A nova greve anunciada pelos profissionais de enfermagem reflete a situação da saúde pública estadual, conduzida por um governo que se mostra descomprometido em solucionar os graves problemas que afligem a população. Afinal, nem os políticos muito menos seus familiares dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), precarizado ainda mais pela atual administração.

Além de vontade política e competência, falta coragem do governador Antonio Denarium (PSL) para colocar ordem na casa em um ano de governo. Como ele sempre participou indiretamente das articulações políticas de todos os governos que o antecederam, mesmo pregando ser um “não político”, ele não tem peito para enfrentar os esquemas ali entranhados, ainda que tenham sido denunciados por um ex-secretário e ratificado pela Promotoria da Saúde.

Ainda que o governo tenha determinado que a Polícia Civil abrisse uma investigação, os principais entraves da saúde pública seguem intactos, pois a operação policial em curso atinge apenas uma pequena parte do problema. Denarium se escora nessa artimanha oficial para dizer que está enfrentando a bandalheira no setor. Enquanto isso, ele arrocha no funcionalismo público, negando direitos e melhores condições de trabalho, como forma de compensar o sugamento de recursos que trava as melhorias no atendimento à população (o trabalhador sempre paga a conta).

Ao povo resta a esperança de que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, em atuação na Assembleia Legislativa, alcance a podridão no âmago da saúde, fazendo com que não haja mais desculpas para o governo fazer cessar a esculhambação (porque de vontade própria está provado que isso não ocorrerá) e que a Justiça puna os responsáveis.

Enquanto esperam por socorro, as pessoas mais pobres que dependem exclusivamente da saúde pública comem o pão que o diabo amassou. Doentes crônicos sofrem (alguns morrem) na fila de espera pela liberação do Tratamento Fora de Domicílio (TFD), já que o Estado não tem como atender essas pessoas, ou seus familiares mendigam dinheiro ou fazem campanhas para arrecadar grana para realizar cirurgias fora do Estado ou no serviço público.

As redes sociais estão repletas de famílias buscando ajuda junto a amigos e conhecidos por meio de rifas, feijoadas e vaquinhas online para juntar dinheiro. Ao mesmo tempo, as clínicas particulares estão lotadas, a ponto de os consultórios particulares assemelharem-se a hospitais públicos, muitas vezes de gente que vende seu transporte ou tira dinheiro do orçamento familiar para que não morram na fila do SUS ou do TFD.

E são essas pessoas que irão sofrer ainda mais com a greve marcada pelos profissionais de saúde, enquanto o Governo do Estado finge que atua no combate à corrupção. Significa que, se no governo anterior o desmantelo penalizava quem depende da saúde pública, nesta atual administração a situação apenas complicou e irá penalizar de morte quem não suporta mais esperar por atendimento médico. Vamos pular da frigideira para cair na fogueira.

*Colunista

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