Imagem que ilustrou a reportagem da Época com a denúncia de Magela sobre os "laranjas" de Romero Jucá, em 21.05.2011

Conforme relatou o livro “A Barriga Morreu!” (Loyola; Edição: 1ª, janeiro de 1991), o ex-senador Romero Jucá já havia montado um império econômico a partir de 1988, quando foi nomeado governador biônico do Território Federal de Roraima, por força de suas estreitas relações com mineradoras, madeireiros e grandes grileiros. Reveja artigo aqui.

Naquela época, Jucá era chamado de “o homem dos 35 garimpos”, que seria número de empresas mineradoras controladas indiretamente por ele, através de testas-de-ferro (“laranjas”). Três décadas depois, com três mandatos de senador, esse império só aumentou, conforme reportagem publicada pela revista Época, da Editora Globo, distribuída numa matéria de seis páginas, em 2011.

Isso pode explicar a descompensação de Jucá ao atacar todo mundo toda vez que vai a uma das rádios ligadas ao grupo dele e o comportamento desesperado para tentar voltar ao poder, se passando como prefeito e agindo como se ainda tivesse o mandato de senador. É como se fosse uma síndrome de abstinência por falta de um mandato político.

As seguidas crises sintomáticas sofridas por Jucá podem ser entendidas a partir do império que ele continuou construindo mesmo depois de não conseguir se eleger governador de Roraima, em 1990, durante três décadas seguintes, boa parte delas como senador. Conforme a revista Época, foi montado um verdadeiro império econômico com a ajuda de pelo menos dez empresas ligadas diretamente a parentes e supostos “laranjas’ do  então  parlamentar.

Veja o gráfico publicado pela Época com a lista das dez empresas:

Relações estreitas com a mídia

Nove anos depois da reportagem da Época, houve várias mudanças nessas empresas, como o nome, quadro societário ou mesmo foram vendidas ou desfeitas. Mas três empresas de comunicação costumavam receber recursos públicos do Governo do Estado e da Prefeitura de Boa Vista.

Vem de lá esse poder quase absoluto da família Jucá e de Teresa dentro da mídia local, hoje abalado pela popularização da internet. É por isso que Jucá tem microfones abertos a qualquer hora para atacar quem ele elege como inimigo.

As empresas Buritis Comunicações, TV Imperial Sociedade Ltda e Sociedade Rádio Equatorial recebiam verba para divulgação de institucionais. A Prefeitura de Boa Vista já mantinha contrato com agência de publicidade para veiculação de institucionais nessas empresas.

Com a empresa Diagonal Urbano Consultoria, que tem sede em São Paulo, haviam contratos assinados por Teresa, entre os anos de 2001 e 2005. Um deles firmado com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, no valor de R$ 1.823.240,00, para o período de 2001 a 2002. A finalidade seria a pesquisa e diagnóstico, elaboração de estudo e de planos locais de ação integrada, entre outras.

O segundo contrato, firmado para auxiliar a implantação do programa Braços Abertos da Prefeitura, para atender a Secretaria Municipal de Gestão Participativa e Cidadania, teve o valor de R$ 7.279.845,65 para o período de 2002 a 2005. O programa até hoje é usado por Teresa por traçar um diagnóstico preciso das condições socioeconômicas da população de Boa Vista.

 

Lobista foi quem ‘dedurou’ Jucá

Em entrevista à Época, Geraldo Magela admitiu ser laranja de Jucá e ter buscado dinheiro para ele com doleiro (Foto: Divulgação/Época)

A reportagem da Época teve como fonte o lobista Geraldo Magela, que afirmou ter sido “laranja” de Jucá e entregou documentos, além de repassar informações que apontam Jucá com ilícitos, a exemplo da aquisição de um apartamento em Brasília, por meio de um contrato de gaveta com a empresa Via Engenharia, e uma negociação pontuada por mistérios, revelada pela Época.

Magela também denunciou que o parlamentar possuía ligações com doleiros, tanto de Roraima quanto de outros estados, e alegou que o motivo seria o pagamento apenas em espécie exigido pelas negociações e transações no meio político.

Conforme a reportagem, Magela, a principal testemunha contra Jucá, também é pernambucano e conheceu Jucá no final dos anos 70, quando ambos trabalhavam na Prefeitura do Recife. No governo de José Sarney, Magela virou assessor de Jucá na Fundação Nacional do Índio (Funai).

Quando Jucá se elegeu ao Senado, em 1994, Magela fazia lobby para empresas da indústria farmacêutica e passou a frequentar o gabinete do amigo. Anos depois, em 1999, Jucá pediu a Magela que criasse uma empresa para administrar a TV Caburaí, retransmissora da Rede Bandeirantes em Roraima. A concessão da TV estava em nome de uma fundação, cujo presidente era contador de Jucá.

“Criei a empresa e fizemos um contrato de boca, um acordo de cavalheiros”, disse Magela. “O nome do Romero não podia aparecer, por isso entrei como laranja. Eu administraria a TV, que estava em dificuldades financeiras, e ficaria com 20% a 30% do lucro. A ideia era usar o canal para fazer propaganda política para a campanha de Teresa Jucá (então mulher do senador) à Prefeitura de Boa Vista”, frisava o trecho da reportagem.

 

Corrida maluca vem de longas datas

Trecho do livro “Barriga morreu!” que fala sobre Jucá (Imagem: Reprodução)

Esse atual comportamento de Romero Jucá depois que não conseguiu se reeleger senador o acompanha por muito tempo devido à sede insaciável pelo poder. O livro “A Barriga morreu!” relatou o comportamento tresloucado de Jucá, às vésperas de deixar o Governo do Território Federal de Roraima, para poder concorrer às eleições que iriam eleger o primeiro governador de Roraima já como Estado.

Conforme o livro, um mês antes de se desincompatibilizar, Jucá “dedicou-se a uma louca corrida para inaugurar obras fantasmas, não concluídas ou ilicitamente licitadas”. “Improvisamente Roraima descobriu que tinha escolas, bancos, hospitais, estradas, parques, pontes, até unidades”, assinalou o escritor.

Essa “corrida maluca” está sendo feita atualmente depois que ele deixou de ser senador, agora usurpando a imagem de prefeito de Boa Vista e perambulando pela Capital e interior como se ainda fosse senador. Na sexta-feira passada, por exemplo, ele seguiu com sua “correria” e “inaugurou” uma quadra de esporte no complexo Ayrton Senna.

Romero Jucá e Teresa Surita na inauguração de sexta-feira: Teresa tem Jucá como seu mentor e mestre (Imagem: Reprodução)

Tudo isso para tentar manter seu poder político na Prefeitura de Boa Vista e, nas eleições de 2022, tentar voltar ao Senado e conseguir as chaves dos cofres do Governo de Roraima. Falta só combinar com o eleitor.

*Colunista

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