Estado de Roraima foi criado em 05 de outubro de 1988, data da promulgação da atual Constituição Federal

 

O Estado de Roraima completa 31 anos de criação, neste 05 de outubro, com uma grande incerteza sobre seu futuro, diante da crise migratória com o êxodo em massa de venezuelanos. Mas, antes dessa embaraçosa realidade, já patinávamos na incerteza e nos contentávamos com repetidas promessas em forma de discurso político do governante da vez.

Nos institucionais de um passado não muito distante, quando ainda éramos Território Federal, Roraima já foi colocado como “terra de oportunidades”. Mas logo a realidade tratou de revelar que, na verdade, boa parte dos políticos transformou o Estado em “terra de oportunistas”, para logo depois o slogan ser reformulado para “terra fértil para a corrupção” (frase dita pelo então presidente da CNBB quando esteve em visita por aqui no início da década de 2000).

A fala do bispo causou indignação por parte da classe política e setores da imprensa,
na época. Mas era a dura realidade que muitos insistiam em não aceitar, pois a população ainda não tinha conseguido superar os anos de paternalismo e assistencialismo como política oficial do governo, implantada no início da década de 1980, a ponto de a população inclusive ter aceitado o maior esquema já visto em terra Macuxi, a “gafanhotagem”, no final da década de 1990, que mantinha na folha de pagamento do governo milhares de pessoas sem trabalhar.

Para muitos, tratava-se da maior distribuição de renda feita por políticos que mamavam nas tetas governamentais (“rouba, mas divide com o povo”). Esses acreditavam que o mesmo arranjo poderia se repetir atualmente, a ponto de colocar de novo no poder o grupo político que idealizou tudo isso. Mas era uma tola ilusão que restou num pesadelo de um governo que nem chegou a concluir seu mandato, sacado por uma intervenção federal, em um ato final com operações da Polícia Federal.

Ainda hoje pagamos um preço caro por tudo, pelas enganações e corrupções sistêmicas. Como se já não bastasse a desgraça de uma “terra arrasada” (novo slogan que perdura até hoje), há cerca de três anos veio a crise migratória venezuelana jamais imaginada por qualquer político ou estudioso. Como tudo já estava arrasado, caímos em um poço maior, que se tornou o principal desafio do Estado e justificativa para tudo de errado que surgir ou que já existia, assim como ocorreu como os nordestinos quando começaram a chegar, na década de 1980, e com os índios da década de 1990, a quem eram atribuídas todas as culpas.

Muito antes disso, enquanto estava sendo cavado o buraco no qual nos metemos, políticos compravam votos na esquina, durante a noite e madrugada, ou abertamente em seus comitês eleitorais, ao mesmo tempo que ninguém ligava para construir uma matriz energética (fomos enganados com a energia de Guri, que ruiu junto com a crise venezuelana), os pequenos empresários e produtores familiares foram preteridos pelos grandes empreendimentos (golpe da fábrica de calçados, golpe da fábrica têxtil, golpe da fábrica de celulose e das acácias etc), enquanto o Estado continuava – e continua – dependendo de recursos federais, vivendo com o pires na mão em Brasília.

É desse buraco que Roraima tenta sair nesses 31 anos de Estado, mas hoje com um governo que nitidamente privilegia os grandes empresários, continuando no erro de esquecer os pequenos que, de fato, geram emprego e renda de imediato no campo e na cidade. Continua de pires na mão em Brasília, sem forças para cobrar que o Governo Federal assuma suas responsabilidades na questão migratória – embora tenha sinalizado recentemente reforço na interiorização dos estrangeiros.

Enquanto não encontrar solução para ao menos amenizar a crise migratória e resolver os principais gargalos, como questão energética, questão agrária (outro histórico problema negligenciado com seguidos golpes) e investimento imediato nos pequenos negócios e na agricultura familiar, o Estado continuará patinando no fundo do poço. E também que haja uma mudança de mentalidade da população, que precisa se desvencilhar do seu passado e aprender com ele.

Na questão migratória, ainda que sejam encontradas alternativas para amenizar a crise, ela será irreversível para mudanças em todas as relações sociais e econômicas, por isso a sociedade terá que aceitar a nova realidade (que não significa aceitar criminalidade, mazelas e outros problemas), assim como ocorreu com os nordestinos e os indígenas, os quais chegavam a ser aviltados publicamente, embora não houvesse ainda redes sociais (houve até música antiindígena lançada no Carnaval).

Precisamos levantar a cabeça, enxergar além do nevoeiro que esconde a luz acima desse poço que nos metemos. Se não agirmos assim, altivos, com inteligência e senso crítico, não conseguiremos construir um Estado melhor para se viver. Não podemos mais neglicenciar nossos problemas nem adiar as soluções. Chegamos ao limite. Basta.

*Colunista

 

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