é sustentado com uma cota de cerca de 100 mil barris diário de petróleo, cujo excedente não consumido é revertido em dólares.

Em 2005, Chávez torrou 24 bilhões de dólares com a Rússia na compra de aviões, tranques, mísseis e fuzis, o que fez com que a Venezuela empenhasse boa parte de sua reserva petrolífera, por isso Maduro tem apoio do Kremlin, que agiu rápido com apoio dos chineses para impedir que as manifestações ora em andamento, com anuência dos EUA, tivessem sucesso.

Como se vê, trata-se de um intricando jogo geopolítico na disputa pelas maiores reservas de petróleo do Planeta, cujos reflexos atingem de cheio Roraima, que historicamente viveu isolado das decisões do Governo Federal, o qual continua se mostrando omisso para socorrer uma população sufocada pela crise da imigração em massa de venezuelanos, que fogem de seu país para escapar da fome.

A fuga de seu país é a única alternativa para a maioria, pois ainda no tempo de Chávez foi estruturada a Frente Francisco Miranda (FFM), considerado o mais violento dos “coletivos bolivarianos”, que na verdade são milícias preparadas com fuzis para uma invasão norte-americana, mas usadas para reprimir o povo que vai às ruas.

É por isso que a onda imigratória não vai parar, cujos reflexos são sentidos pelos roraimenses. O Brasil, cujo presidente Jair Bolsonaro foi aos EUA se comportar como um político com complexo de vira-lata, há muito tempo perdeu a condição de liderança capaz de propor ou intermediar uma saída para a Venezuela.

Já que sua política e imagem externas são motivos de gozação em outros países, que pelo menos o governo Bolsonaro, nesse jogo político de servir aos interesses norte-americanos, aja rápido para dar soluções imediatas a fim de amenizar o sofrimento do povo de Roraima, que vem segurando firme a acolhida ao povo venezuelano, apesar de ser a mais pobre unidade da Federação. Se ajudas urgentes não chegarem, quem vai parar nos semáforos pedindo esmola e catar comida no lixo são os brasileiros.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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