Prefeita Teresa Surita lançou plano para reabertura gradual do comércio na Capital (Foto: Cláudia Ferreira/PMBV)

Nenhuma novidade ou algo para comemorar no início do plano municipal da reabertura gradual do comércio boa-vistense, a partir desta segunda-feira, 20. O que será dado início hoje é a apenas a regularização do que já vinha sendo feito de forma clandestina e até mesmo de forma escancarada  pelo comércio, inclusive no Centro de Boa Vista, onde a Prefeitura perdeu o controle logo no início da quarentena, em março.

Como a prefeita Teresa Surita (MDB) não aceita dialogar com ninguém, muito menos ouvir a sociedade, o decreto de fechamento do comércio foi apenas um arremedo. Já que se mostrou desorganizada e incompetente para fiscalizar, deveria ter flexibilizado muito antes a fim de tentar organizar a bagunça que ficou, com o comércio abrindo à meia-porta ou mesmo colocando os clientes dentro dos estabelecimentos a portas fechadas.

Logo no início da quarentena, no centro comercial da Avenida Jaime Brasil, por exemplo, começou uma briga de “gato e rato”, com fiscais e guardas municipais tentando fechar as lojas. Parecia a cena do “olha o rapa!” que se vê no comércio ilegal nos centros comerciais de São Paulo. Isso acabou custando caro para trabalhadores, patrões e a sociedade, pois muitos se contaminaram ali, logo no início.

O motivo é que, com a chegada da fiscalização, clientes e vendedores acabavam correndo para dentro das lojas, onde todos ficavam trancados, ou se aglomeravam em algum lugar, para esperar os agentes municipais irem embora. Isso permitiu grandes riscos de contaminações pelo coronavírus, como acabou ocorrendo, inclusive com a morte de pelo menos três donos de estabelecimentos próximos do centro comercial do Caxambu.

Essa cena se repetiu em outros centros comerciais e nos bares das áreas centrais e principalmente nos bairros. Os bares na oculta foram focos de contaminações. A Feira do Produtor acabou por se tornar uma grande fachada, pois, na falta de uma fiscalização eficiente, a cobrança do uso da máscara e higienização dos consumidores nas entradas era apenas uma enganação.

A prefeita pode até alegar que não recebeu ajuda do Governo do Estado na fiscalização. Mas, pudera, pois Teresa achava que iria ser a “senhora Covid”, a poderosa das galáxias, por isso logo abriu uma briga política com o governador Antonio Denarium (sem partido), que visivelmente se mostrava refém do esquema que fora montado historicamente dentro do sistema estadual de saúde.

 

Briga política como fachada

 

Essa briga política Teresa x Denarium tinha dois motivos: fortalecer politicamente Teresa diante das fraquezas de Denarium; e encobrir o histórico descaso com a saúde básica, ou seja, com os postos municipais de saúde, que até então funcionavam apenas para fazer curativos e distribuir dez fichas por dia para marcar exames a fim de encaminhar pacientes para o Hospital Coronel Mota.

Os pacientes com sintomas de coronavírus chegavam nos postos de saúde, em busca de socorro, mas encontravam apenas filas enormes para chegar até o médico, que apenas administrava um antitérmico e mandava o doente para casa, sob a assinatura de um termo para que a pessoa ficasse em isolamento social em casa, e orientado a voltar oito dias depois para realizar o teste para Covid-19. Na verdade, não havia protocolo nenhum, muito menos remédios para enfrentar a doença logo no começo nem sequer testes.

Com o comércio funcionando sem controle algum, com a fiscalização brincando de “gato e rato”, os postos de saúde só mandando os pacientes para casa, sem fazer o teste e sem o kit de medicamentos, os doentes corriam para o já superlotado e colapsado Hospital Geral de Roraima (HGR). E lá começou a mortandade, o caos, o descontrole da pandemia, com Teresa achando que iria sorrir politicamente com toda a desgraça.

Mas não foi exatamente o que ocorreu. Teresa foi chamada à responsabilidade. Ela resistiu, alimentando uma picuinha política, não querendo admitir que a guerra contra o coronavírus estava sendo perdida nos postos de saúde e no descontrole total do comércio. Se tivesse agido desde o início, estruturando os postos de saúde e dialogo com o governo para ajudar na fiscalização e flexibilização do comércio, muitas vidas teriam sido salvas e muito sofrimento teria sido evitado.

É por isso que não há nada a se comemorar na reabertura gradual do comércio hoje. Porque o comércio vem funcionando às ocultas desde o início, servindo como pontos de contaminações, já que não havia controle de nada. Tem mais: embora Teresa tenha feito festa na sua bolha social, o Twitter, com entrega de mais ônibus, isso também não passa de fachada.

 

Enganação com ônibus e apresentação do vice-prefeito

Teresa Surita apresenta o vice-prefeito Arthur Machado (Foto: Reprodução)

Desde o início da pandemia era para a empresa de ônibus estar com 100% da frota funcionando, para transportar a população que continuou trabalhando ou que precisa sair de casa com folga e obedecendo ao distanciamento social. Mas não. Teresa segurou a entrega dos novos ônibus, nove biarticulados, com anos de atraso.

A aquisição de mais ônibus, inclusive com o sistema de transporte coletivo subsidiado, deveria fazer parte de um projeto de mobilidade urbana de verdade há muito tempo, e não esse arremedo apresentado por Teresa, que gastou R$65 milhões oriundos de um empréstimo federal, consumido por um projeto de mobilidade fajuto, sem garantir transporte público de qualidade nem ter conseguido desafogar o trânsito, que está perto de colapsar.

A festa para entregar nove (sim, nove!) ônibus foi cercada de enganação. Não visou a reabertura gradual do comércio. Nada disso. O principal objetivo foi apresentar e testar a popularidade do vice-prefeito, Arthur Machado Filho (MDB), como seu provável candidato à Prefeitura de Boa Vista. Ela quis sentir o que iriam falar dele.

Na gravação do vídeo com Teresa, na entrega do ônibus, ele parecia atônito e nem se lembrava que era vice-prefeito, pois, afinal, essa é a forma que Teresa governa, sem dar chances nem ouvidos a ninguém. O vice estava tão desconexo que só soube elogiar Teresa, que por sua vez logo o corrigiu, dizendo que tudo o que ela faz é em conjunto com seu vice. Grande mentira.

 

Que o caos não se restabeleça de novo

 

O que se espera, daqui para frente, é que o quadro da pandemia fique dentro do controle, pois, se antes a Prefeitura não conseguia organizar nem controlar nada, é possível que as pessoas pensem que o perigo já passou e decrete por ele mesmo o fim da quarenta (aliás, como já vem ocorrendo), mesmo sabendo que foi estipulada uma multa de R$50,00 para quem estiver sem máscara em via pública, no comércio ou órgãos públicos.

É bom frisar: não temos nada a comemorar. Nada irá apagar a dor dos mortos e o sofrimento dos doentes. Só quem acha que tem algo a comemorar é a prefeita Teresa Surita, que não desceu do palanque em nenhum momento durante a pandemia, inclusive furando a quarentena e nunca ter paralisado uma obra milionária sequer, as quais estão sendo tocadas sob regimento de urgência para que Teresa faça uma grande festa política assim que acabar a quarentena.

Dor mesmo só dos familiares de quem morreu e de quem sofreu com o coronavírus…

*Colunista

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