Rio Branco. Foto: arquivo

A interdição da plataforma baixa da Orla Taumanan, no Centro Histórico de Boa Vista, anunciada pela Prefeitura no fim de semana, revela o que já foi comentado aqui, neste espaço, em junho deste ano (veja aqui): há uma suspeita muito séria de erro estrutural na construção daquela estrutura. Um tremor, seguido de um barulho forte semelhante a um estrondo, foi sentido por populares que frequentavam o local, naquela época.

A Prefeitura amenizou o sinal de alerta porque ela sabe que existe, sim, uma fortíssima suspeita de erros na estrutura daquela obra. Quando estava sendo construída, em 2003, um dos pilares que estava sendo levantado para sustentar as duas plataformas desabou, indicando um sério risco. Mas o caso foi abafado e ocultado da imprensa naquela época. Apenas os operários que lá trabalhavam ficaram sabendo e todos foram orientados a não comentar sobre o assunto.

Houve também erro em calcular a altura da estrutura, levando em consideração a cheia do Rio Branco, a ponto de no inverno de 2011 a plataforma baixa, a mesma que está interditada, ter ficado debaixo d’água. Trata-se de um erro grosseiro cometido por uma administração que não costuma ouvir a opinião da população, em especial dos mais antigos que conhecem a realidade das cheias históricas durante o período de chuvas.

E houve também outro erro, este que atentou contra a História e a Cultura do povo roraimense: a orla foi construída em cima do Porto do Cimento, considerado o Berço Histórico de Boa Vista, pois foi a partir de lá que começou a ocupação da cidade. Mas esse ato criminoso contra a História e a Cultura locais seguiu sob a arrogância de seus idealizadores.

Milhões foram gastos para construir a obra e, no ano passado, pelo menos mais R$2,8 milhões acabaram sendo gastos para uma reforma na orla, valor que daria para construir mais escolas ou mesmo um hospital. Como nada é transparente na administração municipal, até hoje ninguém sabe o valor real do que foi gasto na Orla Taumanan.

O que se sabe hoje é que a obra foi construída sob grave suspeita de irregularidade, conforme ação civil de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal, o qual apontou desvio de R$2,8 milhões, valor que faltou para a construção de outras duas plataformas, conforme previa o projeto original. A obra estava orçada em R$8 milhões, mas apenas duas plataformas foram construídas.

Até hoje ninguém ouve mais falar sobre esse assunto. Conforme frisei em outro artigo, o que restam hoje são os pilares que começaram a ser construídos e foram abandonados no leito do rio, em flagrante desperdício de recursos públicos. Os pilares de concretos inacabados só podem ser vistos no período do verão, quando as águas do Rio Branco baixam e permitem visualizar o escândalo que até hoje fica oculto da opinião pública.

Atualmente, uma nova orla está sendo construída pela Prefeitura, na área onde ficava o Beiral, também às margens do Rio Branco, com previsão de custar cerca de R$134,4 milhões. É muita grana em jogo para pouca fiscalização. Só para refrescar a memória, já houve uma ação judicial contestando a licitação de uma das fases dessa obra, o Lote II, no valor de R$52,6 milhões, que já estava em seu segundo aditivo.

Essa é a verdadeira imagem de uma gestão que sempre age de forma oculta, sem transparência. Pior: quase a totalidade dos vereadores fecha os olhos para as ações da administração da prefeita Teresa Surita (MDB), mesmo que ela faça pouco caso de sua base aliada na Câmara. Enquanto isso, as obras milionárias sob suspeita seguem como se fosse algo normal no país que foi às urnas recentemente pedindo moralização na política.

*Colunista

 

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