Enquanto a prefeita Teresa Surita (MDB) desvia a atenção da opinião pública com seus vídeos sobre decretos que dizem respeito ao coronavírus, na surdina ela prorrogava o contrato com a Sanepav até 2021, empresa que recebe R$77 milhões da Prefeitura de Boa Vista para recolher o lixo urbano e fazer serviço de jardinagem nos canteiros e praças da cidade.
A prorrogação foi aos moldes contumazes de sua administração nesses últimos 20 anos à frente do Executivo municipal: sem transparência e sem ampla publicidade. Afinal, trata-se do contrato milionário de uma empresa que vem sendo recontratada ao longo das cinco gestões de Teresa. Com todos os aditivos, pode passar dos R$400 milhões o valor abocanhado pela Sanepav, cuja sede fica em São Paulo.
As cifras que saem dos cofres municipais para São Paulo podem ser muito maiores, uma vez que a Prefeitura de Boa Vista também vem mantendo contratos milionários com outra empresa que pertence ao mesmo dono da Sanepav, a Beta Clean & Service Ltda. Essas empresas vêm sendo contratadas e recontratadas ao longo das duas décadas de administração de Teresa. E tudo no mais absoluto silêncio.
Como na Câmara a maioria dos vereadores baixa a cabeça para Teresa, ela mandou enterrar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar o milionário e suspeito contrato da Prefeitura com a Sanepav. A CPI da Sanepav foi judicializada e provavelmente nem mais haverá tempo para instalá-la em caso de liminar favorável .
Porém, um fato é certo: a administração de Teresa Surita chegará ao fim em dezembro, mas quem for o próximo prefeito ou prefeita ainda continuará pagando a Sanepav no primeiro ano de sua gestão. Ou até mesmo a empresa paulista terá seu contrato renovado, caso o sucessor ou sucessora for o indicado pela atual prefeita, e caso não haja um limpa generalizado na Câmara de Vereadores nas eleições desse ano.
E já surgiram rumores de que, se a Companhia de Águas e Esgoto de Roraima (Caerr) continuar nesse caos atual de desabastecimento por toda a Capital, já existiriam movimentações para privatizar o sistema de abastecimento de água e de esgoto, cuja empresa cotada para assumir o sistema seria ela mesma, a Sanepav. Não seria exagero acreditar nessa possibilidade.
É preciso que a opinião pública e as autoridades estejam atentas a essa possível movimentação. Sabemos que o pânico que se criou sobre o coronavírus desvia a atenção da sociedade. Só o fato de Teresa prorrogar o contrato da Sanepav em meio à pandemia já é o suficiente para temer possíveis manobras. A preocupação com o coronavírus é importante, mas olhos abertos para as maracutaias devem permanecer. Não podemos engolir mais essa.
*Colunista