Área de garimpo em terras indígenas em Roraima. (Foto: ISA)

O discurso de Jair Bolsonaro quando ainda candidato a presidente da República despertou a sanha de quem pensava que poderia voltar o garimpo predatório, explorado por maquinários rasgando o leito de rios e avançando sobre a floresta. Assim também como animou aqueles que sempre acharam que podem explorar o meio ambiente a qualquer custo, sem se preocupar com a preservação, a exemplo de madeireiros ilegais.

Logo após Bolsonaro tomar posse, começou uma das maiores corridas ao garimpo dentro das áreas indígenas de Roraima, em especial na Terra Indígena Yanomami, sob a empolgação de que o novo presidente iria apoiar e permitir essa atividade ilegal pelas legislações brasileira e internacional. O desmantelamento e a desmobilização de órgãos ambientais, a exemplo do Ibama, só reforçaram a falsa ideia de que agora tudo seria permitido nos garimpos e nas florestas.

Para reforçar, houve até um deputado federal roraimense, eleito pela onda bolsonarista, que antes mesmo de assumir discursava nas redes sociais que iria liberar o garimpo em terras indígenas. Foi o sinal verde para que a maior invasão dos anos 2000 ocorresse em busca do falso sonho de ficar rico garimpando ouro em terras indígenas. Isso embalou a ilusão de pais e mães desempregados que se embrenharam nas florestas, sob risco de doenças como malária e a violência que normalmente impera nesses locais, sem polícia nem lei, onde prostituição e tráfico de droga se estabelecem facilmente.

Além da exploração de homens e mulheres em situação de pobreza, submetidos aos donos de maquinários que patrocinam esse tipo de atividade, o garimpo provocou imediatamente graves problemas aos índios, ribeirinhos que vivem de pesca e a todas as populações das cidades banhadas pelos rios cujos afluentes estão sendo agredidos ferozmente pela exploração garimpeira. Entre eles estão os rios Uraricoera e Mucajaí, ambos afluentes do Rio Branco, que por sua vez abastece boa parte do Estado com água potável e é fonte de vida para milhares de ribeirinhos.

Quem pesca nesses rios ou tem eles como local de lazer vem percebendo há muito tempo que a turbidez da água aumentou em níveis alarmantes, de Boa Vista a Caracaraí, com as praias tomadas pela lama advinda da garimpagem em terras indígenas. Se o garimpo não for contido imediatamente, iremos ter sérias consequências em um futuro muito próximo. Isso sem contar com a contaminação da água por mercúrio. Esse é o grande perigo imediato que o garimpo provoca a toda população roraimense.

A manifestação de garimpeiros que pedem a abertura da exploração mineral pode até ser justa, mas jamais irá se concretizar da forma que eles pensam e da maneira que eles vêm sendo ludibriados. A regulamentação do garimpo, que tramita no Congresso há décadas, vai permitir somente a exploração por meio de cooperativas e empresas, geralmente multinacionais com todas as condições para cumprir as fortes exigências ambientais e sociais que a legislação exige. Garimpo com maquinário e bateia não existirá jamais, a não ser como atividade ilegal.

É ouro de tolo o que vem sendo alimentado na cabeça desses pais e mães de família. O garimpo ilegal só dá lucro para donos de maquinários, de aviões e atravessadores do ouro explorado por trabalhadores em regime de semiescravidão. Além de provocar sérios danos ambientais que atingem toda a população roraimense, submetida a riscos de sofrer uma crise hídrica, contaminação da água e do peixe por mercúrio, além de prejuízos socioeconômicos a quem depende das atividades dos rios atingidos pela exploração mineral.

Por fim, parem de mentir aos garimpeiros. Eles precisam de emprego, e não da ilusão que no final só provoca mão de obra escrava, doenças e violência.

*Colunista

 

2 comentários

  1. Eu não entendo a falta de vontade dos poderes em acabar de vez com o garimpo, na verdade o estrago causado é bem maior que o noticiado. Parabéns pela matéria.

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