Populares fazem fila em busca de inscrição em cursos na Escola do Legislativo (Foto: Divulgação)
  • A intensa corrida em busca de cursos na Escola do Legislativo, mantida pela Assembleia Legislativa do Estado de Roraima (ALE-RR), revela uma realidade que precisa ser enxergada e ouvida tanto pelo Governo do Estado quanto pela Prefeitura de Boa Vista: a capacitação de jovens e adolescentes para o mercado de trabalho, numa cidade em que a ociosidade leva muitos a ficarem à mercê da marginalidade e do crime organizado.

A recente operação da Polícia Federal, em vários estados, revelou que o crime organizado movimenta uma alta soma de dinheiro proveniente do tráfico de droga e arrecadações internas, o que significa recursos para cooptar adolescentes e jovens ociosos na periferia de Boa Vista. Sem perspectivas, as drogas lícitas e ilícitas são a porta de entrada para o submundo do crime. As facções sabem muito bem disso e têm disputado essa “mão de obra” disponível, graças à imobilidade do poder público, em sua maioria.

Não faz muito tempo, a Prefeitura de Boa Vista tinha importantes programas direcionados às crianças e adolescentes oriundas de famílias de baixa renda, o Meninos do Dedo Verde e a Guarda Mirim. Mas, como tudo que envolve a politicalha tem a tendência de piorar, os programas acabaram extintos, sem protesto por parte do público e sem qualquer cobrança por parte de órgãos que lidam com a infância e a juventude.

Muitos que participaram de tais programas alcançaram uma boa formação profissional e consciência de cidadania, o que os impulsionaram para uma colocação no mercado do trabalho. E também se tornaram pessoas melhores pela socialização que tiveram ao serem inseridas na sociedade por meio do trabalho associado ao rendimento escolar. Mas tudo hoje são apenas lembranças. Uma triste regressão. Em vez de Meninos do Dedo Verde, a prefeitura agora paga milhões a uma empresa paulista para plantar flores (veja mais aqui).

No Governo do Estado, os jovens e adolescentes também foram esquecidos e continuam sem qualquer perspectiva de que consigam apoio vindo de lá. Esses cursos de formação, hoje ofertados pelo Legislativo, deveriam estar sendo realizados também (e principalmente) pelo Governo do Estado. Mas a Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) se tornou um órgão opaco e sem sentido, que antes chegou a desenvolver os programas Menor Aprendiz e o Bolsa Universitária para jovens de baixa renda que faziam faculdades particulares. Hoje, nem arremedo de qualquer programa nesse sentido existe mais.

Não há como o Estado de Roraima vencer os problemas sociais e conter o avanço da criminalidade se não investir na formação de jovens e apoiar o acompanhamento e encaminhamento de adolescentes ao mercado de trabalho, além de apostar maciçamente na Educação de base. De outro lado, sozinho, o Legislativo não vai conseguir atender toda demanda de cursos que a população necessita a fim de se preparar para o mercado de trabalho, na Capital e no interior.

As enormes filas que se têm presenciando na frente da Escola do Legislativo, em Boa Vista, revelam qual é a grade necessidade da população. A grande procura por vagas no programa Abrindo Caminhos, também da Assembleia Legislativa, com atividades para crianças e adolescentes que visam proporcionar-lhes aprendizado e socialização, é outro exemplo da grande sede que a população tem por ações que a acolha e mostre alternativas em um Estado de poucas chances para quem é pobre.

As pessoas não querem viver de favores e esmolas governamentais. Elas querem se preparar para o presente e o futuro. Mas, ao que o cenário indica, os governantes não têm interesse em proporcionar autonomia ao povo. Eles querem eleitores sempre no cabresto a cada dois anos. O fim de programas importantes no Governo do Estado e Prefeitura de Boa Vista, direcionados a crianças, jovens e adolescentes, apontam para isso.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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