Léo Índio e Carlos Bolsonaro: contratação no gabinete de senador roraimense (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 

As evidências indicam que o senador roraimense que tem um “espião de comunista” de estimação, lotado em seu gabinete por indicação da família do presidente Bolsonaro (PSL), conforme o jornal Estado de São Paulo, não tem intenção nenhuma de se redimir ou mudar sua história de vida política em Roraima. Novamente em evidência de forma negativa na imprensa nacional, desta vez a revista Veja divulgou que o senador Chico Rodrigues (DEM) retirou sua assinatura de apoio à proposta que proíbe nepotismo na administração pública.

O argumento para voltar atrás foi que o parlamentar assinou a proposta sem ter lido direito o que o documento dizia. Assinar algo sem ler até poderia ser uma desculpa aceitável, em se tratando do corre-corre de ter que participar de três sessões deliberativas semanalmente e correr para o aeroporto. Mas declarar-se não favorável a uma proposta para acabar com o nepotismo é inaceitável neste país que acabou de eleger um presidente sob a bandeira da moralização.

Mas, pelo que está ocorrendo, a farsa da moralização também está ruindo, pois Bolsonaro quer nomeador um dos filhos que sabe fritar hambúrguer e fala um inglês precário para ser embaixador nos Estados Unidos. Se esta proposta que o senador assinou sem ler estivesse valendo, tal nomeação jamais poderia ser cogitada. Mas o que seria uma nomeação para embaixada diante da decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que mandou arquivar as investigações contra outro filho de Bolsonaro por malversação de fundos públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa?

Talvez esteja analisando desta forma o senador roraimense que, semelhante a Bolsonaro, passou 20 anos na Câmara Federal sem ter apresentado nada a favor de Roraima, a não ser envolvimento em seguidos escândalos. A propósito, por muito pouco Chico Rodrigues conseguiu ser eleito, pois ele foi condenado em 2010 por gastos ilícitos na campanha, o que resultou na cassação de seu mandato como governador e o tornou inelegível por oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa.

Em agosto do ano passado, um mês antes do período eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve a cassação, mas em setembro, quase um mês antes da eleição, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) deferiu o registro de candidatura dele, sob alegação do relator de que o prazo da inelegibilidade aplicada ao ex-governador terminara em 3 de outubro, quatro dias antes das eleições do primeiro turno, quando ele conseguiu se eleger senador.

Mas a ficha do senador tem mais. O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou Chico Rodrigues por dano ao erário, em decisão proferida em setembro de 2018, na ação que o acusou de irregularidade na promoção indevida de oficiais do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima quando ele era governador, na chamada “farra dos coronéis”.

Na sua vida política de duas décadas como deputado federal, em 2006 foi apontado como um dos partícipes do esquema de notas frias da Câmara para justificar gastos com combustível e solicitar o reembolso dos valores. Estima-se que o esquema gerou um prejuízo de até R$ 41 milhões aos cofres públicos. Chico Rodrigues foi o campeão de gastos, cujo valor esbanjado por ele seria suficiente para fazer 26 viagens de Manaus (AM) a Porto Alegre (RS). A denúncia lhe valeu o apelido de “Chico Gasolina” à época.

Além disso, ele é réu em uma ação penal que investiga apropriação de dinheiro público de emendas parlamentares, denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) em agosto de 2011, em um suposto esquema que fraudava processos licitatórios realizados pela Prefeitura de São Luiz do Anauá, no Sul do Estado, destinado a plantio de café. O apelido de “Chico Café” acabou não emplacando. Conforme o MPF, a grana liberada pela União, que deveria ser investida no plantio de café, acabava sendo sacada e dividida entre os envolvidos, inclusive um dos irmãos, todos acusados de crime de peculato.

Como ninguém dava crédito a Chico Rodrigues, achando que estava no ostracismo político para sempre, acabou sendo eleito senador numa votação histórica. Por isso ele passeou na campanha, como se sua ficha não tivesse mácula alguma. Hoje quase ninguém se lembra mais que, ao chegar a Roraima na década de 1980, seu apelido era “Chico Doido”, com o qual chegou à Câmara de Vereadores, em 1989. Esse apelido terminou esquecido quando outro Francisco, também chamado de Chico Doido (que Deus o tenha), entrou para a política e se elegeu vereador e depois deputado.

E assim o Estado de Roraima passeia, mais uma vez, na mídia nacional com um senador que nada tem a mostrar ao eleitor, a não ser sua votação arrebatadora inexplicável  e suas desculpas de que não tem tempo para ler. Até aqui, sua imagem é de alimentador de “espião de comunista”, conforme o Estado, e defensor de nepotismo, conforme a Veja. Enquanto isso, o Brasil pega fogo e o Estado de Roraima afunda a partir da fronteira com a Venezuela.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here