A nova carnificina nos presídios da cidade de Manaus (AM), com 55 mortos em 48 horas, coloca em alerta o sistema prisional de Roraima, que está sob intervenção federal desde o fim do ano passado, quando o Governo do Estado não suportou mais a situação. Na verdade, não havia mais controle há muito tempo, desde quando o Estado negociava regalias com os presos para que eles evitassem fugas e rebeliões, surgindo aí a figura dos chefes de ala, que passaram a controlar os presídios do portão para dentro, há muitos anos.

O alerta também não é de hoje, uma vez que rebeliões e grande fugas vinham ocorrendo há tempos antes da interevenção. Sabemos que as forças federais controlam os presídios locais sob forte pressão dentro de um sistema caindo aos pedaços e superlotado, que serve apenas como um depositário de gente sem perspectiva. Quando presídios passam a ser controlado desta forma, forma-se um barril de pólvora pronto para explodir, pois fica declarada uma guerra tanto dentro dos presídios quanto fora, como já foi registrado várias vezes em Roraima e outros estados, onde as facções disputam poder.

Em Manaus, onde as autoridades diziam que tinham tudo sob controle, não foi possível evitar a chacina resultante de confronto entre facções ou dentro de uma mesma facção. Em Roraima, a situação é muito delicada porque o Estado faz fronteira com dois países, por onde há acesso a armamentos e drogas, especialmente pela esfacelada Venezuela com seus militares historicamente corruptos e criminalidade fora de controle. Essas rotas acabam sendo alvo de disputa entre criminosos, o que resulta sempre em barbárie em algum momento.

Em Boa Vista, há a disputa por pontos de venda de droga e a guerra declarada por demonstração de poder, com a disputa por arregimentação de mais integrantes, em especial nos bairros periféricos, onde a polícia não tem condições de agir porque está trabalhando sem estrutura e com baixo efetivo. Por outro lado, dentro dos presídios, não há como terminar bem quando presos são mantidos na pressão por um sistema falido, a começar pela estrutura física, enquanto as facções se fortalecem diante da ausência do Estado nos centros urbanos.

Não há sequer perspectiva de frear esse barril de pólvora, pois o governo demora com a conclusão das obras do presídio do Município de Rorainópolis, no Sul do Estado, a fim de desafogar a superlotação da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) e da Cadeia Pública de Boa Vista; lembrando que houve o fechamento da unidade prisional em São Luiz do Anauá, também na região Sul, cujos presos foram transferidos para Boa Vista, devido à precariedade da estrutura do presídio de lá.

Com um Governo de Roraima perdido, enfrentando crise por todos os lados, e um governador que opta por fazer turismo sob alegação de que está visitando grandes produtores de outros estados (os quais jamais irão se estabelecer em um Estado onde falta energia elétrica todos os dias e a qualquer momento) não se pode esperar muito. Não só este governo como os demais viraram a cara para o sistema prisional, como se não houvesse muita importância cuidar de presídios. E agora pagamos o preço.

Dentro desse quadro, os últimos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que houve um crescimento populacional de 20% em Boa Vista, o maior entre as demais capitais, resultado do grande impacto da crise imigratória com a chegada diária de mais venezuelanos fugindo da fome em seu país. E isso significa um inchaço populacional que favorece o aumento da criminalidade, a qual tem reflexos diretos no sistema prisional. É mais um terreno fértil para as facções criminosas, que agem no vácuo do Estado e na falência da sociedade.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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